sábado, 3 de outubro de 2009

SALVE GERAL de SÉRGIO REZENDE







Este ótimo drama, baseado em fatos verídicos acontecidos em São Paulo no ano de 2006, tem duas protagonistas de muito peso. A brilhante Andréa Beltrão vivendo Lúcia, e uma escolada advogada do PCC, Ruiva, (excelente Denise Weinberg). Esse filme deverá ser assistido sem juízo de valores, pois apesar do pano de fundo político, ele conta uma história que fará você direcionar-se somente a favor dos facinoras. Na primeira cena, vemos um belo piano de calda, sendo baixado através de uma janela de um prédio, por cordas e embrulhado em um tecido vermelho. Sua proprietária é Lúcia, que observa a descida de seu adorado piano como a sua própria descida de classe social. Viúva há cinco anos e sem nada para continuar a viver vai morar com o jovem filho, Rafa, em uma pequena casa na periferia de São Paulo. Apesar de ser advogada, dava aulas de piano, sua grande paixão, para sobreviver. No primeiro dia das mães nessa casa, onde o piano ocupava o maior espaço, Rafael mete-se num racha de carros, onde mata, acidentalmente, uma jovem e vai preso. Sua pena será de oito anos de reclusão. Essa mãe educada e amorosa terá que lidar com um mundo totalmente estranho ao seu, para livrar seu filho da prisão merecida. Por ele fará qualquer coisa e se sujeitará a tudo. Na porta da prisão, em um dia de visita, conhece uma advogada do PCC, Ruiva, que a reconhece como uma mulher em que poderia confiar e tirar proveito disso. Ruiva possuía um salão de beleza como fachada para o tráfego de drogas e administração do grupo criminoso. Depois de prestar grandes favores a Lúcia, acaba por aliciá-la a trabalhar para o partido. Lúcia tem agora a mesma preocupação: cuidar e livrar seu filho. Obrigada a vender seu piano, passa a integrar-se cada vez mais nos planos e ações da facção. Ações de corrupção da polícia, em todos os níveis, aliando-se ao PCC, são mostradas e exemplificadas. As coisas tomam tal rumo que ela é obrigada a abrir um negócio em Foz do Iguaçú, para ajudar Ruiva. Em uma de suas missões conhece um preso, chamado de Professor por sua erudição, e apaixona-se por ele. Andréa Beltrão tem uma representação contida, sofrida e apavorada, na medida certa, para essa mulher culta de classe média, que submerge no mundo do crime. Apesar de todos os sacrifícios, ela ainda é uma pessoa vibrante, necessitada de carinho e sexo. Todavia, seu amor também é assassinado. O chefe do grupo vai se livrando de seus membros, sem hesitação, à medida que se faz necessário. Eles dizem protestar contra a superlotação dos presídios, por justiça e paz. Descobertos pelos policiais de que haveria uma explosão na Bolsa de Valores e em dois aeroportos, esses homens vêm-se obrigados a reagir, mandando os líderes para uma prisão de segurança máxima. Aí se dá o Salve Geral, ou seja, quem estiver na rua atacará a sociedade civil, assim como os que estiverem presos atacarão os policiais. Sem domínio, a cidade de São Paulo vira uma praça de guerra, com bancos, escolas, delegacias, lojas e ônibus incendiados e dezenas de pessoas chacinadas, sem razão alguma. Rafa também terá de cooperar com o bando, como motorista. Nem mãe nem filho sabem que estão infiltrados nisso até o pescoço. Diante dessa metrópole desgovernada, Lúcia procura loucamente por Rafa. No filme, a polícia, finalmente, resolve entrar em um acordo com os bandidos, pois nada mais poderiam fazer. O caos estava instalado. No quarto final, Lúcia e Ruiva desentendem-se, mas Denise Weinberg tem a decência de morrer fora da casa de sua amiga. Mãe e filho reencontram-se, sem um final fechado, após terem cometido crimes gravíssimos.
Esse é um filme de grande plasticidade, imagens perfeitas, interpretações pungentes e, a meu ver, ótima direção. Não vemos apelos desnecessários. Os créditos são nas cores brancas e vermelhas e não deixem de observar, no final, que os nomes das personagens são vermelhos e dos artistas brancos, que saem aos poucos por cima do final dos nomes vermelhos. A música é erudita. Belo filme, que já provoca polêmicas. O diretor não considera o filme uma denúncia, mas sim um acontecimento social. Foi o 11 de setembro de São Paulo, afirma.

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