quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Caos calmo de Antonio L. Grimaldi














Este drama familiar baseado no romance homônimo de Sandro Veronesi, nos fala da perda precoce de um ente querido da família e suas implicações, portanto acho que Luto Reprimido, também seria um bom título. A primeira cena passa-se em uma praia sofisticada da Itália, onde dois irmãos Pietro (Nanni Moretti) e seu irmão Carlo (Alessandro Gassman) passam as férias e estão jogando raquete de praia, bem ao pé do mar. Em seguida ouvem-se gritos de socorro, pois duas mulheres estavam se afogando. A primeira reação dos irmãos é pular na água para salvá-las, mas ao fazerem são interpelados por alguns homens que acham o fato perigoso e que não deveriam ir. Elas são resgatadas e os salvadores vão para casa. Ao chegar na casa de veraneio Pietro vê uma ambulância, sua filha pequena chorando e sua jovem mulher caída ao chão. Ela está morta. O funeral é discreto e abalado ele pega sua filha, que o culpa por não estar presente naquele momento de dor e morte, e tenta dar continuidade à vida dos dois. Começa uma nova relação de entrega total e sentimento de culpa, pois Pietro não sai mais do lado da filha. Ele a veste, penteia, alimenta e conta histórias na hora de dormir. No dia em que as aulas recomeçam, o pai promete para Claudia (Blu di Martino) que não sairá do banco da praça, em frente à escola, até que a aula termine. Esse ritual é repetido todos os dias, portanto Pietro passa a trabalhar na praça, tomando conta da menina em tempo integral. Na hora do lanche, Claudia sempre acena para ele da janela de sua sala de aula, sentindo-se mais segura, já que é a única pessoa que lhe resta. Eles passam todo o tempo juntos, sem dificuldades ou críticas. Um afetuoso mundo se abre para eles, pois Nanni passa a conhecer os freqüentadores da praça, pessoas que antes nunca vira. Brinca com um menino portador de síndrome de Down, almoça com o dono de uma cafeteria existente no lugar, cumprimenta uma linda jovem que passeia todos os dias com seu grande cachorro. Sendo um executivo, seus colegas de trabalho também o procuram lá, para resolver as pendências e pedir conselhos, pois a firma será comprada parcialmente por uma multinacional francesa. Com isso a praça passa a ser seu ambiente, seu alento. Visitado pela cunhada, ficamos sabendo que tiveram um caso anteriormente e que sua esposa pouco falava de sua vida particular, inclusive que já estava muito doente. Pietro se admira do pouco que sabia sobre a própria mulher, mas os relacionamentos humanos são sempre assim: pensamos que conhecemos tudo das pessoas próximas, mas não é verdade. Alguns têm percepções particulares reservadas e não as revela a ninguém. Nanni enfrenta grandes dificuldades com as reuniões de pais e mestres e não sabe bem o que fazer com a rotina escolar da filhinha, mas acaba se saindo muito bem em todos os aspectos. Seu irmão é dono de uma marca famosa de jeans e muito conhecido pela sociedade italiana. Ele é um ídolo para sua sobrinha e às vezes faz companhia para ela. Em um dos jantares que freqüenta acaba, por acaso, conhecendo a moça que Pietro salvara, e ela fica muito perturbada, fato que é comentado com o irmão. Na corporação, o seu melhor amigo o trai profissionalmente e uma série de problemas passam a acontecer com a venda da empresa. Isabella Ferrari (a moça salva por Pietro) o procura e quer saber quem foi o homem que pediu para que ele não a salvasse. Uma trama se desenvolve diante disso. Pai e filha não prateiam a morte da mãe, fato que chega a incomodar as outras pessoas. Pietro ainda não chorara nenhuma vez para não desabar a estabilidade de sua pequena filha. Ele tenta alimentar sua estabilidade emocional e manter-se natural e calmo. Mas isso não lhe faz bem e no decorrer da história, Pietro entende o quanto o luto é necessário para sua sanidade mental. Sua filha lida com a perda mais naturalmente, chegando a pedir que ele não fique mais trabalhando na rua e a venha buscar somente na hora da saída, como fazem as mães de todas as outras crianças!
Esse drama é poético, apesar do tema, e tem um lado humorístico desenvolvido com muito critério e pertinência. O desempenho de Nanni Moretti e da jovem Blu di Martino é convincente. Como curiosidade o famoso empresário comprador da firma é Roman Polanski!

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