UNE VIE, FRANÇA-BÉLGICA, 2017, 119 MIN. DRAMA.
ELENCO:
JUDITH CHEMLA – JEANNE
JEAN-PIERRE DARROUSSIN – BARÃO
YOLANDA MOREAU – BARONEZA
SWANN ARLAUD – JULIEN DE LAMARE
FLORENCE VIGNON – ROSALIE
Une Vie (1883), livro de Guy de
Maupassant, serve como base para esse belo filme de época. Jeanne (Judith
Chemla César de melhor atriz), filha de barões, é uma jovem sem nenhuma
experiência de vida, muito religiosa, que após terminar seus estudos em um
colégio interno de freiras, volta para casa a fim de ajudar seus pais, que
moram na Normandia de 1819. Ele é um homem de hábitos simples, apesar de
riquíssimo, que tenta passar suas experiências à filha. O filme começa com o
barão ensinando jardinagem à garota, que vai pegando gosto por tudo que se
apresenta de novo. A antiga e belíssima mansão fica no litoral francês, com o
cenário deslumbrante do mar batendo forte nas pedras da praia. Sua mãe é
bonachona, alegre e se contenta em reler as cartas da juventude para passar o
tempo. Na casa trabalha Rosalie, que tem a mesma idade de Jeanne, e são íntimas
como amigas. Um belo dia aparece o jovem arrivista, Julien De Lamare, escolhido
pelos pais para se casar com Jeanne. Ele é aristocrata, mas sem nenhum tostão,
pois pagara as dívidas de jogo da família. Com uma aparência agradável, a
prometida apaixona-se por ele. Irão morar na mansão e ele será como um filho
para o casal. Esse é o começo de um drama social muito frequente na França do
século 19, quando os casamentos eram escolhidos e as mulheres completamente
submissas. Jeanne acredita na nobreza de sentimentos, na verdade e que seu
papel era servir à família, ao marido e filhos. Sua felicidade seria essa vida
casta e pura. Mas quanto infortúnio vai vê-la passar por conta disso! Logo depois
do casamento começam as decepções e agressões às mulheres em geral. O marido
avarento, jogador e mulherengo vai minando sua alegria de viver. Adultérios,
falsidades, negócios espúrios e muitas vezes as mentiras da própria família,
como acontece com Jeanne, são recorrentes. Depois da morte de sua mãe, descobre
o motivo de tanta felicidade, para seu desespero. A igreja católica exercia um
papel destrutivo na orientação dessas vítimas, que se sentiam culpadas, algozes
de seus predadores. O desenrolar é fortemente exasperante diante da inação de
Jeanne, não por conformismo, mas por dever. Ela vai perdendo tudo, marido,
família, propriedades. A repetição de seu comportamento com o filho sem caráter
como o pai faz com que Jeanne afirme, agora morando na casa de Rosalie e sem
mais nada, que a vida, afinal de contas, não é tão boa nem tão má, como se crê.
Adepta o estoicismo? O diretor ficou 20 anos esperando uma oportunidade para
realizar o filme. Com poucos diálogos, tomadas especiais e com o ambiente como
outro personagem, a história nos conduz à reflexão do papel da mulher desde
sempre.
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