LAS ACACIAS, ARGENTINA-ESPANHA/2010, 85 MIN., DRAMA
ELENCO:
GERMAN DE SILVA - RUBÉN
HEBE DUARTE - JACINTA
NAYRA CALLE MAMANI - ANAHY
Realmente o cinema argentino está
numa fase fantástica. Este é mais um exemplo como com um orçamento menor,
pode-se fazer o que há de melhor. Um filme de pouquíssimos diálogos e muita
observação por parte dos atores e do público. Seu diretor ganhou a Câmera de
Ouro no Festival de Cannes de 2011, merecidamente. Primeira cena: Numa floresta,
entre os galhos de árvores a luz do sol é filtrada por eles, com belo efeito.
Um barulho ensurdecedor de motor ocorre no local, não sabemos se um carro ou
uma moto. Uma árvore tomba e é derrubada por uma motosserra. Na cena seguinte
uma parte considerável dessa floresta foi derrubada e os troncos são colocados
em caminhões que partirão para Buenos Aires. O dono da firma é Fernando. Rubén,
seu empregado caminhoneiro, espera com um semblante fechado e cansado o fim da
operação enquanto fuma um cigarro após o outro. Quando parte, a câmera fixa-se
em seu rosto, o que acontecerá até o fim da película. O filme se passa
praticamente todo na boleia de seu veículo. Logo adiante uma jovem uruguaia
chega, pois a pedido de Fernando ele deverá conduzi-la até a capital argentina.
Não está nada satisfeito em ter uma companhia feminina e mais ainda porque ela
carrega sua filha de cinco meses no colo e aquilo não fora acordado. Ríspido,
pede para ver seus papéis e não tem um único gesto fraterno. Elas são mais duas
toras que estão ao seu lado. Porém essa companhia indesejada renderá muitos
frutos. O bebê é só um bebê, e se encanta por ele. Sorri o tempo todo que está
acordado e até lambe sua mão como se
fosse uma chupeta. Seu semblante vai vagarosamente se soltando. A mãe nada fala
e só responde às perguntas concernentes à viagem. Ficamos sabendo que é uma nativa paraguaia e o bebê não tem pai. Irá
para Buenos Aires a procura de trabalho. Nas escaladas obrigatórias ele vai
sozinho para os restaurantes de beira de estrada enquanto ela aquece a mamadeira
e cuida do sua filha que não chora, só dorme, come e sorri. Aos poucos um
vínculo entre ele e a menina se estabelece. Apenas as expressões e os olhares é
que contam a história. Numa dessas paradas, ela descobre, através de uma foto,
que ele tem um filho. Questionado mais adiante, sabemos que não o vê há oito
anos e o conheceu apenas quando tinha quatro. Todo o carinho e relacionamento
que poderia ter tido com seu menino é transferido para Anahy, que não para de
se apaixonar por Rubén, o qual chega a pedir para segurá-la, enquanto sua mãe
telefona. Não vemos atração visível de Jacinta por ele, só gratidão pela
carona. Quando chegam à cidade, na hora da despedida algo totalmente inusitado
ocorre e aí vemos o que pode advir para aquele homem fechado em sua armadura de
solidão e amargura, que finalmente encontra pessoas que possam ser amáveis a
ele. É um filme sensacional que fala sobre a solidão e os desencontros humanos
de uma maneira altamente diferenciada sem precisar de grandes artifícios de
oratória desnecessária. É na simplicidade que se encontra seu diferencial. Um
dos melhores filmes do ano, realmente.
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