LA VIE DE ADÈLE, FRANÇA/2013, 179 MIN. DRAMA.
ELENCO:
LÉA SEYDOUX – EMMA
ADÈLE EXARCHOPOULOS – ADÈLE
Baseado livremente na graphic
novel “Le Bleu est une Couleur Chaude” , de Marie Maroh, este filme admirável
fecha com chave de ouro o ano. Trata-se da vida de Adèle, uma adolescente de 17
anos, que se encontra angustiada. Ela
faz o curso de Literatura Francesa, estudando os velhos romances com prazer e
não tem intenção de continuar, quer ser professora primária, pois adora
crianças e gostaria de ter filhos. Sendo a mais bela da classe e uma das melhores
alunas é pressionada por seus colegas e professores. Acaba namorando o aluno
mais cobiçado da escola, mais por influência do que por qualquer interesse
neste rapaz. Contundo o relacionamento, por parte dela não é bem recebido e ela
resolve terminar. Anda aérea, pois sente
um vazio dentro de si, comum na adolescência. Esse comportamento é intuído em
casa e na escola. No entanto Adèle segue em frente e um belo dia, ao atravessar
uma avenida, percebe um casal de namoradas, sendo que uma delas, um pouco mais
velha, tem cabelos curtos azuis, muito particulares. Ao se cruzarem, ambas se
entreolham rapidamente, mas olham para trás. Aí começa o primeiro round do
filme, pois ela não consegue tirar a jovem da cabeça e passa a ser uma
verdadeira caçadora em busca de sua presa. Indo a barzinhos gays com seu melhor
amigo, acaba encontrando aqueles “azuis” tão desejados. Outro round, Emma é uma
mulher bonita, culta, inspirada na filosofia de Sartre e o existencialismo,
acha que sua liberdade e escolhas são de
sua inteira responsabilidade, como ensinara o velho mestre. Emma também é uma
artista plástica, pintora das Belas Artes. Tudo isso encanta a inocente Adèle
que se apaixona perdidamente por ela. O caso vai adiante e ela passa a ser a
fácil presa. Sua vida ganha brilho, ela completa dezoito anos, conclui o Liceu,
passa a dar aulas para “seus pequenos” e está profundamente feliz com sua
descoberta; amava Emma, e não queria mais nada da vida. Achava-se completa
cuidando de seu amor e trabalhando. Emma, por vezes, insiste para que Adèle
continue seus estudos ou passe a escrever, pois seu dom para isso era paupável.
Todavia ela não queria expor seus pensamentos, eram uma coisa interna e só a
ela interessava. Outro round, Adèle passa da adolescência para a vida adulta,
fortalecida unicamente em sua paixão. Aí vem a intranquilidade do espectador
mais maduro, que sabe muito bem que as coisas do primeiro amor têm seus
conflitos, questionamentos e a rotina. E isso não é diferente para a talentosa
Emma. Tentando ser aceita no meio artístico tão competitivo como o francês, dá
tudo de si para ser reconhecida. Adèle aguarda com deslumbramento e paciência,
até que um dia as coisas mudarão de figura, deixando cicatrizes profundas, a
dor da decepção no último round do filme. Esse tempo de 179 minutos é absorvido
com avidez pelo público, com sua bela fotografia, magníficas interpretações de
sexo das jovens, e com um trabalho equilibrado, que dá tempo para absorver
todos os detalhes e diálogos bastante interessantes. Uma belíssima história de
amor, para qualquer gênero, com um timing perfeito. Excelente programa. O filme
foi, a princípio, criticado pelas cenas de sexo, mas não é isso que está em
jogo e sim o afeto. Ganhador da Palma de Ouro deste ano no festival de Cannes,
Kechiche prova ser um diretor que sabe o que quer e o que faz é muito bom,
sendo recebido por unanimidade por Steven Spielberg e seu júri. Foi diretor
também dos ótimos O Santo Grão e A Vênus Negra.
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