sábado, 18 de outubro de 2008

A GUERRA DOS ROCHAS De Jorge Fernando





Esta comédia simpática, inspirada no ótimo e didático filme italiano Parente é Serpente de Mario Monicelli, dirigida por Jorge Fernando e estrelada por Ary Fontoura nos apresenta um tema muito recorrente e sofrido, mas apresentado de maneira bem-humorada. Trata-se do dilema de pessoas idosas, que depois de terem criado e educado seus filhos não têm mais onde morar e suas vidas viram de cabeça para baixo. As relações familiares deterioradas através dos anos e a violência camuflada dos parentes são o mote da história, que nos causa um riso solto, mas de grande constrangimento. Começamos com uma animação muito divertida, retratando o Rio de Janeiro e um belo bairro muito verde e montanhoso, com casas antigas grandes e confortáveis. Logo isso se transforma nas primeiras tomadas do filme, com Dona Dina (ótimo Ary Fontoura), uma senhora de mais de oitenta anos, porém lúcida e forte, chegando à sua casa. Tudo está em desacordo com seu gosto: os papéis da mesa, a chaleira que apita, e o pão que é feito em uma máquina moderna. Colocando tudo em ordem (a sua ordem) vemos que mora com o filho Marcelo (Lúcio Mauro Filho) e sua nora (Taís Araújo) e um filho pequeno. A nora, furiosa por ela ter mexido em seus documentos, e seu filho acham que já basta de ela morar com eles. Mandam-na embora e Dina segue para a belíssima residência de César (Marcelo Antony) advogado hipocondríaco, que vive na casa de sua mãe, com a histérica mulher (Giulia Gam) e sua filha adolescente. Ao chegar é muito mal recebida, a não ser por sua adorável neta e o namorado. Questionada sobre o que fazia lá, responde que esta é sua casa e que não podia morar debaixo de uma ponte. Desesperados enxotam-na da sua própria habitação e a pobre se vê obrigada a buscar o último recurso: o filho mais velho Marcos Vinicius (Diogo Vilela) um senador corrupto, investigado pela CPI do congresso. Sua nora (Ludmila Dayer) é uma mulher sem classe, que se casara por interesse e o casal também não quer saber da pobre Dona Dina Rocha, que contra sua vontade, mas por sua idade, mostra-se uma pessoa que aponta erros alheios e diz o que pensa. Desanimada e flanando pelo bairro, encontra-se com sua amiga Nonô, também viúva, sua vizinha. Convidada ela aceita a tomar um chazinho na casa de Nonô, quando trocam farpas a respeito dos filhos, pois o assunto entre elas é curto e rotineiro. Na mesma rua dois trombadinhas assaltavam carros e levavam o que continha dentro deles. Com a polícia no encalço entram na casa de Nonô, apontando o revolver para as pobres idosas. Lá abrem o resultado do roubo e encontram um grande caixa de chocolates finos que começam a comer e mais tarde oferecem para suas reféns. Os chocolates são recheados com algo muito especial, que faz com que eles comecem a se soltar, gargalhar e achar tudo maravilhoso. Antes, porém as duas são trancadas no banheiro, de onde podem ver César e Ludmila aos beijos e abraços. Durante as peripécias de Nonô e Dina, seus filhos haviam marcado um encontro para definir com quem ela ficaria, entretanto isso se transforma numa briga de foice, onde os irmãos se odeiam e as cunhadas se digladiam. Ofensas e cobranças, típicas das famílias que estão querendo se desfazer de algo que incomoda muito, são trocadas com bofetões e insultos. Essas cenas, apesar da gravidade são embaraçosamente hilárias, pois não existe alguém que já não passou por isso e os diálogos são “típicos”. Todavia no meio da gritaria geral, recebem um telefone do instituto médico legal, avisando que uma senhora com as descrições de Dina, fora atropelada por um ônibus. Todos, muito aliviados por terem o problema tão desagradável resolvido pelo destino, vão ao IML, com exceção de César e Ludmila, que amantes ficam felizes pela oportunidade caída do céu. Aí é que entra a cena das duas velhinhas espiando pelo vidro do banheiro. Uma chama o filho da outra de corno e veado, respectivamente. Ao serem libertadas do lugar e compartilharem da comilança dos bombos recheados de droga, Dina, espertamente, liga para a polícia chamando por socorro. Nesse ínterim, um belo e comovente velório realiza-se na suntuosa sala de jantar da senhora Rocha, com seu caixão em cima da mesa recoberta por esplêndidas rosas vermelhas. Sua nora Júlia, subira ao quarto da sogra a procura de um vestido e acha, acidentalmente, uma arca onde estão os pertences mais valiosos da finada. Sem largá-la nem por um segundo é perseguida e contestada pela família, deixando os convidados perplexos, principalmente o padeiro do bairro, que era apaixonado por Dina. Na casa ao lado, as senhoras são libertadas, mas Nonô está muito infeliz, pois adorara o “barato” que estava tendo. As duas entram na casa de Dina pelos fundos e podem escutar o que o filho mais velho dizia - “proporia uma lei para que pessoas pudessem se livrar do peso da velhice”. Furiosas as amigas entram na sala através de um açalpão, e Dina desfere uma tapa no rosto de César para que ele conheça o peso da velhice! A arca é aberta, na presença da senhora Rocha, por Júlia, as cunhas e os irmãos e as jóias que esperavam encontrar são pequenas lembranças e fotos de seus filhos pequenos, que tanto amara. A televisão está lá, entrevistando o corrupto e em certo momento, chega um velhinho judeu a procura do corpo de sua mulher que fora confundida com Dina para levá-la consigo! O circo armou-se e a cortina já caiu. No terço final do filme, vemos um navio maravilhoso singrando as águas da Baía de Guanabara com um destino que não ficamos sabendo. Dentre os passageiros felizardos estão as duas amigas, felicíssimas pelo cruzeiro, oferecido pelos filhos para se livrarem dela, numa cabine de luxo. Passeando pelo convés, observam um cartaz, com o rosto mascarado de uma cantora, deixando somente seus grandes olhos azuis de fora. Nonô parece reconhecê-los e à noite dirigem-se para o teatro. A cantora com voz maravilhosa faz um show de música clássica, quando as mulheres se sentam e imediatamente Nonô reconhece que os olhos são do seu filho que desaparecera depois do casamento, abandonando mulher e filho para ela cuidar. O travesti, olhando para sua mãe, tira a peruca e desce correndo as escadas do palco para abraçá-la, expondo a todos que ela é sua mãe. Dina por sua vez reafirma o que pensava, veado. Ao seu lado acomoda-se um senhor e ela pede para que saia, pois o lugar já estava ocupado Mas ele não é outro senão o padeiro que a amava. O filme fecha com um beijo entre os dois circundado por um coração muito vermelho. Final feliz, bem diferente de Parente é Serpente, que acaba com uma explosão de um botijão de gás que mata os pais inconvenientes.
O elenco tem um bom desempenho, mas Ary Fontoura e Giulia Gam, sem dúvida alguma, são os melhores.

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