FUOCOAMMARE, ITÁLIA-FRANÇA, 2016, 106 MIN. DOCUDRAMA.
Esse filme não é um documentário
comum, pois o diretor Gianfranco Rosi, famoso por seus filmes, deu-lhe uma
configuração especial e ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano.
Vem acompanhado do olhar de um garoto de treze anos, e sua vida nessa ilha no
sul da Itália, Lampedusa, que acabou ficando famosa por ser o primeiro porto a
abrigar os refugiados das guerras na África e Oriente Médio. É o segundo
documentário que vejo sobre o assunto, mas esse é carregado de compaixão e
fraternidade entre alguns habitantes da ilha e as pessoas que são salvas. Não é
algo apenas mecânico, há envolvimento real dos salvadores, como médicos,
enfermeiros e ajudantes, todos moradores do local. Desdobram-se entre suas
vidas cotidianas e a nobre missão. A certa altura do filme o médico diz que
“para ser um homem de verdade é necessário ajudá-los”, ter amor pelo próximo. O
filme começa com o garoto tentando pegar um pequeno graveto de árvore que seja
perfeito para fazer um estilingue, mostrando a flora da ilha. Ele tem um amigo
que ensinará a arte do estilingue, pois é um mestre nisso. Depois veremos os
pescadores, uma mamma fazendo comida, a vida pacata de sua avó e pai, pescador
experiente, um locutor de rádio. As idas de um oceanógrafo para o fundo do mar
e o médico dedicado, tanto em sua clínica onde atende a todos os males, como
com os desafortunados. Apesar de tanto tempo fazendo isso não consegue se
acostumar a ver pessoas mal tratadas, feridas e mortas. Esses fugitivos são
provenientes de vários países, passando por alguns outros vizinhos, se
aventurando no deserto do Saara e depois se jogam ao mar em balsas mal construídas
e pagando caro por isso. Grande parte morre nessas caminhadas por terra e por
mar. O tratamento e acolhimento são bem específicos, passando por uma triagem e
os piores dirigidos ao hospital. Pena que sobre mulheres quase não tenhamos
informações. Seria interessante ter visto mais. Quase na metade do filme, o
garoto tem um papel simbólico, pois seu “olho preguiçoso” não deixa o cérebro
processar as imagens, então o olho bom será tapado para que melhore a visão do
preguiçoso. Será que não é a atitude da maioria dos países que enfrentam essa
gravíssima crise? Ficam quase cegos? Recomendo.
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