segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

AZUL É A COR MAIS QUENTE DE ABDELLATIF KECHICHE

LA VIE DE ADÈLE, FRANÇA/2013, 179 MIN. DRAMA.
ELENCO:
LÉA SEYDOUX – EMMA
ADÈLE EXARCHOPOULOS – ADÈLE
Baseado livremente na graphic novel “Le Bleu est une Couleur Chaude” , de Marie Maroh, este filme admirável fecha com chave de ouro o ano. Trata-se da vida de Adèle, uma adolescente de 17 anos, que se encontra angustiada.  Ela faz o curso de Literatura Francesa, estudando os velhos romances com prazer e não tem intenção de continuar, quer ser professora primária, pois adora crianças e gostaria de ter filhos. Sendo a mais bela da classe e uma das melhores alunas é pressionada por seus colegas e professores. Acaba namorando o aluno mais cobiçado da escola, mais por influência do que por qualquer interesse neste rapaz. Contundo o relacionamento, por parte dela não é bem recebido e ela resolve terminar.  Anda aérea, pois sente um vazio dentro de si, comum na adolescência. Esse comportamento é intuído em casa e na escola. No entanto Adèle segue em frente e um belo dia, ao atravessar uma avenida, percebe um casal de namoradas, sendo que uma delas, um pouco mais velha, tem cabelos curtos azuis, muito particulares. Ao se cruzarem, ambas se entreolham rapidamente, mas olham para trás. Aí começa o primeiro round do filme, pois ela não consegue tirar a jovem da cabeça e passa a ser uma verdadeira caçadora em busca de sua presa. Indo a barzinhos gays com seu melhor amigo, acaba encontrando aqueles “azuis” tão desejados. Outro round, Emma é uma mulher bonita, culta, inspirada na filosofia de Sartre e o existencialismo, acha que sua liberdade e escolhas  são de sua inteira responsabilidade, como ensinara o velho mestre. Emma também é uma artista plástica, pintora das Belas Artes. Tudo isso encanta a inocente Adèle que se apaixona perdidamente por ela. O caso vai adiante e ela passa a ser a fácil presa. Sua vida ganha brilho, ela completa dezoito anos, conclui o Liceu, passa a dar aulas para “seus pequenos” e está profundamente feliz com sua descoberta; amava Emma, e não queria mais nada da vida. Achava-se completa cuidando de seu amor e trabalhando. Emma, por vezes, insiste para que Adèle continue seus estudos ou passe a escrever, pois seu dom para isso era paupável. Todavia ela não queria expor seus pensamentos, eram uma coisa interna e só a ela interessava. Outro round, Adèle passa da adolescência para a vida adulta, fortalecida unicamente em sua paixão. Aí vem a intranquilidade do espectador mais maduro, que sabe muito bem que as coisas do primeiro amor têm seus conflitos, questionamentos e a rotina. E isso não é diferente para a talentosa Emma. Tentando ser aceita no meio artístico tão competitivo como o francês, dá tudo de si para ser reconhecida. Adèle aguarda com deslumbramento e paciência, até que um dia as coisas mudarão de figura, deixando cicatrizes profundas, a dor da decepção no último round do filme. Esse tempo de 179 minutos é absorvido com avidez pelo público, com sua bela fotografia, magníficas interpretações de sexo das jovens, e com um trabalho equilibrado, que dá tempo para absorver todos os detalhes e diálogos bastante interessantes. Uma belíssima história de amor, para qualquer gênero, com um timing perfeito. Excelente programa. O filme foi, a princípio, criticado pelas cenas de sexo, mas não é isso que está em jogo e sim o afeto. Ganhador da Palma de Ouro deste ano no festival de Cannes, Kechiche prova ser um diretor que sabe o que quer e o que faz é muito bom, sendo recebido por unanimidade por Steven Spielberg e seu júri. Foi diretor também dos ótimos O Santo Grão e A Vênus Negra.


Nenhum comentário: