terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O PRIMEIRO QUE DISSE DE FERZAN OZPETEK








MINE VAGANTI, Itália, 2010, 110 minutos
ELENCO:
Tomasso Cantone (Riccardo Scamarcio)
Antonio Cantone (Alessandro Preziosi)
Pai (Ennio Fantastichini)
Avó (Ilaria Occhini)
Alba Brunetti (Nicole Grimaudo)

Alguns jornais classificam Mine Vaganti como comédia, mas é muito mais. É um drama com pontuações de comédia. Esse ótimo filme de Ferzan Ozpetek, aborda o teatro da vida, onde temos que representar papéis específicos para que sejamos bem aceitos pela sociedade. É uma trama que se passa na cidade de Lecce. O jovem Tomasso, morando em Roma e pretendo ser escritor, passa uns dias com sua rica família Cantone, dona de um pastifício. Eles moram numa mesma casa, com o irmão mais velho, Antonio, que ajuda o pai a tocar a fábrica, uma tia alcoólatra e a avó (ótima Alba Brunetti). O filme inicia-se com belas cenas de uma jovem vestida de noiva, correndo por um olival, quando se encontra com um rapaz. Ela saca uma arma e ouve-se um tiro. Essa noiva é a avó, cuja história de amor frustrado será contada em paralelo. Tomasso mentiu para a família que estudaria administração em Roma, mas na verdade estou letras e já havia rascunhado um livro, que fora enviado para uma editora. Ele é gay e mora com seu namorado, por quem é apaixonado. A tradicional família italiana de machões jamais aceitaria ter um filho gay, então ele recorre a seu irmão mais velho para desabafar e contar sua história de vida. Para surpresa da platéia ele também é homossexual e aproveita-se da idéia de seu irmão, que contaria a verdade em um jantar familiar, onde estaria o sócio do pai, a esposa e a lindíssima filha Alba Brunetti, que acabaria se apaixonando por Tomasso. Antonio pede a palavra durante a refeição e revela sua opção sexual. Todos riem muito acreditando ser uma piada, contudo ao ver a seriedade do filho, Ennio expulsa-o de casa, tem um enfarte e vai parar em um hospital. O talentoso ator Ricardo Scamarcio, protagonista, vê-se desesperado, pois teria que assumir o lugar do irmão com Alba e tocarem a firma juntos. Sem a menor aptidão para a gerência conta com a ajuda da irmã e Alba. O casal irá comunicar-se com espontaneidade e suas mazelas serão discutidas com grande franqueza. Contudo Alba e Tomasso estão sempre trocando olhares de carinho e amor, pois seriam o par perfeito não fosse a opção do jovem. À medida que transcorre a trama dessa família disfuncional, a história da avó vai sendo contada e ela já havia percebido a preferência dos netos, o desencanto do filho e da nora e principalmente o amor de Alba, dizendo-lhe que um amor impossível é o que marca na vida, como a dela própria, obrigada a se casar com um homem quando amava outro, o cunhado. A parte cômica desse trabalho vem com o grupo de rapazes gays, amigos e o namorado de Tomasso, que visitam de surpresa a família. As situações são embaraços e engraçadas. A liberdade de escolha de vida, de profissão, de identidade, a ética social e a felicidade são elementos amplamente discutidos no filme, onde se abre um leque para que possamos refletir sem preconceitos. O desfecho da passagem de Ilaria Occhini é fantástico, pois sua morte a satisfaz com imensa doçura. Assistindo o filme você verá o porque. Com perda tão grande e premeditada a avó fará com que seus descendentes reflitam o papel exato do termo “família” e possam ser mais felizes e honestos com suas prioridades.

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