terça-feira, 8 de setembro de 2015

DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA DE BENOIT JACQUOT






JOURNAL D’UNE FEMME DE CHAMBRE, FRANÇA-BÉLGICA, 2015, 96 MIN., DRAMA
ELENCO:
LÉA SEYDOUX – CÉLESTINE
VICENT LINDON – JOSEPH
Este ótimo filme, dirigido por Benoit Jacquot, também foi anteriormente escolhido por dois diretores geniais, em 1947 Jean Renoir e em 1960 Luis Buñuel. O filme ganha uma interpretação muito especial da belíssima e talentosa Léa Seydoux, Célestine, e uma direção impecável e contemporânea. Baseado em um dos melhores romances do escritor francês Octave Mirbeau (1948-1917), foi publicado na virada do século 19 para o 20, precisamente em 1900. A história fez sucesso na publicação por tocar em um assunto muito recorrente e sério nesse período, a investida imoral da classe dominante, a burguesia, em suas domésticas e “pessoas de casa” como se dizia na época. Também estava para ser encerrado o polêmico caso Dreyfus, um oficial de origem judaica do exército francês, em 1894, dando liberdade ao acusado. Esses componentes tão importantes dão o tom do romance e do filme. Ele começa com a bela Céline, vinda de um emprego em Paris, sendo selecionada por uma agente para trabalhar em uma mansão na Provence (interior). Acostumada com a cidade reluta em aceitar sua nova posição como femme de chambre, mas acaba aceitando o emprego, uma vez que em Paris a situação estava difícil. Por sua grande beleza e requinte é sempre rejeitada e maltratada pelas patroas e assediada pelos patrões, como se fosse uma pequena escrava da casa e da cama. Isso muitas vezes levava as jovens à prostituição.  Agora na casa dos Lanlaires não é diferente, pois o senhor vive cercando-a pelos cantos da casa, fazendo propostas nada decentes. Ele é bonachão, mas sua mulher muito má e com um irritante sino, preso à cintura, nunca para de tocá-lo pedindo a Céline várias tarefas ao mesmo tempo, com tom autoritário. Realmente os empregados não passavam de escravos modernos, dormindo em lugares ultrajantes e comendo uma comida de péssima qualidade e aparência. Faz-nos lembrar do quartinho da empregada Val (Regina Casé), do filme recentemente postado neste blog. O roteiro é distribuído em flashbacks que nos revelam sua jornada na França de então. Já havia morado à beira mar, quando cuidava do jovem tuberculoso, George, tendo sido escolhida por sua avó. Ela o admirava por sua bondade e beleza, mas ao ceder aos seus caprichos, ele sucumbe. Quando tinha apenas 12 anos fora estuprada e desde então essa prática havia se tornado comum, o que rendeu experiência para se safar da situação. Vizinha de um coronel que também assedia sua empregada, passa a ter uma rotina de vida e se compadece da pobre cozinheira, uma jovem gorda e carente de carinho, aceitando as abordagens do patrão em troca de afeto. Existe na casa um homem soturno e que nunca lhe dirige a palavra, Joseph, o jardineiro fascista, que odeia os judeus e trabalha, em troco de dinheiro, com a igreja católica. Ele vem urdindo um plano de liberdade financeira e ao longo do tempo e quando Célestine passa a venerá-lo, enamorado, propõe que ela o siga em seu plano, mas não a pede em casamento, apesar de ter amealhado uma soma considerável de dinheiro. Ela, apesar de apaixonada, resolve refletir sobre o caso e acabam roubando juntos todos os pertences da casa.  Joseph era o braço direito dos patrões e cegamente considerado. O caso é encerrado por falta de provas. Com muita perseverança e paciência o casal consegue, finalmente, a chave para o futuro - uma pousada em uma cidade de porto bastante movimentada. O guarda-roupa é primoroso. A direção, as ótimas atuações e a beleza natural de Léa Seydoux, que nos cativa tanto, torna-o imperdível.

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