quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

BIRDMAN OU A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA DE ALEJANDRO G. INÃRRITU






ELENCO:
MICHAEL KEATON – RIGGAN THOMAS
EMMA STONE – FILHA
EDWARD NORTON – MIKE SHINER
ANDREA RIEBOKE – NAMORADA
AMY RYAN - EX-MULHER
ZACH GALIFLANAKIS – PRODUTOR
Escrito e dirigido pelo premiado diretor mexicano, Alejandro González Iñarritu, Birdman é um dos longas mais intrigantes dos últimos tempos. Michael Keaton foi escolhido para o papel, ou melhor, o filme foi escrito para ele, pois por duas vezes consecutivas foi Batman e recusou a terceira temporada. Desse modo, conhece a fundo as experiências de interpretar um super-herói. O filme fala sobre a carência de amor e aprovação própria do ser humano, principalmente dos artistas que são pessoas muito mais sensíveis e que precisam, na maioria das vezes, do aplauso do público para atuar. Essa compreensão, afeição e cumplicidade que pautam as nossas vidas podem ser muito perigosas se não as conseguimos até certo ponto, pois causam baixa autoestima, medo e frustações. E esse é o pano de fundo dessa história e da peça que nela passa: um conto do cultuado escritor americano, Raymond Carver, um alcoólatra que morreu aos 51 anos. Com um de seus melhores desempenhos, Keaton vive o papel de um ator famoso em Hollywood, Riggan Thomas, que depois de fazer por duas vezes Birdman se recusa a fazer a terceira parte da série e cai em certo ostracismo. Agora, mais velho, quer retomar sua carreira de maneira séria e resolve escrever a peça de teatro mencionada, dirigi-la e estrelá-la como tentativa de recuperar a confiança em si mesmo, o domínio sobre seu trabalho e resgatar sua família. O resultado é um filme totalmente surreal, pelas dificuldades encontradas por ele. Começa com o herói em seu camarim, em posição de yoga, tentando se acalmar para os últimos ensaios. Ocorre que quando o vemos ele está simplesmente levitando. Depois disso segue para o palco do teatro St. James, na Broadway, e tem uma séria discussão com outro ator por considerá-lo canastrão. Mas qual não é a surpresa e o riso quando um spot de luz cai do alto e o nocauteia. Riggan acredita ter resolvido o problema com o poder da mente. Sua namorada é a principal atriz da peça e consegue convencer seu ex-companheiro, um famoso ator da atualidade (Edward Norton), a vir substituí-lo. Isso gerará uma tremenda confusão, pois vaidoso e egocêntrico partirá para competir com Riggan em todos os sentidos, como diretor, ator, antigo amante da atriz e sedutor de sua filha, a ótima Emma Stone, a qual após um período internada em uma clínica de recuperação em drogas, buscará o apoio paterno que nunca fora muito eficaz. O quadro de Salvador Dalí está completo com suas figuras de cores fortes e distorcidas, a fim de, como Inãrratu, nos envolver o mais intensamente possível. A incrível trilha sonora de um baterista pulsará no ritmo das atuações e de nossos corações afoitos pelo próximo desenlace. Há também uma crítica de teatro importantíssima, que, antecipadamente, assegura que derrubará sua peça com poucas linhas no jornal. É um embate sensacional no qual ele pergunta o que faz um crítico de teatro, afinal? Nada, não tem nada a perder e é um ator frustrado que tem de se contentar em escrever besteiras para os leitores. Toda a película é pincelada com diálogos precisos e algumas tiradas de muito bom humor. Riggan ouve sempre uma voz, que é sua consciência, mas que atribui ao homem pássaro que o recrimina por suas atitudes erradas. No terço final, a imagem do homem pássaro passa a persegui-lo, a fim de que resolva seus problemas existenciais e finque os pés na realidade e no sucesso que tanto almeja e tem talento para tal. Seus devaneios, pairando sobre a Broadway como um pássaro, são os mais intrigantes e os mais preciosos. O filme é como um quadro abstrato de ótima qualidade, que independente do lado que você o coloque na parede ele sempre estará perfeito. Ótimas atuações do ator, ator coadjuvante (Edward Norton) e atriz coadjuvante (Emma Stone), indicados para o Oscar. Diretor, roteiro original, fotografia, edição de som, mixagem de som também entram nesta longa lista de indicações, todas merecidas. Imperdível e 5 estrelas na cotação da revista VEJA.

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