domingo, 7 de dezembro de 2008

MIL ANOS DE ORAÇÃODe Wayne Wang







Uma estação ferroviária. Um senhor chinês vai ao encontro da filha. A esteira traz diversas malas e a com uma fita vermelha (da revolução) é a dele. Assim começa esse belo drama psicológico. Pai, Shi (Henry O) e filha Yilan (Feihong Yu) vão para a casa dela; há doze anos não se vêem. Ele estava, agora, aposentado e viúvo. Depois de acomodá-lo, pede para que ele descanse, mas Shi vai ajudá-la a preparar o jantar. Fizera um curso de culinária na China e quer preparar algo especial para a filha. Vemos um “banquete” e Yilan pede que não faça tanta comida. No dia seguinte ela sai para trabalhar e, nesse momento, começa o choque entre gerações. Shi preparara um ótimo café da manhã, mas o tempo que ela tem é escasso, pegando apenas algumas comidas industrializadas, sai para o trabalho. Seu velho pai tenta comunicar-se com ela através das iguarias que faz, mas é em vão. Ela aparenta ser triste e Shi quer ajudá-la. Talvez um pouco tarde demais? Sempre só em casa, observa o quarto de Yilan, limpando algumas peças e dedicando-se à leitura e ao seu caderninho com palavras em inglês. A diferença cultural entre os americanos e chineses é muito grande, mas ele gosta da América e de seus habitantes, livres, sem correntes! Com um vocabulário de uma dezena de palavras, se relaciona com diversas pessoas do condomínio onde moram. No parque, torna-se amigo de uma bonita senhora iraniana. Ele fala chinês ela iraniano, contudo os dois tornam-se grandes amigos. Alguns substantivos e verbos, os mais primários, são falados em inglês. Isso ele sabem dizer em um mesmo idioma – é um laço que os une - mas quando falam de suas emoções, dificuldades e perdas, é na língua mãe que se expressam, entendendo-se perfeitamente bem! Seus semblantes e gestos são mais importantes do que as palavras, que na maioria das vezes não traduzem a verdade. Shi convive muito bem com todos, menos com sua filha, pois demonstra ser uma jovem ressentida e infeliz. Sabemos que ela é divorciada e que seu pai quer ajudá-la a ser feliz, para poder ir embora. Ele pondera que já havia falhado uma vez e não gostaria de repeti-lo. Era engenheiro e trabalhara com foguetes espaciais, nos tempos da revolução cultural e se orgulhava disso e de suas convicções marxistas, pois estudara russo e pertencera ao partido. Yilan sente-se invadida pelo pai e ressentida com ele. Sua maneira de ser, apesar de gentil e acessível, é oriental, um tanto autoritária e inaceitável para o ocidente. O pico da desavença entre os dois não tarda a chegar e Yilan, muito constrangida, fala o porquê de sua angústia e tristeza, pedindo perdão por tê-lo magoado. Porém Shi não se ofendera, ficara surpreendido com sua franqueza e, através de uma parede, para não encará-la, conta sua verdadeira história. Yilan narrara, nesse ínterim, um ditado chinês que dizia serem necessárias trezentas orações para atravessar um barco com alguém, e três mil orações para deitar a cabeça no mesmo travesseiro com outra pessoa! Só assim você a conheceria realmente! Nesse quarto final de filme há uma transformação no relacionamento de ambos que é, nitidamente, refletida em suas fisionomias. A película fecha em um trem com Shi continuando a conversar em mandarim e sua parceira de viagem, em inglês. Estão bem e felizes! Verdadeiramente a língua não é uma barreira intransponível, os atos muitas vezes sim.
Foi mais um ótimo filme do premiado diretor Wayne Wang e com a soberba representação de Henry O. Essa história quando não falada, diz mais do que qualquer diálogo escrito. Vale muito a pena ver esse belíssimo drama.

2 comentários:

Anônimo disse...

oi Regina, aqui e o basile do clube, achei o seu trabalho o maximo, e quero ver este filme chines, que e a minha cara, meus parabens, otimo trabalho, beijos,ciao

caixadagua33 disse...

Olá, Regina,
gosto muito de ler os seus resumos dos filmes, que são muito bem escolhidos. Muitas vezes fico com vontade de assití-los, mas quase sempre não cumpro a determinação. Pelo menos fico por dentro por seu intermédio. Obrigada e um feliz Ano Novo. Marcia Brito