BRASIL, 2017, 102 MIN., DRAMA.
ELENCO:
MARIA RIBEIRO – ROSA
PAULO VILHENA – DADO
CLARISSE ABUJAMRA – CLARICE
JORGE MAUTNER – HOMERO
Esse drama familiar é uma luz no
cinema brasileiro, não só por ter ganhado seis Kikitos, mas por ter sido
escolhido como melhor filme e melhor atriz. Como sempre Laís Bodanzky escolhe
temas atuais e reais. Desta vez o feminismo e a pressão sobre a mulher moderna
serão discutidos de forma simples e realista. Além disso, há outros problemas que
são demais para um só roteiro, mas se resolvem com suavidade. A ótima Maria Ribeiro
é Rosa, uma mulher de 38 anos, casada, com duas filhas pré-adolescentes. Seu
marido, Dado (Paulo Vilhena, muito convincente) é antropólogo e não se preocupa
muito com a família, pesquisando tribos ianomâmis. Como quase todo homem, sai
de casa para trabalhar e viajar quando e como lhe convém, sem dar atenção
devida às filhas e à mulher. Rosa
trabalha na produção de folders para utensílios sanitários, pois no fim do mês
chegam as contas e Dado não ganha o suficiente para isso. Ela se encontra em um
momento delicado, pois gostaria de ser dramaturga, contudo não há condições,
uma vez que todo seu tempo é consumido com as filhas e a casa. Está na idade de
ter uma real satisfação profissional e tem talento. O filme começa com um
almoço de família em casa de sua mãe, Clarice, que é divorciada há anos. Seu
pai é um “artista” que tem outra filha de um novo casamento e não ganha nem
para pagar os estudos da garota. Voltemos ao almoço. É bastante conflituoso,
com Rosa, Dado, as meninas, seu irmão e cunhada. Trata-se de uma homenagem ao
genro, contudo esse motivo não é bem recebido por ninguém. Clarice fuma demais,
é dura demais e está doente demais. O relacionamento com a filha é péssimo e
ela solta uma verdadeira bomba durante o almoço. Na frente de todos afirma que Rosa não é filha de Homero, mas
fruto de um caso que teve em Cuba com algum intelectual, que combinava com ela.
A revelação devasta Rosa, pois ama seu pai adotivo e quer saber mais sobre o
biológico. Aí vem a parte mais fraca da trama, pois consegue falar com ele sem
grande dificuldade, sendo que é Ministro da Casa Civil de Brasília e a doença
da mãe não apresenta sintomas sérios. Sua vida sexual está em um marasmo muito
grande, pois não admirando o marido não consegue fazer sexo com ele. Problema
de muitas mulheres. Clarice sugere que ela transgrida algumas vezes, que se
sentirá mais feliz e livre. De fato isso ocorre, mas não resolve seus problemas.
Ao contrário, pois desconfiando da fidelidade de Dado, resolve largar o
emprego, deixar as contas de lado e seguir seu sonho de escrever peças de
teatro. Os momentos tensos são cheios de verdades e bem interpretados por Maria
Ribeiro. O título do filme refere-se à música cantada por de Elis Regina, em
1976. Muito bom! Precisamos de mais filmes que abordem a história da classe
média e que sejam inteligentes.
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