terça-feira, 9 de maio de 2017

CLASH DE MOHAMED DIAB




ESHTEBACK, EGITO, 2016, 97 MIN., DRAMA
ELENCO:
NELLY KARREM
HANY ADEL
AHMED MALEK
Este deve ser um dos melhores filmes em cartaz, pois seu diretor Mohamed Diab consegue construir um microuniverso com cerca de 20 pessoas de diferentes idades, gêneros e pensamentos políticos, confinando-as em um mesmo local. Passa-se durante a queda do presidente islamita Morsi, no Cairo-Egito, um dos países árabes mais representativos. A Polícia lutava contra a Irmandade Muçulmana, que gostaria de ficar no poder. O filme começa com um camburão velho, seguindo para o centro da cidade, onde havia a confrontação entre as duas facções. No final da jornada há um verdadeiro campo de guerra e eles prendem dois jornalistas, tirando seus documentos, câmeras, enfim tudo. Um deles protesta por ser egípcio-americano, então é tratado como tal e preso à grade do veículo por uma algema. Inconsoláveis logo recebem a companhia de uma família inteira, pai, mãe e filho, logo depois um membro da Irmandade, sujeito  muito baixo e gordo, com um panela na cabeça, à guisa de capacete. Um velho com a filha adolescente também é capturado, assim como dois grandes amigos e muitos outros personagens desiguais. O camburão fica lotado de pessoas com idades e intuitos bastante diferentes que se engalfinham entre si. Seus ideais políticos são díspares demais. Nesses momentos o filme chega a ser cômico, pelas situações inusitadas e tacadas que cada um dá contra o outro. Tudo é motivo para discussão. E a porta só abre para pegar mais gente, não deixando ninguém sair. A filmagem é de dentro para fora, através das pequenas janelas gradeadas, ou, muito pouco, de fora para dentro: a visão de quem via todo aquele absurdo acontecendo. Finalmente resolvem separar os da Irmandade e os da Polícia. Um líder controla a situação. O local é exíguo, não tem água e muito menos um banheiro. O tempo vai passando e essas necessidades vão surgindo. O caos chega a um ponto que a Polícia que jogava jatos de água para dispersar a enorme multidão, o faz para dentro do caminhão, deixando todos perplexos, contudo a calma passa a reinar por um tempo. Um dos personagens está ferido, havia uma mulher enfermeira e quando vai ver o ferimento ele não deixa que o toque por ser mulher. Os dois adolescentes têm a mesma idade, um garoto e uma menina, mas muito radicais como seus pais. Comida nem pensar, água só a do esguicho do exército. Chega a noite e os ânimos se acalmam, durante a madrugada um pouco mais. O camburão finalmente parte e os deixa isolados e trancafiados. O desespero é total. A conduta deles muda de foco, pois passam a se ver mais como seres humanos do que como seres políticos. No terço restante do filme, tentam ajudar-se para sair daquela situação. O final dessa obra prima é muito interessante. Fica evidente a posição das pessoas de fora atirando uma contra as outras e dos que finalmente conseguiram escapar do camburão. Diálogos incrivelmente bem redigidos, uma direção primorosa. Absolutamente imperdível, ainda mais para os brasileiros de hoje que vivem em uma tremenda polarização politica.


Nenhum comentário: