domingo, 17 de maio de 2009

DESEJO, PERIGO de ANG LEE














O filme começa na Xangai de 1942, sob ocupação japonesa. Em um elegante bairro, um grupo de quatro mulheres lindíssimas joga, enquanto conversam para passar o tempo. Às 14.55 horas a mais jovem, Mrs.Max, sai para um compromisso. Ao chegar a um elegante café, telefona para um homem e a próxima cena conterá cinco jovens com armas na mão, prontos para matar. Voltamos para Hong-Kong em 1938, quando Max, na verdade Wong era estudante. Jovens universitários, alunos de teatro, reúnem-se e formam um grupo de resistência contra a invasão japonesa na China. São quatro rapazes e duas moças, totalmente amadores, mas profundamente nacionalistas. O plano é resgatar a China do Japão. O plano concebido é que a bela Wong (excelente Tang Wei), atuando como senhora Max seduza o chefe dos colaboracionistas chineses, senhor Yee (ótimo Tony Leung). A história é muito bem dirigida por Ang Lee e ambientação muito convincente. Wong se infiltrara na casa de Yee, conseguindo a amizade de sua esposa, ao mesmo tempo em que tenta atraí-lo discretamente. Marcam um encontro em um restaurante vazio, onde o jogo de sedução se instala, ela vestida com um lindo vestido azul royal transparente e florido, que ele lhe dera de presente. A conversa é amena, contudo inteiramente sedutora. Esse jogo é bruscamente interrompido, mas continuará em Xangai, anos mais tarde, para onde Yee fora enviado há três anos. Estamos em 1942. Ela, ainda atuante em sua meta política, concorda com o jovem líder a continuar sua missão. Instalada no quarto de hóspedes da casa dos Yee, é comandada por um velho soldado chinês da resistência, Wu, o qual havia presenciado a morte da esposa e seus dois filhos por Yee, agora cabeça da organização colaboracionista. Wu explica-lhe que a missão é de alto risco dando-lhe, inclusive, uma cápsula para morrer quando em perigo. Segue suas ordens ao pé da letra. Terá que propiciar um momento adequado e extrair informações. Com o passar do tempo, Yee e Wong, finalmente, encontram-se em um quarto discreto, quando esse homem vigoroso revela-se brutal, chegando a machucá-la e praticamente estuprá-la. Aconselhada pelo jovem líder dessa pequena brigada, por quem nutre um amor contido que parece ser correspondido, segue a procura de um momento em que estejam sós e seu amante possa ser assassinado. Entretanto, nesses encontros a dominância masculina continua, mas há além do desejo, muita atração de ambas as partes. É sexo forte e contundente, o que parece satisfazer a ambos, nesse momento de suas vidas. No luxuoso bairro japonês ele a recebe, mas Wong prefere cantar-lhe uma canção romântica que fala sobre a agulha e a linha que não poderiam mais viver separadas. Pela primeira vez os olhos de Yee ficam marejados de lágrimas, mas é algo bem sutil. O filme é muito marcado pelas expressões dos artistas, mais do que os diálogos e há muita simbologia. Temos a impressão de que os dois estão realmente envolvidos. Ela pela morte da mãe e abandono do pai e ele por sua posição. Depois desse encontro Yee lhe entrega um envelope e um endereço. É uma joalheria onde ela recebe de presente um anel de diamante, magnífico, de 6 quilates, o ovo de codorna tão cobiçado pelas mulheres. Wong se desestabiliza ao fitá-lo. Ele será feito como ela o desejar. Esse fato é comunicado para os revolucionários da resistência. No dia em que pegarão a jóia, que já estava pronta, uma armadilha é montada para assassiná-lo. Ao ver o anel deslumbrante ela cora e quer tirá-lo do dedo, mas Yee não permite (seria ele o símbolo da paixão?). Ela fita Yee com uma mistura de sentimentos que estão incontroláveis, nesse instante, e pede para que ele fuja imediatamente. Ele consegue! O amor dela por ele, finalmente, fora declarado sem simbolismos. As cenas finais que se seguem são as mais opressoras e entorpecentes possíveis. Um belo filme de quem já fizera Razão e Sensibilidade e O Segredo de Brokeback Mountain. O espectador sai fadado a compreender a perplexidade do amor e do desejo. Não deixem de conferir o lençol branco amassado da cama de Wong. O filme é baseado nos contos da famosa escritora Eileen Chang, morta em 1995.

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