segunda-feira, 20 de junho de 2016

O BOTÃO DE PÉROLA DE PATRICIO GUZMÁN








EL BOTÓN DE NÁCAR, CHILE-ESPANHA-FRANÇA, 2015, 82 MIN. DOCUMENTÁRIO.
Esse extraordinário documentário de Guzmán ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim 2015. O elemento principal é a água, pois sem ela não haveria vida nem universo. Como o Chile tem uma enorme costa marítima para o Pacífico, o maior dos oceanos, trata-se de um elemento vital, como eles dizem de memória e voz. Um mapa é mostrado para que possamos ver a diferença entre a faixa oceânica e a de terra, dominada pela cordilheira dos Andes. O filme começa com um quartzo milenar, encerrando uma gota de água. Os belíssimos icebergs são revelados com suas cores puras e cristalinas, assim como a água. É descrito como chegaram os primeiros habitantes da Patagônia, nome dado por brancos por terem pés muito grandes. Eram nômades da água e chegaram nus, adaptando-se às temperaturas glaciais. Seus fortes corpos são pintados inteiramente com símbolos que lembram o universo. O céu repleto de estrelas se reflete no desenho de suas peles e cada pessoa que morresse, acreditavam, se tornaria mais uma estrela. Chegavam em minúsculas canoas, com um fogo no centro, para aquecê-los. Viveram em paz e harmonia com o cosmos e a natureza até a chegada do homem branco inglês, que cobriu seus belos corpos com roupas impregnadas de moléstias e foram dizimados, restando, hoje em dia, somente 20 pessoas descendentes diretas deles. Um desses aborígines, Jimmy Button, foi levado a Londres e civilizado, encantado por um botão de pérola. Quando voltou, adulto, não podia mais falar o idioma com perfeição e acabou virando um pária em seu próprio núcleo. O som produzido pelos aborígenes para imitar o barulho da água, que tem uma música fantástica, é interpretado por um antropólogo. Vamos para o período de Salvador Allende, com sua ditadura de 16 anos, que acabou por sacrificar milhares de pessoas das maneiras mais ignóbeis possíveis. O mar, novamente, vira cemitério. Esses rebeldes eram presos a trilhos e depois de embalados, jogados no mar através de helicópteros, mas alguns corpos surgiram boiando na superfície e foi possível constatar essas atrocidades. Sempre a água no destino dos chilenos. Entre essas pessoas, outro botão de pérola fica agarrado, depois de anos, ao metal do trilho. Dois botões foram testemunhas dos fatos. As imagens são extraordinárias e a história, um relato social, antropológico e histórico, é muito bem contada, magnífica. Filme absolutamente imperdível.


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