segunda-feira, 31 de agosto de 2015

QUE HORAS ELA VOLTA? DE ANNA MUYLAERT






BRASIL, 2015, 112 MIN. DRAMA
ELENCO:
REGINA CASÉ – VAL
CAMILA MÁRDILA – JÉSSICA
MICHEL JOELSAS – FABINHO
KARINE TELES- PATROA
LOURENÇO MUTARELLI – PAI DE FAMÍLIA
Diretora dos ótimos Durval Discos e É Proibido Fumar, Anna Muylaert compõe este filme, Que Horas Ela Volta?, baseado na relação com sua babá, que ganhou vários prêmios como de melhor atriz, Regina Casé e Camila Márdila, no festival americano de Sundance e prêmio de público no Festival de Berlim. Talvez seja indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. É uma história emocionante que vem de longa data neste nosso Brasil pós-colonial, desde casa grande e senzala. O peso da atuação de Regina Casé é fundamental para o desenrolar da trama, passando uma grande carga de emoção. Val (Regina Casé) é uma pernambucana que trabalha há anos em um casarão no Morumbi e uma espécie de faz tudo. Criou o filho da patroa que é mais apegado a ela do que aos pais, uma segunda mãe. Com Val discute seus problemas, é considerado inteligente e lindo, ainda mais, quando não consegue dormir procura a segurança em sua ex-babá. A família não se mexe do lugar nem para pegar um simples copo de água, tudo é atendido com solicitude pela empregada que não para um minuto sequer e sabe bem qual seu lugar na casa: em um quartinho pequeno e mal ventilado. Contudo, com o mito brasileiro, é considerada “da família”. As coisas começam a mudar quando recebe um telefonema da filha, Jéssica, pois Val fora obrigada a deixá-la em Pernambuco e ser criada por outra pessoa, enviando quase todo seu salário todos os meses por mais de 12 anos. Há três anos não se falavam e a garota vai prestar vestibular na FAU para arquitetura e quer ficar com a mãe. Começa a tensão social. Jéssica é inteligente, teve ótimos professores, gosta de ler e deseja a verdadeira cidadania para a qual está preparada. Ao chegar, a patroa não gosta dela, mas é obrigada a hospedá-la no quarto de hóspedes por sugestão do marido, que havia se encantado com Jéssica, por sua segurança, articulação e maturidade. Val fica desesperada com as atitudes da filha e principalmente pelo fato de ela “não saber o seu lugar” nesta cruel sociedade paulistana. Tudo é proibido, da comida e principalmente à piscina. Conflitos ocorrem e a garota resolve, na véspera do vestibular, sair da casa e ir para um canto qualquer. O interessante é que apesar da filha ser desprestigiada, Val continua amorosa e orgulhosa de Fabinho, sem conflitos pela intensa convivência que tiveram a vida toda. Fabinho, mimado, não passa no vestibular e Jéssica, solitária nessa ocasião tão angustiante, passa com pontos de folga. A constrangida empregada nem sabe como dar a notícia, mas está repleta de orgulho e satisfação. Jéssica, através de suas atitudes, muda as expectativas de vida da mãe e a convence que o futuro poderia ser melhor através da convivência das duas e de outro tipo de vida. Ótimo filme, com cenas muito bem resolvidas e espirituosas. O desempenho de Regina e Camila é muito convincente e nada estereotipado. Ótima direção e roteiro. Como curiosidade, vejam que, durante uma festa, Val oferece salgados e doces para os convidados e eles sequer olham para ela. É um ser invisível.

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