CAVE OF FORGOTTEN DREAMS, ALEMANHA, FRANÇA, CANADÁ, REINO
UNIDO, EUA/2010. 90 MIN. – DOCUMENTÁRIO
Este deslumbrante filme de Herzog
tem sido aplaudido e premiado pela crítica. Esta foi a primeira vez que o
cineasta alemão trabalhou com 3D. Em 1994, um pequeno grupo de cientistas
descobre, no sul da França, uma ventilação especial. Aí se dava o início do que
seria a maior descoberta de uma caverna de 30.000 anos, totalmente desenhada
com arte rupestre. Ela foi denominada Caverna de Chauvet, nome de seu
descobridor, possuindo 424 representações de animais de catorze espécies –
cavalos, leões, bisões, águias, ursos, etc, - mais um enorme agrupamento de estalactites
e estalagmites, dos mais diferentes formatos. Esse local tem acesso muito
restrito, mas Herzog conseguiu junto ao governo francês uma permissão para
filmar, com câmeras não profissionais, e uma equipe de três homens o interior
da caverna. Para ter o resultado desejado apelou para a técnica do 3D. Com essa técnica o espectador pode ter toda a
força desse maravilhoso sítio histórico. A entrada original foi fechada, devido
a uma avalanche de pedras que cerrou a entrada natural, grande e clara. Na abertura
temos uma grande sala, onde possivelmente ritos religiosos eram realizados,
visto que há um crânio de urso em cima de uma pedra altar. Os caminhos são
baixos, escuros e tortuosos, tendo apenas uma estreita passarela, uma corda e
às vezes um corrimão para apoiar-se, pois é proibido tocar em qualquer parte
dela. As imagens impressionam pela força, beleza, proporcionalidade, realidade
e perspectiva. Os pintores iam até lá com tochas na mão e aproveitavam as
sinuosidades das paredes para imprimir movimento em suas imagens. Um grupo de cavalos e outro de leões são
maravilhosos. Os rinocerontes, os bisões e até mesmo uma águia e alguns insetos
são retratados. Um animal apresenta oito patas em vez de quatro para oferecer
essa sensação de mobilidade. Os desenhos são incrivelmente reais, proporcionais
e realçados com um produto preto, com luz e sombra. Marcas de mão vermelhas de
um artista formam outro conjunto intrigante, pois o artista tinha o dedo mínimo
torto e isso é gravado em suas incursões. Ficamos sabendo que os Alpes, nessa
época do Gelo e da Pedra, tinham uma superfície gelada de 2.500 metros de
espessura, permitindo o acesso à Grã-Bretanha e Alemanha a pé, porém, com o
degelo o mar subiu 90 metros, tornando essa comunicação impossível. A caça a
tantos animais carnívoros e enormes era feita com tipos diferentes de lanças,
sempre fortes e muito pontiagudas. A música estava lá presente, com uma flauta
tosca, mas que um dos cientistas consegue tocá-la, com os mesmos furos e
técnicas atuais. As esculturas eram sempre femininas e uma única masculina,
encontradas em outros sítios. As formas
femininas eram realçadas nos seios, ventre e órgão genitais, de suma
importância. A masculina é uma representação de corpo de homem com cabeça de
leão. Outra curiosidade é que os leões das cavernas não tinham jubas como os
das savanas africanas e o urso da caverna era o maior da Europa na época. O
frio fazia com que andassem cobertos com pele de rena e sapatos grossos, para sobreviverem.
Muitíssimo interessante avaliar como seria a vida dessas pessoas, seus valores,
medos, expectativas em tempos tão longínquos. Além de um ser um belíssimo
filme, nos leva a uma série de reflexões sobre a atual vida moderna e a nossa
péssima relação com a natureza, tão pungente naqueles idos da pedra lascada.
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