segunda-feira, 5 de setembro de 2011

MEDIANERAS – BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL DE GUSTAVO TARETTO












MEDIANERAS, ARGENTINA/ESPANHA/ALEMANHA 2011, 95 MIN.
COMÉDIA DRAMÁTICA
ELENCO:
JAVIER DROLAS – MARTÍN
PELAR LÓPEZ DE AYALA – MARIANA

Esse ótimo filme dirigido pelo astuto e jovem diretor Gustavo Taretto ganhou vários prêmios em festivais. Com grande competência nos apresenta os jovens de cerca de trinta e poucos anos, Martín e Mariana. Passeia com sua câmera pelas ruas de Buenos Aires, com seus prédios tão diferentes em estilo e gosto, até chegar às caixas de sapato, edifícios grandes com apartamentos minúsculos, onde os raios de sol mal conseguem alcançá-los. (Nesse ponto vemos todo o simbolismo de outro filme argentino “O Homem do Lado”, que faz um buraco para abrir uma janela no muro da bela casa do vizinho, desenhada pelo famoso arquiteto Le Corboursier). Eles têm a face da frente, o face de trás e as “MEDIANERAS”, ou seja, as paredes laterais sem qualquer função, a não ser de se colocar um anúncio gigante. Primeiramente Gustavo revela o casal principal, que não se conhece, descrevendo a solidão em que vivem e suas ansiedades e neuroses. Martín é um belo tipo, abandonado pela namorada e vive da criação de sites, em seu próprio apartamento. Sua casa é caótica assim como ele, ansioso, maníaco, que só anda a pé e tem pavor de subir em avião. Cuida da cachorrinha de sua ex e contrata uma jovem passeadora de cães, que o ajudará em algumas situações. Porém suas relações não vingam, já que é difícil e muito exigente. Mariana é apresentada depois. Trata-se de uma linda arquiteta que jamais construiu um prédio ou um banheiro, como ela mesma diz. Nesse ínterim trabalha como decoradora de vitrines e se sai muito bem. Ela também é alterada e solitária, tendo perdido o namorado. Com síndrome do pânico, tem dificuldades de sair, andar de elevador e se relacionar. Prefere a companhia de seus manequins aos humanos e adora o livro infantil Wally, do mesmo modo como Martín prefere o sexo virtual. Ambos moram na mesma Avenida Santa Fé, a poucos passos um do outro, mas nunca se encontraram, com exceção de duas vezes: uma atravessando a rua e outra, durante um apagão noturno, onde vão comprar velas. Nessa enxuta comédia eles saberão da existência um do outro através de um programa de chat via internet, quase no terço final. Martín e Mariana são almas gêmeas, porquanto gostam dos mesmos filmes (alusão explícita a Woody Allen), construíram janelas proibidas nas “medianeras”, ouvem e cantam as mesmas músicas e são igualmente desajustados, na medida exata da afinidade total. É uma crônica sobre os tempos modernos, em qualquer metrópole mundial, com um toque de carinho e bom humor muito especial e antevendo esperanças futuras. As interpretações são ótimas e o enredo diferenciado. Prova de como o cinema argentino vem se agigantando com filmes de orçamento razoável e ideias brilhantes.

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