sábado, 31 de janeiro de 2009

FOI APENAS UM SONHO de SAM MENDES














Este ótimo filme, baseado no livro do grande autor norte-americano Richard Yates, e muito bem interpretado por Leonardo DiCaprio (Frank Wheeler) e Kate Winslet (April Wheeler) fala de costumes, relações familiares e desejos, tudo isso com um toque mágico de feminismo. Estamos nos Estados Unidos do pós-guerra, anos 50, onde o sucesso no trabalho e na vida pessoal era exigido, e começavam a existir os condôminos fechados nos subúrbios, com suas casinhas arrumadas e o belo gramado, sem cercas, na frente das casas. O título original Revolutionary Road exemplifica muito melhor a trama. Na primeira cena vemos o jovem casal, ela ainda estudante, em um bar, onde depois de olhares trocados eles dançam apaixonadamente. Na cena seguinte April está em um palco encenando uma peça, com elenco amador, que foi um fracasso. Já casada com Frank, ele vai buscá-la e tece um comentário nada delicado a respeito da peça. April que sonhava ser atriz vê seus desejos irem por água a baixo, quando desestimulada pelo marido, que tenta convencê-la que seria muito mais feliz cuidando dos dois filhos pequenos. Ele seria o provedor e, portanto teria maior poder sobre a família. Era o chefe da casa, como fala inúmeras vezes durante o filme. Eles são considerados pelos vizinhos um casal especial, principalmente pelos Campbells. A esposa inveja-a pela sua determinação e seu marido, Shep (David Harbour) a ama. A corretora que lhes vendeu a casa, Mrs. Helen Givings (Kathy Bates em convincente apresentação) a admira e pede para que receba seu filho matemático e intelectual, John (ótimo Michael Shannon), que se encontra internado em um hospital psiquiátrico, por suas convicções inteligentes, que não seguem o padrão esperado pela sociedade daquele momento. A vida deles é rotineira e igual à de todos os outros casais americanos, com uma usualidade de desesperar. Frank não gosta do que faz, pois seguira exatamente a mesma profissão do pai (vendedor), que considerava de menor expressão e ainda pior, na mesma firma! April, em um instante de grande inspiração, sugere que vendam tudo o que possuem e sigam para morar em Paris, onde Frank havia estado na segunda guerra mundial, e a considerava a única cidade com vida real. Ele se assusta com a idéia, pois ela seria secretária de um grande departamento americano e ele poderia achar o que gostasse de fazer, enfim se descobrir como homem. Esse plano dá novo impulso às suas vidas monótonas e desperta uma grande ousadia em Frank, que sugere uma modificação na empresa, que para sua surpresa é bem aceita pelo presidente, o qual lhe promete promovê-lo e assim ele passaria a ganhar muito mais e ter toda segurança financeira, ou seja, todo controle sobre a família. April é uma mulher inteligente e talentosa, que gostaria de provar a si mesma que poderia ter um futuro profissional à sua frente, como as mulheres de hoje, e não apenas ficar cuidando dos filhos. Ela tem um senão, é afoita em sua meta, pensando que não terá mais nenhuma chance. Frank conta sua experiência com o presidente, mas não revela que deixara em aberto sua resolução. Os preparativos prosseguem e ambos recebem elogios dos amigos. Os três Givings vão almoçar em sua casa e John desafia Frank por sua franqueza em admirar sua mulher e não tanto a ele. Ocorre que April descobre que está grávida e atemorizada conta a seu marido, que não concorda com um aborto sugerido e afirma que gostaria de ter o terceiro filho. April se desespera, pois isso significaria uma nova privação para seus sonhos profissionais e pessoais. Em outra visita John tenta desmascarar Frank e é expulso de sua casa. Sobrecarregada pelo trabalho doméstico interminável e não reconhecido, quer ir para Paris, assim mesmo. Frank tenta convencê-la de que o melhor seria ter a garantia de um ótimo emprego com computadores, que estavam bem incipientes, a ter um filho fora do país. Diante desses fatos ela se vê forçada a concordar diante da realidade, mas não aceita verdadeiramente a situação, que piorara muito para ela. As brigas, antes poucas, passam a ser constantes e Frank não para de argumentar, deixando-a cada vez mais angustiada. Depois de uma disputa muito séria, April se recolhe no bosque, voltando muito tarde, após refletir. Na manhã seguinte, para nosso espanto, ela está calma e prepara um maravilhoso breakfast para Frank, que ao despedir-se, pergunta-lhe se tudo está realmente bem entre eles. Ela fora uma ótima atriz, pois vai direto ao banheiro, em lágrimas, para fazer o aborto tão desejado. Quando começa a sangrar, toma uma decisão correta e chama a ambulância para socorrê-la, como em um aborto natural. Esse terço final do filme é a chave de todo o drama que se desenrola depois dessa decisão pessoal de April. A partir daí o filme toma um caminho dramático com um desfecho surpreendente. Aconselho que a pequena cena entre Helen Givings e seu inteligente marido seja bem observada, pois diz muito sobre o comportamento humano. Vale a pena ser visto, pela estória e pelo desempenho dos atores.
O diretor Sam Mendes pertence ao teatro e foi consagrado por Beleza Americana, sucesso em Oscars. Esse novo filme discute, do mesmo modo, os costumes do país.

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