quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O DIA EM QUE EU NÃO NASCI DE FLORIAN COSSEN










DAS LEID IN MIR, ALEMANHA-ARGENTINA, 2010
DRAMA, 95 MIN.
ELENCO:
JESSICA SCHWARZ – MARIA
MICHAEL GWISDEK – ANTON
RAFAEL FERRO – ALEJANDRO

Atualmente temos uma ótima safra de filmes enxutos e de grande profundidade de ideias. Entre eles está certamente Das Leid in Mir, do jovem diretor Florian, nascido em Tel-Aviv e criado em Israel, Canadá e Espanha, estreando esse belíssimo longa-metragem, do qual também participou do roteiro escrito por Elena von Saucken. Após ter tido uma bolsa de estudos de um semestre na Universidade de Cinema de Buenos Aires, pesquisou intensamente para criar esse trabalho, que nos conta os sofrimentos sofridos pelos europeus e sul-americanos em suas ditaduras militares. Estrelado brilhantemente pela excelente Jessica Schwarz, na pele da jovem Maria de 31 anos, por Michael Gwisdek (Anton, seu pai) e Rafael Ferro (Alejandro, o namorado). Na primeira cena vemos Maria treinando em uma piscina, na Alemanha, e logo em seguida despedindo-se do pai, Anton, que a trata com muito carinho e cuidados. Em um vôo para um campeonato no Chile, seu avião faz uma conexão em Buenos Aires. Na sala de espera reconhece uma cantiga de ninar, cantada em castelhano por uma mãe e se emociona as lágrimas, pois entende o sentido, apesar de não falar uma palavra em castelhano. Perde a conexão e decide ficar na cidade e contar o ocorrido a seu pai. Logo em seguida ele chega ao hotel onde está hospedada e, constrangido por sua firmeza, é obrigado a revelar que ela passara três anos na cidade, quando ele trabalhara lá, nos finais dos anos setenta. Ela nascera em 1980, fora adotada, e em seguida voltaram para a Europa. Sua mãe cantava aquela canção para fazê-la dormir. Além disso, Maria encontrara, em um antiquário, um velho bonequinho, Topo Gigio, pelo qual sente a maior identificação. Ela quer saber a verdade, além do que lhe é oferecido e começa uma pesquisa de sua real identidade, com ajuda de Alejandro, um guarda que falava alemão, e se encantara por ela. Para desespero do pai, com medo de perder o afeto da filha, as coisas vão tomando um rumo que se aproxima do governo militar e suas atrocidades do fim da década de setenta. Sim, há uma família a ser investigada com ajuda da tradução de seu namorado. Caminham pela cidade de Buenos Aires, mais plástica e bela do que nunca, para desvendar o mistério. À medida que provas vão aparecendo o espectador fica muitíssimo incomodado, pelas mudanças de rumo e em quem acreditar e no que acreditar. Esse é o maior mérito do trabalho, muito bem interpretado por seus atores, sem exageros e deslizes. O final, como nos filmes europeus, não é exatamente feliz, mas nos deixa refletindo sobre a adoção, o amor de quem educa e nas mazelas das famílias destroçadas pelo regime de então. Apesar disso, política é o que menos importa, mas sim o conceito de paternidade e família. Maravilhoso programa para quem gosta dessas histórias mais cerebrais, como desafogo do cinema americano atual.

Nenhum comentário: