domingo, 6 de novembro de 2011

A PELE QUE HABITO DE PEDRO ALMODÓVAR









LA PIEL QUE HABITO, ESPANHA/2011, 120 MIN.
ELENCO:
ANTONIO BANDERAS
ELENA ANAYA
MARISA PAREDES

Este último trabalho de Almodóvar, criado a partir de um romance de Thierry Jonquet, Mygale de 1984, é simplesmente eletrizante e assustador. Aborda de maneira minuciosa questões difíceis como a escolha da sexualidade, moral, ética e filosofia no mundo moderno. Com cores bem mais sóbrias e um fundo musical de causar arrepios, a trama se desenvolve a partir da vida de um cirurgião plástico famoso, Antonio Bandeiras com atuação impressionante no papel do Dr. Robert Ledgard, que tendo encontrado sua mulher em chamas dentro de um carro, faz de tudo para mantê-la viva. Isso ocasiona uma série incalculável de dramas, a partir dele mesmo e de sua jovem filha com problemas psiquiátricos. A primeira cena nos mostra a belíssima cidade de Toledo e uma mansão bastante distante do centro, El Cigarral, onde o médico tem sua casa que funciona como clínica cirúrgica e laboratório de experimentos avançados. Na segunda cena, uma jovem pratica yoga em uma postura bastante inerte e avançada. Vera (Elena Anaya) veste um collant que cobre todo seu corpo. Essa jovem é uma espécie de prisioneira que vive em um enorme quarto, de onde não sai e recebe tudo que necessita através de um elevador. No início, a história não é facilmente compreendida. Quem será Vera e porque está isolada do mundo e serve como uma espécie de cobaia humana para Robert Ledgard, que pesquisa e descobre um novo tipo de pele, bastante resistente, que poderá salvar milhares de pessoas vítimas de queimaduras e outras moléstias tropicais. O tema TROPICAL aparece na música brasileira, em um dos personagens que fala português e na comparação, não explicita, à ilha isolada de Pitangui e sua clínica. Marisa Paredes é outro personagem enigmático, sendo a única pessoa a desfrutar da confiança do médico. Ela controla a vida da jovem Vera, através de enormes telões espalhados pela casa. Percebemos o fascínio de Robert por sua vítima. As coisas começam a se esclarecer a partir de um flashback de 2006, em uma festa de casamento. O presente está em 2012. Nesses seis anos Almodóvar tecerá toda a sorte de acontecimentos com os quais discutirá principalmente a vingança, a falta de ética, de compaixão pelo próximo e principalmente de problemas de como lidamos com o corpo que “habitamos”. O resultado é brilhante, totalmente no seu estilo exacerbado de contar o drama da vida privada. Sairemos do cinema sem poder esquecer o que levou essas pessoas a se comportarem de modo tão sofrido, mas a última palavra talvez seja realmente vingança. Programa imperdível para quem admira o estilo pesado desse intenso diretor, todavia, desta vez sem comédia, parecendo mais uma das antigas tragédias gregas. Um dos filmes mais impressionantes deste ano, talvez mais do que Melancolia, apesar do tema ser muito diverso.

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