segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

INCÊNDIOS DE DENIS VILLENEUVE











INCENDIES, CANADÁ/2010, 130MIN.
ELENCO:
Nawal Marwan (Lubna Azabal)
Jeanne Marwan (Mélissa Desormeuaux-Polin)
Simon Marwan (Maxim Gaudette)
Indicado ao Oscar de filme estrangeiro

CUIDADO!! SPOILERS!!
O assunto do filme não poderia ser mais próprio para o momento, quando os países árabes estão em rebelião por liberdade e direitos civis, através de sua juventude. GÊMEOS ou INCÊNDIOS é quase um épico que conta a saga de uma heroína moderna, de origem árabe, vivendo no Canadá com um casal de filhos gêmeos, Jeanne e Simon. Começamos com imagens áridas de um coqueiro, no meio de pedras, e um sujo e ensangüentado orfanato, onde meninos têm os cabelos rapados por soldados. Um zoom, no pé de um deles, mostra a tatuagem de três pintas verticais no pé direito. A seguir imagens da religião católica. O diretor usa flashbacks, para que esta história, em um país ficcional, tenha seu suspense garantido e possa ser mais bem compreendido. Em um cartório do Canadá, o notário lê o testamento de Nawal Marwan, morta aos 60 anos, para os filhos. Nele ela estipula que quer seus bens e dinheiro dividido entre os irmãos, quer ser enterrada nua com o rosto virado para o solo e sem lápides e mais duas cartas que deverão ser entregues ao pai e ao irmão, cujas existências desconheciam até o momento. Uma terceira carta seria lida após a missão cumprida. Sabemos também que é cristã, pois deixara um crucifixo para a filha. Eles estão cursando a universidade e Jeanne estuda matemática pura, sendo ótima no que faz. A conselho de seu professor ela não deverá viajar para o Oriente Médio, baseada em um coeficiente duvidoso, mas a partir de um dado concreto, que é a universidade onde estudara a mãe, donde conhecia um dos professores. Deveria também seguir seus instintos que era o principal contexto da matemática pura. Retornando ao passado, mal conseguimos distinguir entre mãe e filha de tão parecidas que são e pelas roupas que nada mudam nas vilas árabes. Nawal tornara-se a vergonha da família ao namorar um rapaz de outra etnia, que é assassinado pelo seu irmão. A avó, que cuida deles, desespera-se quando ela confessa que está grávida, mas promete que após o parto doará o bebê se ela for morar com o tio, na cidade, e cursar uma universidade, a fim de fugir de sua sina de pobreza e humilhações. Isso ocorre e a jovem está cursando línguas, quando irrompe uma guerra, nos anos setenta. Cristãos e mulçumanos estão envolvidos NESSA CORRENTE DE ÓDIO, que a heroína gostaria de exterminar. Como estudante politizada, envolve-se com um partido político universitário e se vê obrigada a fugir para o sul, católico, com o término forçado das aulas. Durante o percurso o que quer, na realidade, é encontrar o orfanato de seu filho, mas encontram-se incendiados e ninguém sabe o paradeiro dos meninos. Nos intervalos dessas cenas, vemos a filha decidida a encontrar suas origens, perambulando sozinha de uma região para outra, seguindo, atentamente, os passos de sua mãe. Em uma vilazinha, onde é bem recebida pelas mulheres locais, é auxiliada por uma jovem que fala francês e ao pronunciar o nome de sua família e mostrar sua foto é repudiada por todas e considerada desonrada. Sem saber a razão, continua seu caminho, mantendo-se em contato com o irmão, que não quer saber de sua ascendência, pelas atitudes contidas e temperamento reservado de sua mãe. Sabia que algo horrível o esperava. Os mesmos lugares são mostrados, após os bombardeios da época e como estão nos dias atuais, dando grande força à narrativa. Em sua fuga Nawal, depois de ter sido metralhada por católicos e quase morta, acaba trabalhando como tutora de um garoto e mudando sua posição política. Ele era filho de uma rica família cristã muito influente, mas sua intenção principal é matar o mais alto representante árabe