segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS DE WERNER HERZOG



CAVE OF FORGOTTEN DREAMS, ALEMANHA, FRANÇA, CANADÁ, REINO UNIDO, EUA/2010. 90 MIN. – DOCUMENTÁRIO

 

Este deslumbrante filme de Herzog tem sido aplaudido e premiado pela crítica. Esta foi a primeira vez que o cineasta alemão trabalhou com 3D. Em 1994, um pequeno grupo de cientistas descobre, no sul da França, uma ventilação especial. Aí se dava o início do que seria a maior descoberta de uma caverna de 30.000 anos, totalmente desenhada com arte rupestre. Ela foi denominada Caverna de Chauvet, nome de seu descobridor, possuindo 424 representações de animais de catorze espécies – cavalos, leões, bisões, águias, ursos, etc, - mais um enorme agrupamento de estalactites e estalagmites, dos mais diferentes formatos. Esse local tem acesso muito restrito, mas Herzog conseguiu junto ao governo francês uma permissão para filmar, com câmeras não profissionais, e uma equipe de três homens o interior da caverna. Para ter o resultado desejado apelou para a técnica do 3D.  Com essa técnica o espectador pode ter toda a força desse maravilhoso sítio histórico. A entrada original foi fechada, devido a uma avalanche de pedras que cerrou a entrada natural, grande e clara. Na abertura temos uma grande sala, onde possivelmente ritos religiosos eram realizados, visto que há um crânio de urso em cima de uma pedra altar. Os caminhos são baixos, escuros e tortuosos, tendo apenas uma estreita passarela, uma corda e às vezes um corrimão para apoiar-se, pois é proibido tocar em qualquer parte dela. As imagens impressionam pela força, beleza, proporcionalidade, realidade e perspectiva. Os pintores iam até lá com tochas na mão e aproveitavam as sinuosidades das paredes para imprimir movimento em suas imagens.  Um grupo de cavalos e outro de leões são maravilhosos. Os rinocerontes, os bisões e até mesmo uma águia e alguns insetos são retratados. Um animal apresenta oito patas em vez de quatro para oferecer essa sensação de mobilidade. Os desenhos são incrivelmente reais, proporcionais e realçados com um produto preto, com luz e sombra. Marcas de mão vermelhas de um artista formam outro conjunto intrigante, pois o artista tinha o dedo mínimo torto e isso é gravado em suas incursões. Ficamos sabendo que os Alpes, nessa época do Gelo e da Pedra, tinham uma superfície gelada de 2.500 metros de espessura, permitindo o acesso à Grã-Bretanha e Alemanha a pé, porém, com o degelo o mar subiu 90 metros, tornando essa comunicação impossível. A caça a tantos animais carnívoros e enormes era feita com tipos diferentes de lanças, sempre fortes e muito pontiagudas. A música estava lá presente, com uma flauta tosca, mas que um dos cientistas consegue tocá-la, com os mesmos furos e técnicas atuais. As esculturas eram sempre femininas e uma única masculina, encontradas em outros sítios.  As formas femininas eram realçadas nos seios, ventre e órgão genitais, de suma importância. A masculina é uma representação de corpo de homem com cabeça de leão. Outra curiosidade é que os leões das cavernas não tinham jubas como os das savanas africanas e o urso da caverna era o maior da Europa na época. O frio fazia com que andassem cobertos com pele de rena e sapatos grossos, para sobreviverem. Muitíssimo interessante avaliar como seria a vida dessas pessoas, seus valores, medos, expectativas em tempos tão longínquos. Além de um ser um belíssimo filme, nos leva a uma série de reflexões sobre a atual vida moderna e a nossa péssima relação com a natureza, tão pungente naqueles idos da pedra lascada.

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