terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O FILHO DE SAUL DE LÁSZLÓ NEMES





SAUL FIA, HUNGRIA, 2015, 107 MIN., DRAMA
ELENCO:
GÉZA RÖHRIG – SAUL

Esse é um ótimo filme que concorre ao Oscar como melhor filme estrangeiro e vem causando muita polêmica e isso é bom, pois diversifica os pontos de vista. Laszlo Nemes de apenas 38 anos, queria radicalizar e conseguiu. Foi vencedor de dois prêmios no Festival de Cannes de 2015. Em um formato de tela quadrada, como fotos antigas, ele é desfocado ao longe e só foca no personagem principal e no que estiver muito próximo dele. Contudo palavras, gritos, choros e comandos serão ouvidos, mas nem tudo é traduzido, uma pena, pois para quem tiver um mínimo de conhecimento de alemão enriquecerá muito a compreensão das atrocidades. Quem vir este filme não precisará assistir mais nada sobre os campos de concentração da Segunda Guerra Mundial. Durante o Holocausto, grupos de homens judeus fortes e jovens eram escolhidos, em número de setenta, para conduzir sua própria raça à morte. Quando chegava o trem com o “carregamento” de humanos, eram conduzidos para a sala de banho pelo Soderkomanndo, em um campo de concentração. Saul é um desses homens que apesar do livre acesso ao campo, comida e algum diálogo em voz baixíssima, sabem que também morrerão em seis meses e serão substituídos por outros jovens. Essa é a atitude mais cruel, pois o serviço sujo de despi-los, mandá-los à câmara de gás, limpar o local e jogar um volume inacreditável de cinzas que restavam desses corpos no rio, é dos próprios judeus, que sabem que passarão pelo mesmo e estão cometendo um ato de horror supremo: matar seus pares, tirar-lhes os pertences valiosos e os médicos fazerem autópsias, nos casos em que os nazistas consideravam interessantes.  Isso é muito bem mostrado, pedaços de corpos, gritos tenebrosos e a lida para a limpeza do local. Tudo para não deixar vestígios. Saul é circunspecto, fala pouco, mas durante um desses massacres vê um menino que acredita ser seu filho e não morreu com o gás. Tirado de lado, pois era um caso raríssimo, é examinado e morto pelo médico nazista, mas deverá ir para a sala de autópsia. Saul se apavora, pois não quer que seja retalhado e espera dar um funeral judaico ao garoto. À procura de um rabino para fazer o que fosse certo, nos conduz ao último ciclo do inferno de Dante. O corpo do filho é levado pelo próprio pai à uma mesa. Pede ao médico que não o retalhe, mas ele também era um prisioneiro e precisava cumprir ordens. A derrocada de Saul, que já era grande, torna-se algo inefável, procurando sempre ocultar o corpo, que coincide com os últimos dias antes que fossem mortos, e existe um plano de fuga ao qual não pode dar a devida atenção e muitas vidas dependiam do esforço pessoal de cada um. É uma tragédia atrás da outra sem precedentes e na penúltima cena temos um momento de humanidade, quando Saul, já totalmente esgotado, dá um meio sorriso ao ver uma criança. Arrebatador. Creio que levará a estátua dourada. 

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