JOURNAL D’UNE FEMME DE CHAMBRE, FRANÇA-BÉLGICA, 2015, 96
MIN., DRAMA
ELENCO:
LÉA SEYDOUX – CÉLESTINE
VICENT LINDON – JOSEPH
Este ótimo filme, dirigido por
Benoit Jacquot, também foi anteriormente escolhido por dois diretores geniais,
em 1947 Jean Renoir e em 1960 Luis Buñuel. O filme ganha uma interpretação
muito especial da belíssima e talentosa Léa Seydoux, Célestine, e uma direção
impecável e contemporânea. Baseado em um dos melhores romances do escritor
francês Octave Mirbeau (1948-1917), foi publicado na virada do século 19 para o
20, precisamente em 1900. A história fez sucesso na publicação por tocar em um
assunto muito recorrente e sério nesse período, a investida imoral da classe
dominante, a burguesia, em suas domésticas e “pessoas de casa” como se dizia na
época. Também estava para ser encerrado o polêmico caso Dreyfus, um oficial de
origem judaica do exército francês, em 1894, dando liberdade ao acusado. Esses
componentes tão importantes dão o tom do romance e do filme. Ele começa com a
bela Céline, vinda de um emprego em Paris, sendo selecionada por uma agente
para trabalhar em uma mansão na Provence (interior). Acostumada com a cidade
reluta em aceitar sua nova posição como femme de chambre, mas acaba aceitando o
emprego, uma vez que em Paris a situação estava difícil. Por sua grande beleza
e requinte é sempre rejeitada e maltratada pelas patroas e assediada pelos
patrões, como se fosse uma pequena escrava da casa e da cama. Isso muitas vezes
levava as jovens à prostituição. Agora
na casa dos Lanlaires não é diferente, pois o senhor vive cercando-a pelos
cantos da casa, fazendo propostas nada decentes. Ele é bonachão, mas sua mulher
muito má e com um irritante sino, preso à cintura, nunca para de tocá-lo
pedindo a Céline várias tarefas ao mesmo tempo, com tom autoritário. Realmente
os empregados não passavam de escravos modernos, dormindo em lugares
ultrajantes e comendo uma comida de péssima qualidade e aparência. Faz-nos
lembrar do quartinho da empregada Val (Regina Casé), do filme recentemente
postado neste blog. O roteiro é distribuído em flashbacks que nos revelam sua
jornada na França de então. Já havia morado à beira mar, quando cuidava do
jovem tuberculoso, George, tendo sido escolhida por sua avó. Ela o admirava por
sua bondade e beleza, mas ao ceder aos seus caprichos, ele sucumbe. Quando
tinha apenas 12 anos fora estuprada e desde então essa prática havia se tornado
comum, o que rendeu experiência para se safar da situação. Vizinha de um
coronel que também assedia sua empregada, passa a ter uma rotina de vida e se
compadece da pobre cozinheira, uma jovem gorda e carente de carinho, aceitando
as abordagens do patrão em troca de afeto. Existe na casa um homem soturno e
que nunca lhe dirige a palavra, Joseph, o jardineiro fascista, que odeia os
judeus e trabalha, em troco de dinheiro, com a igreja católica. Ele vem urdindo
um plano de liberdade financeira e ao longo do tempo e quando Célestine passa a
venerá-lo, enamorado, propõe que ela o siga em seu plano, mas não a pede em
casamento, apesar de ter amealhado uma soma considerável de dinheiro. Ela,
apesar de apaixonada, resolve refletir sobre o caso e acabam roubando juntos
todos os pertences da casa. Joseph era o
braço direito dos patrões e cegamente considerado. O caso é encerrado por falta
de provas. Com muita perseverança e paciência o casal consegue, finalmente, a
chave para o futuro - uma pousada em uma cidade de porto bastante movimentada. O
guarda-roupa é primoroso. A direção, as ótimas atuações e a beleza natural de
Léa Seydoux, que nos cativa tanto, torna-o imperdível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário