ESHTEBACK, EGITO, 2016, 97 MIN., DRAMA
ELENCO:
NELLY
KARREM
HANY ADEL
AHMED MALEK
Este deve ser um dos melhores
filmes em cartaz, pois seu diretor Mohamed Diab consegue construir um
microuniverso com cerca de 20 pessoas de diferentes idades, gêneros e
pensamentos políticos, confinando-as em um mesmo local. Passa-se durante a
queda do presidente islamita Morsi, no Cairo-Egito, um dos países árabes mais
representativos. A Polícia lutava contra a Irmandade Muçulmana, que gostaria de
ficar no poder. O filme começa com um camburão velho, seguindo para o centro da
cidade, onde havia a confrontação entre as duas facções. No final da jornada há
um verdadeiro campo de guerra e eles prendem dois jornalistas, tirando seus
documentos, câmeras, enfim tudo. Um deles protesta por ser egípcio-americano,
então é tratado como tal e preso à grade do veículo por uma algema.
Inconsoláveis logo recebem a companhia de uma família inteira, pai, mãe e
filho, logo depois um membro da Irmandade, sujeito muito baixo e gordo, com um panela na cabeça,
à guisa de capacete. Um velho com a filha adolescente também é capturado, assim
como dois grandes amigos e muitos outros personagens desiguais. O camburão fica
lotado de pessoas com idades e intuitos bastante diferentes que se engalfinham
entre si. Seus ideais políticos são díspares demais. Nesses momentos o filme
chega a ser cômico, pelas situações inusitadas e tacadas que cada um dá contra o
outro. Tudo é motivo para discussão. E a porta só abre para pegar mais gente,
não deixando ninguém sair. A filmagem é de dentro para fora, através das
pequenas janelas gradeadas, ou, muito pouco, de fora para dentro: a visão de
quem via todo aquele absurdo acontecendo. Finalmente resolvem separar os da
Irmandade e os da Polícia. Um líder controla a situação. O local é exíguo, não
tem água e muito menos um banheiro. O tempo vai passando e essas necessidades
vão surgindo. O caos chega a um ponto que a Polícia que jogava jatos de água
para dispersar a enorme multidão, o faz para dentro do caminhão, deixando todos
perplexos, contudo a calma passa a reinar por um tempo. Um dos personagens está
ferido, havia uma mulher enfermeira e quando vai ver o ferimento ele não deixa
que o toque por ser mulher. Os dois adolescentes têm a mesma idade, um garoto e
uma menina, mas muito radicais como seus pais. Comida nem pensar, água só a do
esguicho do exército. Chega a noite e os ânimos se acalmam, durante a madrugada
um pouco mais. O camburão finalmente parte e os deixa isolados e trancafiados.
O desespero é total. A conduta deles muda de foco, pois passam a se ver mais
como seres humanos do que como seres políticos. No terço restante do filme, tentam
ajudar-se para sair daquela situação. O final dessa obra prima é muito interessante.
Fica evidente a posição das pessoas de fora atirando uma contra as outras e dos
que finalmente conseguiram escapar do camburão. Diálogos incrivelmente bem
redigidos, uma direção primorosa. Absolutamente imperdível, ainda mais para os
brasileiros de hoje que vivem em uma tremenda polarização politica.
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