segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O TEMPO E O VENTO DE JAYME MONJARDIM

BRASIL, 2012, 127 MIN, DRAMA
ELENCO:
FERNANDA MONTENEGRO – BIBIANA
THIAGO LACERDA – CAPITÃO RODRIGO
MARJORIE ESTIANO – BIBIANA JOVEM
CLÉO PIRES –
Este belo longa metragem é o segundo de Jayme Monjardim, o primeiro foi o ótimo Olga. Apesar da imprensa não dar uma boa avaliação é uma obra bem sucedida, tanto no desempenho dos atores como na fotografia. A direção é segura. Este épico, baseada no livro de Érico Veríssimo, passa-se no fim do século XIX, culminando na Revolução Federalista (1893-95) e conta a saga de duas famílias inimigas mortais - Amaral e Terra-Cambará, no Rio Grande do Sul, região bela, fria e inóspita no inverno com seu vento cortante. Muito da história do Brasil da época das missões e dos ataques dos castelhanos é mostrada e bem desenvolvida, mostrando a formação desse estado.  Começa com um indiozinho filho de branco e uma nativa, que vai parar nas missões dos jesuítas. Ele se transforma num Terra e toda sua descendência vai ser contada, através de um relato de Bibiana (ótima Fernanda Montenegro) durante o ataque dos Amaral ao casarão dos Terra-Cambará na cidade de Santa Fé. Com o sítio que dura vários dias, a comida acaba e a bisavó Bibiana Terra-Cambará, que está com febre, sente a presença de seu jovem marido, capitão Rodrigo, que morrera há décadas, durante uma emboscada. Com o relato e lembranças que conta ao marido, vemos o destino irregular dessas duas famílias, pois o capitão era um forasteiro, mas um bravo soldado que se apaixonara por Bibiana Terra, tirando-a do filho do Coronel Amaral, que também queria desposá-la. O desempenho de Thiago Lacerda, como capitão Rodrigo Cambará, é forte e belíssimo. O relato histórico é importante, pois muitos não sabem o que ocorreu durante essa sangrenta e dura guerra civil, que separaria o Brasil. Creio que mais filmes históricos deveriam ser produzidos, pois nossa história é rica, pela dimensão do país, e muito pouco aproveitada pelos cineastas. Bom programa!
"Naquela tarde de princípios de novembro, o sueste que soprava sob os céus de Santa Fé punha inquietos os cata-ventos, as pandorgas, as nuvens e as gentes: fazia bater portas e janelas: arrebatavam de cordas e cercas as roupas postas a secar nos quintais: erguia as saias das mulheres, desmanchava-lhes os cabelos: arremessava no ar o cisco e a poeira das ruas, dando à atmosfera uma certa aspereza e um agourento arrepio de fim de mundo.
Por volta das três horas, um funcionário da Prefeitura assomou à janela da repartição e olhou por um instante para as árvores agitadas da praça, exclamando: "Ooô tempinho brabo!"
Num quintal próximo, recolhendo às tontas as roupas que o vento arrancara do coradouro e espalhara pelo chão, uma dona de casa resmungava: " É para um vivente ficar fora do juízo!"(...)
— O Tempo e o Vento/O Retrato




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