quinta-feira, 21 de julho de 2016

AGNUS DEI DE ANNE FONTAINE



LES INNOCENTES, FRANÇA, POLÔNIA, 2016, 100 MIN., DRAMA
ELENCO:
LOU DE LAÂGE – MATHILDE BEAULIEU
VICENT MACAIGNE – MÉDICO
AGATA BUZEK


A Segunda Guerra Mundial é uma fonte inesgotável de acontecimentos alarmantes, mas muito pouco se fala sobre as mulheres durante esse período terrível para a história contemporânea. Anne Fontaine baseia-se em fatos reais, ocorridos durante o gélido inverno na Polônia, 1945, precisamente em um convento de freiras. Aqui se discute não somente a guerra em si, mas também os efeitos dela sobre o sexo feminino e seus desdobramentos quanto ao pertencimento de seus próprios corpos. O filme começa com um coro de freiras jovens e noviças entoando suas orações. Ao final dela, uma das jovens foge correndo à procura de um médico para uma emergência. Esbarra, na Cruz Vermelha, com a médica Mathilde Beaulieu, ateia e comunista, que não dá nenhuma importância ao fato. Depois do ato cirúrgico que ajudara a realizar, olha pela janela e vê a freirinha coberta de neve, ajoelhada e ainda rezando por ajuda. Isso ela não vai ignorar e segue para o convento. O que parecia algo banal, vai se desenvolver em uma cadeia de acontecimentos impressionantes. Na volta para seu hospital, Mathilde é parada por soldados, que tentam abusá-la, sendo salva por um coronel. Pode sentir na própria pele esse assustador sentimento. Durante a guerra o Exército Vermelho da Rússia invadiu o convento, estuprando as jovens, deixando-as grávidas ou sifilíticas.  São criaturas desesperadas pelo ocorrido em seus corpos, impondo vida dentro deles sem que o desejassem. Anne Fontaine vai analisar e explorar com delicadeza e realidade as mais diversas reações silenciosas dessas mulheres recolhidas na religião, indo do total desespero, questionamentos sobre a fé e a constatação de que ter um filho foi natural para virgem Maria. A Abadessa é cruel e não tem piedade, pois ela mesma fora vítima de sífilis, que se espalhou pelo seu organismo, sem que desse um gemido de dor, recusando qualquer tratamento, seria o desígnio de Deus. Mathilde é bem recebida pelas freirinhas, dando amparo médico e humano. O plano inicial da Abadessa seria deixar essas crianças abandonadas à própria sorte. Descoberta, o rumo do filme muda. Serão vários partos na mesma época e Mathilde precisará revelar o segredo e pedir ajuda a seu namorado, também médico. O desenrolar do filme é real e muito inesperado, permitindo que as últimas cenas sejam comoventes. Ótimo roteiro, com atuação primorosa do elenco feminino polonês. Lou de Laâge está impecável como jovem médica. A fotografia é belíssima e o som também. Imperdível.


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