terça-feira, 5 de setembro de 2017

COMO NOSSOS PAIS DE LAÍS BODANZKY




BRASIL, 2017, 102 MIN., DRAMA.
ELENCO:
MARIA RIBEIRO – ROSA
PAULO VILHENA – DADO
CLARISSE ABUJAMRA – CLARICE
JORGE MAUTNER – HOMERO


Esse drama familiar é uma luz no cinema brasileiro, não só por ter ganhado seis Kikitos, mas por ter sido escolhido como melhor filme e melhor atriz. Como sempre Laís Bodanzky escolhe temas atuais e reais. Desta vez o feminismo e a pressão sobre a mulher moderna serão discutidos de forma simples e realista. Além disso, há outros problemas que são demais para um só roteiro, mas se resolvem com suavidade. A ótima Maria Ribeiro é Rosa, uma mulher de 38 anos, casada, com duas filhas pré-adolescentes. Seu marido, Dado (Paulo Vilhena, muito convincente) é antropólogo e não se preocupa muito com a família, pesquisando tribos ianomâmis. Como quase todo homem, sai de casa para trabalhar e viajar quando e como lhe convém, sem dar atenção devida às filhas e à mulher.  Rosa trabalha na produção de folders para utensílios sanitários, pois no fim do mês chegam as contas e Dado não ganha o suficiente para isso. Ela se encontra em um momento delicado, pois gostaria de ser dramaturga, contudo não há condições, uma vez que todo seu tempo é consumido com as filhas e a casa. Está na idade de ter uma real satisfação profissional e tem talento. O filme começa com um almoço de família em casa de sua mãe, Clarice, que é divorciada há anos. Seu pai é um “artista” que tem outra filha de um novo casamento e não ganha nem para pagar os estudos da garota. Voltemos ao almoço. É bastante conflituoso, com Rosa, Dado, as meninas, seu irmão e cunhada. Trata-se de uma homenagem ao genro, contudo esse motivo não é bem recebido por ninguém. Clarice fuma demais, é dura demais e está doente demais. O relacionamento com a filha é péssimo e ela solta uma verdadeira bomba durante o almoço. Na frente de todos  afirma que Rosa não é filha de Homero, mas fruto de um caso que teve em Cuba com algum intelectual, que combinava com ela. A revelação devasta Rosa, pois ama seu pai adotivo e quer saber mais sobre o biológico. Aí vem a parte mais fraca da trama, pois consegue falar com ele sem grande dificuldade, sendo que é Ministro da Casa Civil de Brasília e a doença da mãe não apresenta sintomas sérios. Sua vida sexual está em um marasmo muito grande, pois não admirando o marido não consegue fazer sexo com ele. Problema de muitas mulheres. Clarice sugere que ela transgrida algumas vezes, que se sentirá mais feliz e livre. De fato isso ocorre, mas não resolve seus problemas. Ao contrário, pois desconfiando da fidelidade de Dado, resolve largar o emprego, deixar as contas de lado e seguir seu sonho de escrever peças de teatro. Os momentos tensos são cheios de verdades e bem interpretados por Maria Ribeiro. O título do filme refere-se à música cantada por de Elis Regina, em 1976. Muito bom! Precisamos de mais filmes que abordem a história da classe média e que sejam inteligentes.


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