segunda-feira, 5 de maio de 2014

CÃES ERRANTES DE TSAI MING LIANG






JIAO YOU, CHINA, FRANÇA/ 2013, 138 MIN. DRAMA.
ELENCO:
LEE KANG SHENG - PAI
YANG KUEI MEI
LU YI CHING
Consagrado e premiado diretor malaio de 56 anos, radicado na China, foi laureado pelo Júri no Festival de Veneza de 2013 com esse trabalho. O filme tem um ritmo lentíssimo, quase sem diálogos e planos longos. Não é para qualquer um, pois temos cenas de quase 13 minutos estáticas. Na de abertura, que demora mais de cinco minutos vemos duas crianças dormindo e a mãe preocupada escovando os longos cabelos. A seguir você terá de prestar muita atenção para não se perder. Um homem, seu único ator em vários filmes, pega um barco e sai com dificuldade por causa da bebida que ingere. Logo depois vemos as crianças que dormiam e em seguida brincavam em uma praia, vagando pela cidade de Taipei, em Taiwan. Um homem-placa é mostrado em cenas alternadas executando seu trabalho embaixo de chuva e frio. Ele treme e chora, cantando uma canção de desesperança e perda de uma nação. Trata-se do alcoólatra pai das crianças, que estão sob sua reponsabilidade, comendo restos de comida, dormindo juntos embaixo de construções e se lavando em banheiros públicos. Ele sofre muito, mas as crianças parecem ter uma vida mais leve, perambulando pelas ruas e por um supermercado. Lá encontram uma funcionária que irá ajudá-los de algum modo, pois também é muito pobre. São pessoas que trabalham, mas não tem um lar para descansar depois de um dia duro de labuta e nenhuma perspectiva de futuro. A moderna cidade vibrante é mostrada para intensificar o contraste entre essas realidades. Cães abandonados são vistos em uma construção inacabada, que possui um belíssimo mural com a paisagem montanhosa da ilha em preto e branco. Sob minha ótica, os cães do título são os personagens. O filme tem umas interrupções abruptas, onde a tela fica escura e parte para outros desafios. Contudo o enredo se arrasta, apesar da linda fotografia. O terço final parece ser feliz, mas não sabemos exatamente o que acontecerá àquela família. Uma das cenas mais pungentes é quando insone Lee Kang Sheng, o pai, recai sobre uma boneca com o rosto de repolho, pintado pela filha, e a beija com paixão, para depois sufocá-la com seu travesseiro e devorá-la em um ato antropofágico e colérico, para desabar em um choro compulsivo. É uma das mais longas do filme, entretanto comovente. Cinema cabeça para quem gosta desse tipo de filme.

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