terça-feira, 13 de outubro de 2009

DEIXA ELA ENTRAR de TOMAS ALFREDSON








Este drama sueco, que engloba terror, amizade e amor, foi baseado em um romance do escritor e roteirista John A. Lindqvist. O título refere-se a uma lenda em que um vampiro só pode entrar em sua casa, se convidado. Caso contrário perecerá. Tomas Alfredson faz um belo trabalho em cima dessa novela. Na primeira cena,o céu está escuro e a neve cai suavemente. Um garoto olha através da janela a chegada de uma menina com um homem mais velho, os quais acabavam de mudar-se para o apartamento ao seu lado. Estamos em um subúrbio de Estocolmo, no ano de 1982. Oskar (magnífico Kare Hedebrant), um garoto lindo e tímido, vive com a mãe divorciada e é diariamente espancado em sua escola por três colegas. Ele jamais reage, mas não por covardia e sim por sabedoria. À noite ensaia falas de como deveria reagir, segurando uma faca. Uma noite encontra-se com a vizinha Eli (maravilhosamente interpretada por Lina Leandersson) no playground da habitação e quer conhecê-la melhor, mas confessa que ela cheira mal. A garota, assim, recusa a amizade. No dia seguinte, se encontram novamente e ele diz ter 12 anos e Eli também tem 12 anos, há muito tempo. Sem saber o dia de seu aniversário ele a presenteia com seu cubo de Rubic de diferentes cores. A partir daí nasce uma amizade profunda entre as duas crianças, que são isoladas, tímidas e solitárias. Eli vive com um tutor que se incumbe de arranjar seu alimento: sangue. Sim nossa pequena heroína é uma vampira que se recusa a atacar as pessoas e é nutrida por esse personagem que mata e pendura suas vítimas para furar a veia jugular e captar o sangue. Oskar continua apanhando de seus colegas, mas é encorajado por Eli a reagir com firmeza, pois ela o ajudaria. A primeira vítima do tutor é um bêbado, cujo corpo é jogado em uma poça gelada. Depois disso ele ataca novamente, mas é mal sucedido e vai parar em um hospital. Deformado pelo ácido que jogara em seu rosto, oferece seu pescoço para Eli e encontra a morte caindo pela janela. Eli é obrigada a caçar, porque se encontra desamparada. Escondida sob uma ponte pede socorro e quando a vítima aproxima-se é assaltada e morta. Seus movimentos são rápidos e animalescos. Depois de liquidá-lo, chora por sua sina amaldiçoada. Correndo ao encontro de seu amigo, deita-se em sua cama e Oskar percebe que ela não é uma menina normal. Após o banho de Eli, ele vê que em sua região púbica há uma cicatriz horizontal. (No romance original Eli é um garoto de 12 anos, que castrado vira uma vampira). Um amor especial entre eles só cresce e intensifica-se não importando o que sejam o de onde possam ter vindo, apesar da "menina" ser manipuladora. As cenas dos dois na mesma cama e seus diálogos são de grande sensibilidade e beleza, revelando um relacionamento que independe dos defeitos, mas por causa deles. Esses crimes vão assustando a população local e durante um feriado escolar, onde todos vão patinar, o corpo do bêbado é descoberto e a polícia chamada. Ao mesmo tempo, Oskar afrontado pelos meninos reage dando um golpe na orelha de um deles, ocasionando um grave ferimento. Eli alegra-se com o feito. Em um bar local,um casal de namorados discute sobre esses assassinatos e se desentendem, pois ele a considera fria e lamenta a morte do amigo. Ela sai enfurecida e é atacada por Eli, pálida e faminta, que estava em cima de uma árvore. Essa mulher não morre, mas recebe a maldição e, em uma cama de hospital, pede ao médico que abra a janela para que seu corpo seja consumido pelas chamas da luz e encontre a paz. As crianças são obrigadas a se separarem, pois Eli foge a procura de segurança. Anteriormente, na escola, Oskar havia tido aulas extras de educação física para tornar-se mais forte. Entretanto, no ginásio de esportes, é confrontado por Jimmy, amigo mais velho dos três garotos, que mergulha sua cabeça na água da piscina, como vingança. Lá permaneceria por três minutos. Após momentos de desespero e grande suspense, vemos pedaços de corpos afundando e uma mão que o levanta pelos cabelos. Eli viera salvá-lo! Na cena final, Oskar encontra-se dentro de um trem e a neve continua caindo suavemente. À sua frente uma grande mala está apoiada no assoalho. Ouvimos um ruído sincopado. Oskar responde em Código Morse que havia aprendido e ensinado a Eli. Já haviam se utilizado dele por várias vezes. A palavra é PUSS, que significa beijo em sueco!

Esse é um drama sensível apesar das cenas de sangue, que nunca resvalam no vulgar ou no óbvio. Trata-se de amor em sua forma puramente infantil. A interpretação das crianças é admirável, temos bons atores e com uma direção bastante firme. Mas, como observou o crítico de cinema Luciano Ramos, a sina do garoto será a mesma do tutor de Eri, pois o fim mostra isso.

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