domingo, 14 de junho de 2009

STELLA de SYLVIE VERHEYDE









Esse excelente drama escrito e dirigido por Sylvie Verheyde é uma autobiografia, que se passa em 1977, Paris, quando ela mesma era uma garota que iria para a quinta série. O filme aborda além da ascensão espetacular de Stella, a vida e costumes franceses dessa época, enfocando muito a formação familiar francesa, que se mostrava bastante disfuncional.
Stella (ótima Léora Barbara) mora com seus pais em um bar, na periferia de Paris. O ambiente é pesado, promíscuo, perturbador, mas é nesse lugar que a menina de onze anos terá sua formação pessoal. Lá ela vivencia o abuso do álcool, brigas, infidelidades, jogos de todo tipo. A garota fora transferida para uma prestigiada escola, longe de sua casa, em um programa chamado enseignement national (ensino integrado nacional). Esse ambiente é totalmente diverso do que possuía, com alunos de nível cultural e social bem superior ao seu. Isso faz com que ela se exclua, voluntariamente, não participando das aulas e com desempenho escolar muito fraco. Ela é inteligente e observadora, porém sua bagagem de vida é muito diferente daquelas “crianças protegidas”. Sua realidade é a dos adultos, com suas frustrações e dificuldades, tendo ela a essa idade quase que um “passado”. Seus pais não a estimulam e não fazem questão de que ela estude. Sua avó mora no norte do país, onde ela passa suas férias. A senhora é quase uma prostituta. Com essa vivência ela não vê graça nas aulas, com exceção da matéria História, pois a professora “contava a vida das pessoas” e é precisamente isso que interessa à nossa heroína. Sentando ao lado da melhor aluna da classe, Gladys, filha de intelectuais argentinos, surge uma amizade baseada em semelhanças e diferenças, pois ambas tinham pais mais permissivos do que o normal. Convivendo com Gladys, ela passa a conhecer Balzac, Duras e outros grandes nomes franceses. Ela percebe que a escola e a erudição serão sua tábua de salvação para uma vida mais digna e culta. Também escuta discos emprestados pela amiga, os quais falam sobre a vida e seus encantos e desencantos. Com esse pano de fundo, essa extraordinária garota molda, sozinha, o futuro que gostaria de ter. Com fibra enfrenta diversos dissabores que advêm de seu rito de passagem da infância para a adolescência. Apesar do tema tão pesado, o filme é leve e sem julgamentos, apresentando, apenas, os fatos em si. Vemos, através de Stella, que a vida da diretora desse filme não foi fácil, mas ela tornou-se o que queria ser: uma intelectual respeitada. Parabéns Sylvie.

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