sábado, 2 de maio de 2009

A JANELA de CARLOS SORÍN








Esta é uma pequena jóia que deveria ser muito bem guardada. Trata-se do filme de Carlos Sorín, que sendo admirador de Chekhov, escreve um drama como os contos do famoso escritor: curto, preciso e detalhado. Uma voz envelhecida, conta-nos um sonho “raro”: um senhor sonha que sua mãe despede-se dele, pois iria a uma festa e o deixa aos cuidados de uma bela babá. Contudo essa criança de 5 anos ouve música no andar de baixo e percebe que o baile era em sua própria casa. A babá se aproxima e ele a vê, belíssima. Acordando, tem medo de perder essa imagem escondida em seu cérebro, há mais de oitenta anos. Seu rosto ele não conseguira vislumbrar. Esse é um grande dia para o escritor Don Antonio, pois seu filho que não via há longos anos devido a um desentendimento, voltaria da Europa para visitá-lo. Don Antonio tivera um grave problema de saúde e está de cama. O cenário nos mostra a importância do tempo nesse drama, em que a morte espreita. Dois relógios, um velho carrilhão de parede e um despertador marcam o tempo da história, assim como o gotejar do soro que corre para suas veias enfraquecidas. A casa se encontra em uma estância no campo argentino. É antiga e muito bonita. O movimento de pessoas nesse dia é grande: além das duas funcionárias que tratam dele e da casa, havia um capataz e um afinador de pianos. Esse homem encontra entre as cordas desse belíssimo piano alemão, dois soldadinhos de chumbo de seu filho Carlos... Don Antonio, que fora amigo do grande escritor Luís Borges, é desaconselhado pelo médico a sair da cama, caso contrário seria internado em um hospital. Mas a força e imaginação do velho senhor o fazem escapulir pela porta da frente e visitar seu pomar. Segurando uma bengala e seu soro, anda extasiado por sua propriedade até que as forças lhe fogem e ele cai em meio a um alto capinzal. Descoberto por duas jovens que andavam de bicicleta, semi-inconsciente, é levado pelos amigos das moças e seu capataz até sua cama. Em estado muito delicado e ansioso com a chegada do filho, fica repousando em seu quarto, na penumbra. A música do filme são os sons dos relógios que marcam o tempo e os ruídos da natureza, que não param. Ao entardecer Pablo chega com sua companheira, que só se preocupa com o sinal de seu celular. O encontro entre pai e filho é emocionante e singelo. Ele beija seu pai, como se o tempo não tivesse passado, e três taças são cheias com uma garrafa de champanhe de quarenta anos, que é aberta e um brinde para Pablo é feito. Depois disso, retira-se para uma ducha e sua amiga fica com Don Antonio, no quarto, pois era o único lugar da região onde havia sinal para seu telefone. Ele está acordado, porém calado e ela ansiosa para receber uma chamada que aguardava. Ao abrir a janela, já com a noite fechada, o frágil homem chama-a e pergunta “de onde vinha a música que ouvia; do andar de baixo?” Ela percebe que ele está delirando e senta-se ao seu lado para beijar-lhe a testa, quando finalmente o escritor vê o rosto de sua babá, uma linda jovem de vinte anos em que ela se transformara. Don Antonio havia realizado seu último desejo!
Segundo informações de Luiz Carlos Merten, Carlos Sorín gosta de histórias enxutas e seu último longa metragem chama-se Histórias Mínimas. Don Antonio é representado pelo ator de teatro uruguaio Antonio Larreta de mais de oitenta anos. Sorín afirma que “A casa é tão perfeita quanto Larreta. Ambos são aristocráticos e decadentes”.

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