católico, freqüentador da casa ou o dono (não fica muito claro), que fora o causador de tantas explosões e mortes. Conseguindo seu intento, após o tiro não reage e é levada à pior prisão política do estado. Lá é encarcerada, torturada, entretanto não se curva, passando a ser admirada até pelos opositores e seu apelido passa a ser “A Mulher Que Canta”, pois assim conseguia aumentar a firmeza de caráter. Sua filha, ao visitar o presídio, é acompanhada por um guia que conta a história do cárcere e, chegando à cela da mãe, Jeanne mostra novamente sua foto e pergunta se alguém poderia reconhecê-la. Enviada a outros locais, fica sabendo que sua mãe fora uma heroína a qual, depois de treze anos encarcerada, havia sido estuprada inúmeras vezes pelo pior algoz de toda a região. Assim essa jovem engravida novamente e, inconformada, faz de tudo para abortar o bebê. Após nove meses, ocorre o parto na prisão e quem a atende é uma boa parteira que sentencia: o primeiro já veio e é um menino, agora vamos ao segundo. Ela tivera gêmeos que seriam atirados no rio e mortos. Entretanto, essa personagem resolve ajudar a brava mulher e cuida dos bebês até que ela saia da prisão. O mesmo chefe que a forçara ao assassinato, agora quer que ela fuja para o Canadá e leve os filhos. A surpresa da existência dos gêmeos a deixa consternada, uma vez que acreditava na morte deles e a lembrança do pai das crianças era tremendamente dolorosa. Mas esse homem insiste que os filhos a ajudarão a formar uma família e adaptar-se à nova situação. De volta ao presente, Jeanne pede ao irmão para vir ajudá-la, pois a pressão é muito grande. Com ele vem o notário, Jean Lebel, que havia contratado Nawal como secretária por quinze anos e a quem a família se afeiçoara. O paradeiro de pai e filho continua ignorado, apesar de ser muito bem investigado. Simon é encarregado de achar o irmão, através de vários contatos e viagens com os olhos vendados. Finalmente, sabe-se que o irmão mais velho não havia morrido, contudo fora transformado em franco atirador, treinado pelo exército. Obcecado com a idéia de encontrar a mãe enlouquece e torna-se um grande torturador. Ao voltar do encontro, Simon está febril e delirante, pois afirma para a irmã que um mais um é UM e não DOIS. Com o desenrolar do drama, um senhor idoso conta que ele mudara de nome e fora morar no Canadá. Em uma piscina pública, vemos a tensa Nawal nadando para se relaxar e ao sair da piscina depara-se com um homem forte com a tatuagem em três pontos no pé direito. Era seu filho. Quase paralisada, é cumprimentada por ele, e ela “o reconhece”. Ocorre que o choque é tão grande que, levada ao hospital em estado catatônico, está prestes a morrer (essa é umas das primeiras cenas do filme). As cartas são entregues ao soldado árabe estuprador pelos jovens, com o auxílio do notário. Abrindo o envelope, “ao pai”, Nawal conta sua história de estupro “pelo próprio filho” e quem são os seus filhos. Aterrorizado, abre a outra carta, “ao filho”, e aí vem a redenção. Narra sua incessante busca por ele, seu amor e seu perdão, a fim de que acabasse A CORRENTE DE ÓDIO que invadiu aquelas almas. Os irmãos gêmeos, chocados, finalmente entendem a trajetória épica da mãe e concordam em realizar seu último pedido, a redenção, o sepultamento digno. Na cena final, Simon visita o cemitério, olhando a lápide de sua mãe com nome e data de nascimento e morte. O sol brilha sobre o mármore.

O diretor assistiu a esta peça de teatro do libanês Wadji Mouawad e solicitou os direitos autorais para transformá-la em filme. O resultado não poderia ter sido melhor, mas alguns comentaristas o chamaram de folhetim ou com um final pouco aceitável. Não é. Na realidade é um épico como os da antiguidade, cuja heroína é uma mulher. O país e a guerra são fictícios, mas foi filmado principalmente na Jordânia e em Montreal.

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