sábado, 6 de junho de 2009

A PARTIDA de YOJIRO TAKITA





Apesar do tema doloroso, a morte nos lembra que é, em muito, parte da vida. Esse é, apesar do tema, um filme leve com passagens de pura comédia.
Esse trabalho, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009, inicia-
se com uma carro vindo ao longe, no meio de uma densa neblina. Próxima cena: é o preparo de um funeral de uma jovem que morrera, ninguém sabe ao certo como. Daigo (ótimo Masahiro Motoki) prepara o cadáver para sua última morada. Ele trabalha nessa rara profissão, que no Japão é considerada especialmente impura. Na verdade esse cellista perdera seu emprego, pois a orquestra em que tocava em Tóquio fora dissolvida, sendo forçado a ir com sua mulher para a cidadezinha onde nascera,já que sua mãe havia morrido há dois anos e lhe deixara a casa como herança. A encantadora propriedade fica à beira de um riacho e era um café, construído por seu pai, que abandonara a família, quando Daigo tinha apenas 6 anos. Ao chegarem ele é atraído por um anúncio de emprego que parece ser de uma agência de turismo. Contudo tratava-se de empregar alguém para preparar os mortos para sua última viagem, antes de serem cremados. Ele aceita o cargo pelo alto salário e por falta de outra opção. Sua repulsa inicial, pois nunca havia visto um cadáver antes, é aos poucos substituída pelo afeto e compreensão que esses rituais oferecem às famílias desoladas. Em cada casa o drama é diferente e isso passa a enriquecer sua compreensão de vida. Mika não fazia ideia do que era seu trabalho e sente-se muito feliz. Entretanto, ao descobrir sua verdadeira ocupação, dá-lhe as costas, indo morar com seus pais, assim como seus amigos de infância, pois há no Japão, embora não explicitamente, a casta dos intocáveis, os burakumin, que agora ele representa. Indignado com a atitude dos conterrâneos, continua fazendo o que passara a gostar, assim como a tocar seu violoncelo infantil. O instrumento achara intacto, com uma grande pedra áspera amarrada a ele. Seu pai havia sido um amante da música clássica ocidental e colecionara uma importante quantidade de discos. Daigo, agora sozinho, tem na figura de seu chefe a imagem do pai que gostaria de ter tido. O tempo vai passando e um dia, ao chegar em casa, depara-se com Mika que voltara. A jovem implora-lhe para que deixe o emprego, pois não se importava com dinheiro e além do mais estava grávida. A expressão do jovem músico é de alegria e dor. Providencialmente o telefone toca e ele tem de realizar o funeral de uma senhora, a quem amara desde a infância. Sua mulher o acompanha e, aos poucos, vai se deslumbrando com a maestria, técnica e amor demonstrados durante o ritual. Aceitando-o passam a viver, harmoniosamente, a espera do nascimento do filho. Em seus passeios junto às pedras do rio, ele escolhe uma particularmente lisa e branca, dando-lhe de presente. Sem compreender o significado daquilo, Daigo explica-lhe que esse é um costume milenar - as pedras cartas - que começara antes da escrita. Quando você amava alguém dava-lhe uma pedra que demonstrasse seu estado de espírito. Mika compreende, então, que ele estava muito feliz e também o significado da grande pedra que ele trocara com seu pai, quando era muito pequeno. Pouco depois recebe um telegrama para que retire o corpo do pai, que havia morrido. Daigo recusa-se a resgatá-lo. Jamais o reconheceria e não o via há mais de trinta anos. Cedendo aos pedidos de Mika seguem para uma cidade portuária, onde seu pai havia sido pescador, por todos esses anos. Com a chegada do serviço funerário serviço funerário, Daigo, que ainda estava ensimesmado, não admite que o corpo seja colocado no esquife sem uma cerimonia de purificação. Começa a lavar as mãos daquele homem estranho, sendo que uma delas estava dura e difícil de abrir. Para sua surpresa, vê a pequena pedra-carta que havia trocado há tantos anos com seu velho pai, que certamente o amara muito. À medida que vai lavando seu rosto, lembra-se de passagens de quando estavam unidos e felizes e, finalmente, consegue encontrar a imagem verdadeira de sua face. Isso o redime do ódio e da culpa que sentira. No quarto final do filme, vemos lindas cerejeiras em flor, os rios cujas águas passam ligeiras e Daigo em sua verdadeira vocação: cuidar dos mortos e consolar as famílias entristecidas. Você com certeza dará boas risadas nesta tragicomédia, mas prepara-se para levar um lencinho que irá precisar muito dele! Essa é uma estória cheia de minúcias e simbolismos. Vale a pena conferir!! Música excelente de Joe Hisaish.

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