quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O QUE RESTA DO TEMPO DE ELIA SULEIMAN












THE TIME THAT REMAINS ELIA SULEIMAN
Cuidado spoilers

Esta ótima comédia dramática, escrita e dirigida por Elia Suleiman, relata quatro períodos de sua vida com a família, quando da fundação do Estado de Israel. É parte de sua biografia, inspirada em relatos de seu pai, um lutador da resistência contra a invasão de Israel sobre a Palestina em 1948, e ainda cartas de sua mãe aos parentes que foram obrigados a fugir do lugar. O filme começa com um taxista totalmente desorientado, em uma noite de tempestade, que tem como passageiro uma figura indefinida. Não tendo a quem recorrer o motorista para seu carro e espera que algo o ajude. Nesse momento começa verdadeiramente o filme, que é composto de cenas estáticas, repetições contínuas e o rosto inexpressivo do herói e esse conjunto contribui para o humor refinado tipo “Jaques Tati”. Temos quatro fases de sua vida. A primeira, em 1948, inicia-se com israelenses invadindo as quietas e belas ruas de Nazaré, aprisionando, matando e saqueando as casas, exatamente como ocorrera com eles próprios nos terríveis anos do nazismo na Alemanha de Hitler. Elia é um garoto que tem opiniões precisas sobre a guerra, influenciado por seus pais. A vizinhança é tomada pelo medo, mas a vida cotidiana precisa continuar e é apresentada de modo suave, mas com ótimas pitadas de humor. Encaminhamo-nos para uma época mais avançada em que Elia já é um adolescente maduro e ativista político, morando com seus pais que não desanimam, pois Fuad Bakri (belo Saleh Bakri) é também fabricante de armas. Cenas inteligentes como Fuad pescando todas as noites com um amigo, em frente ao mar, não sendo nunca molestados pelos guardas inimigos são cômicas. Na verdade, descobrimos que não são peixes que pescam, mas armas contrabandeadas do Líbano! Quando isso vem à tona, eles têm que tomar novos rumos. Nosso Eli Suleiman é obrigado a deixar o país. Nesse ínterim outras cenas críticas e engraçadas ocorrem, como um tanque de guerra que percorre uma estreita e pacata rua, apontando o enorme canhão para um jovem que vai jogar o lixo na calçada, atravessando a rua. Nesse momento toca seu celular e ele começa a falar e caminhar a um só tempo e o canhão movimenta-se o tempo todo perto de sua pessoa, sem que o palestino mostre o menor temor ou consciência da presença deste. Após anos, Suleiman finalmente volta a sua casa com um rosto sem qualquer expressão, um observador mudo. Sua família está envelhecida e ele um homem maduro. A mãe quase não mais interage com seus familiares e Elia faz tudo para vê-la mais feliz. Contudo, sendo diabética, é hospitalizada. Ao visitá-la na clínica, a Sra. Suleiman tira o oxigênio que a mantinha viva e ele pode ver uma foto de seu pai jovem, a qual sempre mantinha em suas mãos. Suleiman respeita sua vontade e ela falece. Em seu caminho de volta, notamos que o passageiro do taxi do início da história é o herói do filme.
Um trabalho muito sensível e triste, sem nunca sair da linha humorística. Escrito, dirigido e atuado, na vida adulta, por Elia Suleiman, mostrando o lado palestino, nazareno dessa inacreditável guerra que dura até os dias de hoje, 2010! Os palestinos continuam sendo minoria em sua terra natal e chamados de árabes-israelenses. O filme recebeu dois prêmios e duas indicações. Para melhor apreciá-lo devemos nos ater também às cenas de humor que fazem todo o diferencial à platéia.

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