terça-feira, 11 de setembro de 2012

CARA OU COROA DE UGO GIORGETTI

BRASIL, 2012, DRAMA, 110 MIN. ELENCO: EMÍLIO DE MELLO – JOÃO PEDRO JULIA IANINA - ESTUDANTE GERALDO RODRIGUES – GETÚLIO WALMOR CHAGAS – GENERAL OTÁVIO AUGUSTO - TAXISTA Este é um excelente drama de época, que enfoca a cidade de São Paulo, no inverno de 1971, em plena ditadura militar, nos anos de chumbo. Grande cronista da cidade de São Paulo, Ugo
Giorgetti, que dirige e assina o roteiro, nos oferece um trabalho de primeira, expondo os problemas das pessoas daquela época. O teatro e a música tiveram um papel preponderando para o processo de abertura de nosso país, apesar da fortíssima censura daquele tempo e é nisso que o filme se baseia. Nas primeiras cenas temos fotografias, em branco e preto, de um apuro e sensibilidade sem igual e a narração de José Betti, fazendo também o final. Um diretor de teatro (Emílio de Mello) representa bem as personagens da época. É esquerdista, está montando a peça O Interrogatório, patrocinado pelo partido comunista. Seu irmão (Geraldo Rodrigues) é um jovem universitário da USP, que desistiu da filosofia e do jornalismo para se focar no teatro e escrever textos. Durante os ensaios da peça os atores estão em alerta, como todas as outras pessoas, o tempo todo. Nesse tempo não se podia falar alto e expressar nossas emoções, livremente, sob o risco de sermos mal interpretados, presos e torturados. Era bem o caso deles. Um militante do partido comunista entra inesperadamente durante o ensaio, não gosta do que vê, pessoas com aspirações e voltadas para si mesmas, e, além disso, tem um servicinho bem complicado para João Pedro. Esconder dois comunistas perseguidos em um lugar bem seguro. João Jorge está se separando da mulher, encrencado com dívidas, tentando saldá-las através de jogos em cavalos e loterias. Getúlio vive com o tio taxista, o ótimo ator Otávio Augusto, pois era órfão e não tinha como se sustentar. Sua jovem namorada, Julia Ianina, também estudante da USP, comunga com os mesmos ideais libertários, mas mora com o avô, um idoso general aposentado há anos, papel do ótimo Walmor Chagas. Apesar da decisão tomada, ela e o namorado não querem magoar o avô de modo algum, mas vêm-se obrigados a dar abrigo aos dois comunistas por uns dias em um quarto escuro dessa casa. Se algo der errado estarão comprometidos contra o regime e presos. Essas cenas são de total ansiedade e excitação para a plateia. Assim era viver naqueles anos, perigosamente. Há vários personagens emblemáticos mostrados no filme, como os hinduístas, que só queriam meditar e encontrar paz interior, os hippies da época, os moderados e os que comungavam com o regime militar, como o tio desses rapazes, que ao ver Maluf no noticiário, diz ser um personagem que admira! Humor com sutileza é a temática de Ugo nesse trabalho. O filme é ótimo e para os jovens que não passaram por isso, indico, para fazer um estudo mais fechado, ler o livro Tempo de Gangorra de Said Farhat, que explica em detalhes o que acontecia nos bastidores da política e era censurado por qualquer tipo de mídia. “Passado tanto tempo da revolução... todo mundo carregava um pouco do bem ou do mal dentro de si”, afirmou Giorgetti em uma entrevista recente. Ótimo entretenimento!

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