segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O SOL DO MEIO DIA DE ELIANE CAFFÉ






BRASIL /2009 (106 MINUTOS)

ELENCO:
Luiz Carlos Vasconcelos – Artur
Chico Diaz – Matuim
Cláudia Assunção – Ciara
Participação de Ari Fontoura como pai de Ciara

Ótimo drama dirigido por Eliane Caffé, cineasta paulistana que dirigiu o premiado Narradores de Javé (2003). O filme se passa no norte do Brasil, nas barrancas de um rio amazônico do estado do Pará. Esse é um trabalho introspectivo, com poucas falas, imagens em close nos principais atores e uma grande carga de dramaticidade nos semblantes dos personagens. Em entrevista a um repórter a diretora diz ter-se inspirado em Crime e Castigo de Dostoievski, que como nesse enredo, discorre sobre assassinato e busca de redenção. Nas primeiras cenas vemos Artur saindo da cadeia, sem uma explicação. Logo surge o ótimo e cabeludo Chico Dias em uma transa com uma bela mulher. Parece um personagem forte como Artur, que irão ter o destino ligado, quando ambos decidem fugir do local onde vivem para subir o rio até Belém. Artur matara sua mulher e é atormentado pelo crime, procurando uma expiação para o delito que não consegue esquecer por ter uma índole honesta e forte. Matuim é seu oposto, uma personalidade inacabada, indecente e patética. Com sua magnífica interpretação torna-se ainda mais ridículo por usar uma peruca, que lhe daria uma força e beleza que não tem. É um homem rústico do norte brasileiro. Esses dois estranhos navegam, em fuga, na velha embarcação de Matuim, quando podemos observar o mangue e sua vegetação de uma grande beleza grosseira devido ao tamanho descomunal das raízes e troncos. Quando a noite cai é aterrorizante, pois o negro absoluto impera e você fica a mercê do que estiver por perto. Eliane explora muito bem as dificuldades de se morar nessas regiões inóspitas. Os homens precisam ter a rusticidade e o instinto animal para perseverar em tais condições. Após um incidente, o roubo do barco, os dois protagonistas são forçados a caminhar por terra, quando, em um vilarejo sem qualquer recurso urbano, encontram Ciara, mulher forte e bela que tenta tirar a filha adolescente da prostituição, tendo também um filho com problemas mentais. Artur se encanta por ela e é correspondido, mas Matuim, sem poder ver um rabo de saia, também a quer, formando um triângulo amoroso. Os homens se afastam procurando trabalho, mas Chico tem a sorte de reencontrar Ciara. Nesses vilarejos perdidos desse Brasil profundo e selvagem, a população tem um mínimo de diversão e cultura sendo a cachaça, o forró e o sexo as únicas alternativas de sociabilidade. Ciara quer um homem sério e másculo como Artur para parceiro e ela, por sua vez, o faz lembrar sua mulher. A ajuda entre eles é silenciosa, contudo palpável. Ocorre que Matuim não se conforma com isso e tenta seduzi-la sem sucesso. No terço final, uma cena com Chico Diaz, desejando uma parceira, rouba o filme. Ele quer conquistá-la de qualquer modo e sua peruca, que escondia uma careca feia e mal tratada, cai, expondo sua verdadeira face – de homem sem cultura, pele e caráter embrutecidos pelo clima e sofrimento. Nesse momento, quando pede que ela o olhe nos olhos e veja com é, sente um denso amargor pela vida. O desempenho desses três personagens é excelente, carregado de verdade e reflexão. A introdução do personagem de Ciara dá mais humanidade e compasso à obra. Os outros atores são quase todos paraenses, como desejou Eliane Caffé, a fim de dar mais veracidade às filmagens. Programão.

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