sábado, 13 de fevereiro de 2010

A FITA BRANCA DE MICHAEL HANEKE














Segundo entrevista do diretor para o jornal O Estado de São Paulo, Haneke quis fazer um filme que falasse sobre a Alemanha no período anterior ao nazismo, passa-se em 1913. “Queria falar sobre o pré- nazismo e como uma sociedade repressora deformou a mentalidade de uma geração que aderiu sem autocrítica aos ideais de Hitler.” Nesse ovo de serpente acalentado pelo calor do sol nasceu esse drama belíssimo em preto e branco que nos mostra o perigo de uma sociedade patriarcal indiscutível, onde, com as tensões existentes na época, poderia facilmente gerar um regime autoritário. Um narrador idoso nos guiará pelos mistérios do filme; trata-se do professor de uma aldeia alemã, cujas terras pertenciam a um poderoso Barão que tinha mão de ferro sobre seus funcionários, os quais o temiam e obedeciam cegamente, pois não haveria outro meio de subsistência para eles e suas famílias numerosas. Começamos com um homem a galope em seu cavalo, sofrendo um acidente quase fatal. Uma fina corda de aço havia sido colocada perto de sua propriedade e sem percebê-la o cavalo esbarra e cai morto e o cavaleiro vai parar em um hospital por algum tempo. Era um médico viúvo com filhos e assistido pela parteira da cidade, que acaba sendo seu braço direito profissionalmente. Uma série de outros acidentes contundentes, sempre envolvendo filhos ou empregados das pessoas mais ricas da vila, vai se sucedendo. A mulher de um colono é morta em um “acidente” e durante a festa da vasta colheita na fazenda do Barão, sua plantação de repolhos é ceifada. A baronesa, assustada, parte para a Itália, quando seu filho é misteriosamente espancado. Todos esses fatos vão aguçando a curiosidade do jovem professor narrador, encarregado pela educação de todas as crianças. Desde o início da história, nossa atenção e tensão são elevadas ao máximo, pela maneira como é conduzida e pela beleza das imagens tão calmas em contrate com os fatos tão violentos. O Barão é um homem amargo e autoritário, como existiam naquela época tanto na Europa como aqui no Brasil pós- escravocrata, onde sua autoridade jamais era argüida e seus empregados, suas mulheres e crianças eram tratadas para obedecer e aceitar os fatos sem questionamentos. Esse talvez seja o ponto forte do filme, pois os filhos das casas, sempre em grande número, são loiros, belos e assustados, mas não deixavam de se arriscar a se ajudarem, pois esse é um sentimento natural de crianças que querem ser felizes. O médico, o administrador e o pastor são os personagens que dão vida a esse comportamento tão arrogante e sem compaixão. Os fatos aterrorizantes vão acontecendo até que apareça um bilhete que os ameaça de vingança sobre seus descendentes até a terceira ou quarta geração. Depois do exílio na Itália a família pertencente à realeza volta, mas logo a Primeira Guerra Mundial inicia-se na Sérvia. Além dos fatos psicossociais esse filme traduz como nenhum outro as conseqüências do autoritarismo no comportamento das sociedades. Mesmo, hoje, temos o terrorismo baseado fortemente em pensamentos e dogmas que são seguidos sem argumentações ou questionamentos de seus seguidores.
A fita branca amarrada no braço das crianças significa a pureza e inocência que devem ser mantidas por elas. O elenco é formado por atores profissionais e não profissionais, com uma representação incrivelmente real. As fontes de pesquisa foram jornais, livros e fotos de época. O filme ganhou a Palma de Ouro de melhor filme de 2009 e melhor diretor. Indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro e fotografia.
Elenco: Susanne Lothar, Ulrich Tukur, Burgard Klaussener, Christian Friedel

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