domingo, 15 de maio de 2011

SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA DE MANOEL DE OLIVEIRA










Portugal/França/Espanha, 2009, 63 minutos
ELENCO:
Macário – Ricardo Trepa
Luísa – Catarina Walleinstein

Esse excelente filme do jovem centenário de 102 anos, Manoel Cândido Pinto, se apropria de um conto de Eça de Queiroz, 1874, para nos assombrar com a atualidade da obra. Passa-se na Lisboa atual, porém o português de Portugal - agradável de ser ouvido – é legendado de maneira mais moderna. Uma pena! Essa curta história tem como elementos principais temas bem atuais como a impessoalidade, a inflexibilidade humana, a paixão e o dinheiro. O filme começa dentro de um trem e não tem pressa. Os créditos vão sendo mostrados à medida que um fiscal vai perfurando as passagens dos viajantes. Dentre eles, uma senhora de meia idade com um rosto risonho e bonito e ao seu lado o jovem Macário. Ele a aborda para desabafar sua história de amor, que o sufoca e consome. Recebendo-o com carinho e interesse pede para que comece a contá-la o mais rápido possível. Ele se classifica como um “contador sentimental” e um “banco pobre”. Trabalhava em Lisboa com o tio, rico proprietário e negociante de tecidos, como contador. Seu escritório situa-se no mesmo plano de uma janela com cortina translúcida. Atrás dela há três mulheres: a mãe, um belo quadro com o rosto de uma mulher e finalmente a rapariga loura do título, Luísa, a filha. Ele se apaixona perdidamente por ela, ao observá-la pela janela de sua casa com um lindo leque chinês, estampado com um dragão e enfeitado com arminho. Os dois trocam olhares lânguidos e simulados. Ora ela o encara cobrindo parte do rosto, ora com o rosto descoberto, mas o olhar distante. Surge uma paixão imediata entre eles. Luísa é quase uma Menina e assim passa a ser chamada por Macário. Seu desejo é casar-se imediatamente, mas o tio, ao saber dos encontros, manda-o embora da casa e o despede o emprego. Sem emprego e boicotado pelos amigos do tio vê-se forçado a trabalhar em Cabo Verde, a pedido de um amigo, a fim de fazer fortuna e voltar bem sucedido. As cenas são verdadeiras pinturas clássicas, com enquadramentos perfeitos, cores belíssimas e móveis e objetos de época. O primeiro encontro entre o casal dera-se no Círculo Eça de Queiroz, um local grandioso, que é filmado com precisão milimétrica. Tem-se a impressão de estar em um grande museu, com quadros que contam uma história. Depois de algum tempo, Macário volta triunfante e pede a mão de Menina em casamento. É aceito, mas havia sido fiador do amigo que o enviara para Cabo Verde. A partir desse momento a trama segue por si só para um desfecho típico da inteligência e genialidade de Eça. Manoel de Oliveira conta a narrativa com maestria e é elogiado pelo elenco e por seu neto, Ricardo Trepa. Nesse final inesperado vemos o poder do dinheiro, a inflexibilidade humana diante de uma adversidade pessoal e suas consequências. Na cena que fecha o filme o trem segue sua viagem, até que despareça numa curva à direita. Esse belo trabalho foi incluído como um dos dez melhores filmes de 2009 pela famosa revista “Cahiers du Cinéma”. O diretor, apesar da idade continua com projetos de trabalho, tomara que consiga realizá-los. Vocês podem ver, nas imagens acima, uma fotografia de Oliveira e se surpreenderão como ele é jovem.

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