quinta-feira, 8 de março de 2012

O PORTO DE AKI KAURISMAKI








LE HAVRE, FRANÇA, ALEMANHA, FINLÂNDIA, DRAMA, 93 MIN.
ELENCO:
ANDRÉ WILMS – Marcel Marx
KATI OUTINEN - Arletty
JEAN-PIERRE DARROUSSIN – comissário Monet
BLONDIN MIGUEL - Idrissa

Aki Kaurismaki, diretor finlandês, ganhou prêmio Fipresci com esta belíssima fábula moderna, todavia totalmente diferente de Drive, outra fábula, que também está em cartaz. O assunto é polêmico, pois aborda a imigração dos integrantes das ex-colônias africanas muçulmanas da França para este país, com resultados desastrosos. O delicado filme, de colorido forte e luz centrada no rosto do interpretes, conta uma história passada no bairro decadente do porto, em frente ao Canal de Suez. O idoso Marcel Marx, o herói, mais parece um intelectual empobrecido, pois era um boêmio na juventude, que ainda carrega uma forte carga de dignidade e cultura. Casado com Arletty, uma verdadeira Amélia brasileira, não a merece na opinião dos vizinhos. São donos de pequenas mercearias, bares, cafés, aos quais está sempre devendo dinheiro e sendo criticado por seus atos desagradáveis. Porém adora a mulher que terá de ser internada, com um câncer terminal. Ela implora ao médico que não lhe conte nada, pois sucumbiria. Mas milagres podem acontecer, responde o doutor. A relação do casal é de verdadeiro amor e confiança. Tudo nessa fábula é muito diferente desse mundo cruel e individualista em que vivemos, e esse é o grande trunfo do diretor. Marx trabalha como engraxate, apesar da idade, em esquinas mais movimentadas. Agora, sozinho, descobre um menino negro escondido em baixo de uma ponte. Ele está sendo procurado pela polícia, pois fora o único a conseguir escapar de um contêiner do cais. Seu semblante franco encanta o solitário Marx, que fará de tudo para encaminhá-lo para a Inglaterra, onde vive clandestinamente sua mãe. Vem de boa família, pois o pai era professor. Os amigos, pessoas necessitadas, entretanto dotados de compaixão e espírito de solidariedade embarcam nessa missão com o amigo, que se vê engrandecido na opinião deles. O próprio temido inspetor de polícia fará sua parte. Sempre muito asseado e romântico leva algumas poucas flores e bombons para a mulher. Esses pequenos atos de amor ao próximo são mostrados, atos que às vezes até nos esquecemos de que existem. O dinheiro para que ele seja levado a salvo junto à mãe é alto, mas um inesperado show de roque beneficente, protagonizado pelo roqueiro de cabelos brancos e rugas, Little Bob (Roberto Pizza), dará conta do recado. O final dessa fábula, obviamente, é bem feliz. O diretor nos faz crer que estamos há décadas passadas com suas cores e movimentos. É um filme genial, que tenta mostrar como a solidariedade e a compaixão pode resolver quase tudo em qualquer segmento de nossas vidas. Programa imperdível, talvez o mais sensível filme dos últimos tempos.

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