domingo, 10 de junho de 2012

O DEUS DA CARNIFICINA DE ROMAN POLANSKI


DEUS DA CARNIFICINA DE ROMAN POLANSKI

CARNAGE, FRANÇA,ESPANHA, ALEMANHA, POLONIA, 2011, 80 MIN.

ELENCO:

JUDY FOSTER – PENELOPE

KATE WINSLET – NANCY

JOHN REILLY – MICHAEL

CHRISTOPH WALTZ - ALAN  

Este é, sem dúvida, um dos filmes mais interessantes do ano e uma comédia, para muitos, de tirar o fôlego. Baseado na cultuada peça homônima de Yasmina Reza, que foi roteirista junto com Polanski, trata do politicamente correto, chatíssimo em seu auge, e da afloração de instintos preservadores do ser humano quando ameaçado. Polanski dá vida a esse filme que se passa dentro de um apartamento. Na cena inicial, temos uma exceção. Em um parque do Brooklin, garotos de 11 anos estão brincando e um deles porta um pedaço fino de galho de árvore. Há uma discussão e esse menino se defende com o galho, batendo no rosto de outro garoto, que se fere. Esse parque aparecerá na última cena com uma solução irretocável. A próxima tomada é no apartamento de Penélope, Judy Foster, incorporando maravilhosamente bem o papel da mãe zelosa e politicamente corretíssima. Seu filho é que ficara ferido e ela chama os pais do agressor para “conversarem” sobre o assunto. Trata-se de uma retratação, mas não de qualquer uma. Michael e Penélope pertencem à classe média, com um bom apartamento, coberto por livros de arte e uma cozinha bem equipada com todos os aparatos possíveis.  O marido é um vendedor de acessórios para o lar, bonachão e de bem com o mundo, orgulhoso de sua culta mulher. O outro casal, Kate Winslet e Christoph Waltz, como sempre magnífico, pertencem a uma camada um pouco mais elevada. São muito bem vestidos, ela com blusa de seda e uma elegante saia, ele com um terno bem cortado e uma caríssima capa de chuva. Alan é um esperto advogado de uma indústria farmacêutica, que está com um problema de efeitos colaterais em um de seus medicamentos. A princípio, enquanto Penélope digita um texto sobre o ocorrido, é por vezes repreendida por ele, pelas palavras um tanto pesadas para uma briga entre garotos. Os quatro tentam mostrar o melhor de si. Contudo, Penélope, não quer só isso, deseja que o menino venha em sua casa e se desculpe pessoalmente, para que mais tarde seja um cidadão de verdade. Essa linha de conduta da anfitriã vai num crescendo, depois de lhes oferecer uma torta e café. O advogado devora tudo que lhe é oferecido, nunca largando o celular que toca a cada minuto. Os homens parecem se entender melhor do que as mulheres, pois são menos rígidos. No passar dos oitenta minutos do filme, muito bem dirigido por Polanski, com uma câmera nervosa e ágil que enfoca sempre aquele que tem algo a declarar, a pele dos personagens vai se abrindo e vão surgindo os ditames do antigo Deus da Carnificina. Bebem muito e isso ajuda a se soltarem com tiradas fantásticas, as quais atingem os espectadores em cheio, como uma tapa. Impossível ficar indiferente às situações tão reais no cotidiano de cada um de nós, nossos segredos mais bem guardados, as desavenças entre os casais e entre sexos, enfim é o mais humano que aflora nesses diálogos rápidos e que não param de lançar sua acidez. Fantástico filme, que não pode ser perdido! As atuações são magistrais com esses quatro grandes atores. O figurino e cenário ajuda muito a reforçar as diferenças dos casais. Roman Polanski começou a escreveu esse filme contundente durante seu exílio, na Suíça, por um abuso sexual cometido em 1977. Outros filmes primorosos do diretor são os inesquecíveis O Bebê de Rosamary, A Morte e a Donzela, Repulsa ao Sexo entre outros, sempre polêmicos. 

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