sábado, 22 de novembro de 2008

FELIZ NATAL de SELTON MELLO











Um dia de sol, uma cortina banhada por cores avermelhadas que balança, e atrás uma copa de árvore. Um pátio repleto de carros velhos e um jovem acompanhado do cachorro. Ele lava bem as mãos e depois faz amor com sua companheira, sob o chuveiro. Depois sai e viaja até um casarão repleto de pessoas e muito iluminado. Quem atende é um garoto de 7 anos, que o chama de tio Caio. Ele é Bruno, levando-o para ver a família que comemora uma festa: FELIZ NATAL! ... Esta é uma narrativa, pesada, sobre diversos fatores comuns em famílias irregulares. Caio (ótimo Leonardo Medeiros) é um rapaz sofrido e extremamente contido, que resolve visitar sua família, na noite de natal, a fim de se depurar, de se redimir de seu passado conturbado e encontrar, talvez, outro enfoque para sua vida. Há muitos anos não os via, pois estivera afastado de seus parentes e de seus amigos, por motivos pessoais. A primeira pessoa que vê é a cunhada, mas seu foco é a mãe (excelente Darlene Glória), uma bela senhora alcoólatra e viciada em drogas. Seu irmão Theo (primoroso Paulo Guarniere) o observa, sempre com um sorriso nos lábios e olhos brilhantes e sensíveis. É o tipo de homem que carrega seu destino com aceitação e tolerância. Seu pai (Lúcio Mauro em perfeita atuação) é o mais perfeito cafajeste, que demonstra em seu rosto marcado e enrugado, seu cinismo. A trama é muito bem elaborada e descrita com calma, para que você absorva todas as suas nuances que vão do claro ao mais escuro tom de qualquer palheta de cores. Vários fatores são tratados nesse filme: disfunção familiar, dependência em drogas pesadas, desejo de restauração pessoal, remorso, intolerância paterna e fatalidade. Caio mora em uma pequena cidade e é dono de um ferro velho, tendo a companheira que o satisfaz. Theo é casado, esteio da família, morando em uma grande casa, e sustenta seus parentes mais próximos sem nenhuma lamentação, ao contrário com resignação! A visita de Caio causa um grande mal estar entre os familiares que vêem no que ele foi, o próprio espelho de suas vidas mal construídas e deterioradas. As crianças são os observadores e seguidores atentos dessas mazelas familiares. Todos guardam cuidadosamente seus segredos inconfessáveis e suas cóleras mudas, principalmente nosso herói. Ele, entretanto, quer se redimir de seu passado, para poder ter a paz de espírito que almeja alcançar. Os dois primeiros terços do filme nos dá essa noção global da peça, com cenas emocionantes como o encontro dos dois irmãos para tratar de dinheiro, e a “preparação” de Mércia, a drogada, para um espetáculo terrível, que é assistido por seu neto. Porém acontecem, talvez, mais dois clímaces, que nos preparam para o final do filme, que não ocorre, causando no espectador atento um cansaço, pela tensão em que se posiciona. Finalmente vemos a mesma cortina, tingido de tons avermelhados, com a mesma copa da árvore, e uma das crianças relembrando as atitudes dos mais velhos. A cortina balança e a cena termina. Outra cortina translúcida, do mesmo tom, se fecha rapidamente, com o cotidiano familiar dos moradores do ferro velho, que é visto através da transparência do cortinado. É um final aterrador, mas que arremata as tragédias desses personagens delirantes!

Um comentário:

Anônimo disse...

A sinopse está muito bem feita.
Podemos perceber que o filme é pesado, tenso e pelo trabalho dos atores mencionados, parece-me que Selton, agora diretor, foi muito bem em sua primeira experiência.
Diria que, pelo conteúdo, não assistiria esse filme.