DEUS DA CARNIFICINA DE ROMAN POLANSKI
CARNAGE, FRANÇA,ESPANHA, ALEMANHA, POLONIA, 2011, 80 MIN.
ELENCO:
JUDY FOSTER
– PENELOPE
KATE
WINSLET – NANCY
JOHN REILLY
– MICHAEL
CHRISTOPH
WALTZ - ALAN
Este é, sem dúvida, um dos filmes
mais interessantes do ano e uma comédia, para muitos, de tirar o fôlego.
Baseado na cultuada peça homônima de Yasmina Reza, que foi roteirista junto com
Polanski, trata do politicamente correto, chatíssimo em seu auge, e da
afloração de instintos preservadores do ser humano quando ameaçado. Polanski dá
vida a esse filme que se passa dentro de um apartamento. Na cena inicial, temos
uma exceção. Em um parque do Brooklin, garotos de 11 anos estão brincando e um
deles porta um pedaço fino de galho de árvore. Há uma discussão e esse menino
se defende com o galho, batendo no rosto de outro garoto, que se fere. Esse
parque aparecerá na última cena com uma solução irretocável. A próxima tomada é
no apartamento de Penélope, Judy Foster, incorporando maravilhosamente bem o
papel da mãe zelosa e politicamente corretíssima. Seu filho é que ficara ferido
e ela chama os pais do agressor para “conversarem” sobre o assunto. Trata-se de
uma retratação, mas não de qualquer uma. Michael e Penélope pertencem à classe
média, com um bom apartamento, coberto por livros de arte e uma cozinha bem equipada
com todos os aparatos possíveis. O
marido é um vendedor de acessórios para o lar, bonachão e de bem com o mundo,
orgulhoso de sua culta mulher. O outro casal, Kate Winslet e Christoph Waltz, como
sempre magnífico, pertencem a uma camada um pouco mais elevada. São muito bem
vestidos, ela com blusa de seda e uma elegante saia, ele com um terno bem
cortado e uma caríssima capa de chuva. Alan é um esperto advogado de uma indústria
farmacêutica, que está com um problema de efeitos colaterais em um de seus
medicamentos. A princípio, enquanto Penélope digita um texto sobre o ocorrido,
é por vezes repreendida por ele, pelas palavras um tanto pesadas para uma briga
entre garotos. Os quatro tentam mostrar o melhor de si. Contudo, Penélope, não
quer só isso, deseja que o menino venha em sua casa e se desculpe pessoalmente,
para que mais tarde seja um cidadão de verdade. Essa linha de conduta da
anfitriã vai num crescendo, depois de lhes oferecer uma torta e café. O
advogado devora tudo que lhe é oferecido, nunca largando o celular que toca a
cada minuto. Os homens parecem se entender melhor do que as mulheres, pois são
menos rígidos. No passar dos oitenta minutos do filme, muito bem dirigido por
Polanski, com uma câmera nervosa e ágil que enfoca sempre aquele que tem algo a
declarar, a pele dos personagens vai se abrindo e vão surgindo os ditames do
antigo Deus da Carnificina. Bebem muito e isso ajuda a se soltarem com tiradas
fantásticas, as quais atingem os espectadores em cheio, como uma tapa.
Impossível ficar indiferente às situações tão reais no cotidiano de cada um de
nós, nossos segredos mais bem guardados, as desavenças entre os casais e entre
sexos, enfim é o mais humano que aflora nesses diálogos rápidos e que não param
de lançar sua acidez. Fantástico filme, que não pode ser perdido! As atuações
são magistrais com esses quatro grandes atores. O figurino e cenário ajuda
muito a reforçar as diferenças dos casais. Roman Polanski começou a escreveu
esse filme contundente durante seu exílio, na Suíça, por um abuso sexual
cometido em 1977. Outros filmes primorosos do diretor são os inesquecíveis O
Bebê de Rosamary, A Morte e a Donzela, Repulsa ao Sexo entre outros, sempre
polêmicos.
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