segunda-feira, 1 de março de 2010

O SEGREDO DE SEUS OLHOS de JUAN J. CAMPANELLA









Escrito pelo diretor, baseado em um romance de Eduardo Sacheri
SPOILERS!

Esse interessantíssimo romance policial é estrelado pelo ótimo Ricardo Darín como o policial Benjamin Espósito e a eficiente e expressiva Soledad Villamil, jovem advogada Irene Hastings, chefe de departamento. Começa em 1999, quando Espósito está aposentado e escrevendo um romance sobre o caso que mais marcou sua carreira: o assassinato de uma jovem recém-casada com um bancário, Ricardo Morales. Era um casamento feliz e apaixonado. Vinte e cinco anos após o ocorrido e, sem que o réu tenha sido punido, Benjamin começa o esboço de seu romance e leva algumas páginas à bem sucedida Irene, para que opine e o ajude a lembrar-se de mais detalhes. O filme começa a ser mostrado na forma de flashbacks em 1974. Esse fora um caso do qual se encarregara, com má vontade, mas ao ver o corpo da jovem vítima espancado e ensanguentado, interessa-se pelo caso, que o perseguirá por toda vida. É ajudado por seu assistente alcoólatra Pablo, todavia um homem muito perspicaz e inteligente. Seu rival Romano, prende dois imigrantes bolivianos para encerrar o caso e agradar seu superior. Isso, contudo, enfurece Espósito. Benjamin é um personagem raro – discreto, sensível, brilhante, observador de pequenas coisas e um homem que respeita seu lugar em uma escala social imaginária. Ajudado por Morales, descobre entre fotografias antigas, o rosto de um jovem, Gomez, que a venera com o olhar e isso será o fato determinante para considerá-lo culpado. Ajudado por Irene, em uma armadilha bem formada, acaba confessando o crime e preso, mas é solto porque fazia parte da vigilância espúria do peronismo. O desenrolar desse filme, através de seus personagens tão humanos, abre pequenas gavetas, muito bem trancadas, que se depositam no cérebro de qualquer ser humano, as quais vão sendo abertas, estudadas e compreendidas após anos de escuridão e isolamento. Benjamin Espósito, desde que conhecera a aristocrática Irene, nutre por ela uma admiração que evolui para paixão, mas nunca tem a coragem, por sua origem, de declarar seu amor a ela. Quando o assassino é solto começam a passar por perigo de vida e seu assistente, que estava em sua casa, é morto em seu lugar. Arrasado, vê-se obrigado a ir para uma província distante para preservar a vida. Isso é conseguido pela influência da rica família de sua chefe. O encantamento entre os dois não desaparece, mesmo após seu casamento com um engenheiro e uma família constituída. Em um dado momento o filme se fixa em 1999 e Benjamin resolve ir para o Sul, onde morava o marido da vítima, que não queria que Gomez morresse, mas ficasse em regime de prisão perpétua para pagar todo o mal de já fizera. Encontrando-o, após tanto tempo, depara-se com um homem de meia-idade emagrecido e tristonho, morando em uma propriedade rural. Conversando sobre o passado ele pede ao policial que se esqueça dele e leve a vida adiante, pois ele já havia feito isso. Pressionado por Espósito, conta-lhe que tinha encontrado Gomez, que vivia na mesma região, havia atirado nele e se desfeito do corpo. A justiça havia sido cumprida. Entretanto Benjamin, no dia seguinte bem cedo, descobre que esse senhor mantinha em cárcere privado sua vítima, apenas alimentando-o e não trocando, por 24 anos, uma palavra sequer com ele. Gomez sente-se meio enlouquecido. Benjamin retorna para Buenos Aires a fim de acabar seu livro, depositar flores no túmulo de Pablo, uma homenagem final e arriscar-se em declarar seu grande amor a Irene, que nunca havia deixado de amá-lo. É um final feliz, mas creiam-me, é muito bem vindo porquanto a tensão e evolução do filme clamam para que assim o seja. O desempenho de todo o elenco é ótimo, bastante convincente para quem conhece os hábitos portenhos. Nota dez. Indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro.

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