quarta-feira, 22 de outubro de 2008

FATAL de Isabel Coixet





ELEGY – elegia (poema quase sempre terno e triste) dirigido por Isabel Coixet é um belo drama baseado no livro “O Animal Agonizante” do ganhador do prêmio Pulitzer de Literatura, Philip Roth. Discute-se a posição de um famoso professor de crítica literária que além de escrever para um jornal e lecionar, tem um programa na televisão educativa sobre artes em geral. Nas primeiras cenas David Kepesh (ótimo Bem Kingsley), um senhor de sessenta e poucos anos, está falando sobre o puritanismo americano e de uma ilha de liberdade, onde o sexo, bebida e qualquer vício eram permitidos, mas que desaparecera antes dos anos cinqüenta e que o sexo só reaparecerá nos anos sessenta, com o movimento paz e amor. Depois disso, em seu belo apartamento, ele olha a chuva e se lembra de Tolstoy[1] que havia mencionado que o homem tem uma enorme surpresa na vida quando se depara com uma coisa inesperada: a velhice, quando ainda é inteiramente viril interiormente. Esse homem culto e de certa forma frio, devido a um casamento mal sucedido onde abandonara a mulher e um filho pequeno, não quis mais ter nenhuma forma de comprometimento pessoal. Uma vez a cada vinte ou trinta dias recebe, por vinte anos, a visita de uma ex-aluna, já madura, que pensa precisamente como ele e mora em Seattle. No início do ano letivo ele observa uma aluna Consuela (ótima Penélope Cruz), filha de cubanos ricos que fugiram para os Estados Unidos. O professor a acha belíssima, elegante em sua postura e muito bem vestida. A aluna o admira com sua atenção e seus belos olhos negros. Encantado por ela desabafa-se com seu melhor amigo George, um velho colega e poeta premiado, que também tem seus casos com suas alunas, apesar de ser casado há muitos anos e ter uma filha. O tempo vai passando e ele resolve conquistar Consuela, pois era uma mulher a ser seduzida e não tomada. Depois de um coquetel dado aos alunos, a convida para um teatro e depois disso, ambos fazem amor, não sem um grande prelúdio, onde ele a compara com A Naja Vestida de Goya. Ela é uma obra de arte perfeita em tudo, principalmente seus magníficos seios. Um relacionamento um pouco conturbado se inicia e por estar perdidamente apaixonado descobre um enorme ciúme que não conhecia. É aconselhado por George a deixá-la, pois um dia isso ocorrerá por parte dela. Decido a separar-se, convida-a a passear pela praia, mas para sua perplexidade pede-lhe que o acompanhe pela Europa, em uma viagem de amor, onde cantaria em uma gôndola para ela, em Veneza! Enciumado passa a persegui-la, mas Consuela resolve perguntar-lhe o que deseja dela: um relacionamento ou apenas mais uma aventura. Apesar disso continuam a se encontrar por mais de um ano, até que ela se forma e o convida para sua festa, afim de que conheça sua família. Ele não responde e a jovem de vinte e quatro anos, quer que ele vá espontaneamente. (O filme é entremeado por cenas imaginárias do que poderá ocorrer com os dois, que são muito divertidas). Agora ele se imagina na festa, com suas tias, seus pais e amigos mais jovens que o olhariam com escárnio. Decide-se por ir, mas ao chegar perto de sua casa, liga para sua namorada dizendo-lhe que não poderá comparecer, pois seu carro quebrara na ponte George Washington e dependerá de um guincho para tirá-lo do lugar. Decepcionada, chora com o telefone na mão e seu rosto colado ao vidro da sala, embaçado pela chuva que cai. Ao chegar ao apartamento, desolado, é surpreendido pela campainha que toca e seu filho Keny, médico de quarenta e dois anos, entra. Viera para se aconselhar com seu pai, pois apesar de amar sua mulher e os dois filhos, estava apaixonado por alguém muito especial, que não conseguia esquecer ou se afastar. Keny simboliza a vertente puritana americana. David o aconselha a largar a mulher e começar vida nova, mas é criticado pelo médico, que estaria repetindo o modelo de seu pai, que sempre fora considerado por Keny um libertino vulgar. George o consola pela perda de Consuela, que nunca mais o procurara e o poeta confessa estar se reencontrando com sua mulher, apesar de tantos anos juntos e ao mesmo tempo afastados. Começavam a conversar novamente! Nosso herói, que está deprimido pelo afastamento de sua aluna, recebe a atenção de George, que o convida a apresentá-lo em um evento sobre sua poesia. Hesitante aceita a oferta e ao terminar seu discurso de apresentação pede ao amigo que se levante e fale, mas este cai ao chão inconsciente, sofrendo um ataque cardíaco. Pouco depois Kepesh vê novamente seu filho, mas se despede com pressa, pois irá ao enterro do melhor amigo! Concentrando-se somente em seu trabalho, depois de dois anos, acredita ter se recuperado de suas mais recentes perdas, mas não, ainda pensa em Consuela. Sua ex-aluna madura, sentindo-se envelhecida, quer ter um relacionamento mais confortável, onde possam dialogar e David revela-lhe que estivera apaixonado por uma aluna, que nunca mais vira. Depois de uma aula, liga a secretária eletrônica e lá está o recado que tanto temera receber. É Consuela que deseja vê-lo, tendo algo a revelar que não quer que saiba por outros. Amedrontado, dá-se um tempo para retornar a chamada e pede para que entre imediatamente, pois estava em seu carro, estacionado em frente ao prédio. Com os cabelos curtos e ainda mais bonita, trocam um longo abraço e ela lhe confidencia que terá de tirar um seio, pois está com câncer. David chora e fica mais amedrontado do que a jovem. Consuela quer saber se faria amor com ela, já deformada. Ele conta que a belíssima Hipólita havia decepado seu próprio seio, para poder caçar melhor. Pedindo-lhe um último favor, a jovem quer ser fotografada com seus seios nus impecáveis, antes que fique mutilada. Entristecido David a reproduz na mesma posição de A Naja Desnuda! Operada, ele visita seu filho oncologista para saber de suas chances após a intervenção. Ao se despedir, perguntando sobre sua mulher e filhos, fica sabendo que ainda estão juntos e levando a vida. Nesse final do filme Consuela já está se recuperando da cirurgia, tendo deixado a UTI. Deitada no leito hospitalar quer saber se ele acha que ela está muito deformada e perdera sua beleza. David Kepesh deita-se ao seu lado e acariciando-a no rosto e em seus cabelos passam, desse modo, o resto da noite.



Jamais podemos esperar um final feliz nos livros de Roth, pois ele é um realista e transcreve para seus trabalhos parte de seus problemas pessoais. Assim temos peças literárias muito críveis e absolutamente legítimas. Ao ver esse filme, vale muito à pena, se você ainda não os conhece, começar a ler seus incríveis romances. A diretora faz um trabalho primoroso e os personagens estão muito bem em seus papéis.
[1] Um dos maiores escritores russos autor de Guerra e Paz.

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