domingo, 1 de fevereiro de 2009

NINHO VAZIO de DANIEL BURMAN













Este ótimo filme, do jovem diretor argentino de apenas 34 anos, revela o novo cinema argentino. Suas estórias giram em torno do universo familiar, algumas já apresentadas no Brasil. Apesar de sua idade Burman nos coloca em um universo que ainda não é o seu, contudo com grande maestria. A primeira cena nos mostra um grupo jantando em um restaurante. São antigos amigos da faculdade de sociologia de Martha (Cecilia Roth), casada com o dramaturgo Leonardo (ótimo Oscar Martínez). Eles já estão na meia idade, mas cada um reage de maneira diferente diante da situação comum a quase todos na mesa – o ninho vazio do título – que simboliza a saída dos filhos de casa e o momento de confrontação e análise dos cônjuges. Até então, o filme conta, todas as crises conjugais são colocadas sobre os ombros dos filhos. Durante o jantar Martha é cortejada pelos ex-colegas e elogiada. Leonardo, escritor reconhecido e vaidoso de seu talento, fica distante dos assuntos abordados, contudo fixa sua atenção em uma linda jovem que está sentada perto de sua mesa. A única pessoa a lhe interessar é um especialista em neurologia, Dr. Spivack, que também deslocado, lhe conta sobre sua nova pesquisa, em que a mente humana, envelhecida, recorda-se de situações que gostaria de ter vivenciado, mas não as tendo realizado, lembra-se delas como fatos reais. Isso impressiona o dramaturgo. Voltando ao apartamento, este se encontra absolutamente em desordem, pois os dois filhos haviam recebido amigos e a filha havia saído com o namorado, um rapaz judeu, que também escrevia. Ela não voltaria para dormir, no entanto o pai, indignado, resolve esperá-la em sua poltrona predileta e escrever, ignorando as insinuações de sua mulher, desejosa de fazer amor. Na próxima cena, damos um salto no tempo e os três filhos já saíram de casa e eles estão, finalmente, sozinhos tendo que lidar com a pequenez que se instalara em suas vidas. Martha resolve ser ativa e volta a estudar. Ele prefere voltar-se para dentro e analisar o seu cotidiano e sua história atual. Temos duas pessoas morando na mesma casa e dormindo na mesma cama, mas alienadas da vida do outro. Martha parte para a nova vida com facilidade e Leonardo a observa, com a criatividade de um homem que vive de contar estórias. O filme flui com cenas do cotidiano bastante verossímeis, com um leve toque de fantasia, como uma cena em um Shopping, onde é executado o belíssimo bolero de Ravel. Leonardo tem um breve caso com sua jovem dentista e não desiste de seu hobby preferido, o aeromodelismo. Martha se enturma com seus jovens colegas e segue feliz. Contudo, sua filha já casada e morando em Israel, após inúmeras tentativas para que seu pai leia e avalie o livro de seu marido, os convida para visitá-los, pois ele ganhara um prêmio pelo romance escrito e que só agora Leonardo se dispusera a ler. Esse quase final de filme é surpreendente e romântico, pois o casal maduro tem a oportunidade de se conhecer melhor, isso mesmo, pois alguns casais moram uma vida inteira juntos e mal se compreendem, se toleram apenas. Essas cenas finais são muito bonitas e revelam as 36 cores do deserto, segundo o diretor. A atuação de Martínez é muito boa e todo elenco revela-se competente. Se você tem mais de 50 anos, não deixe de vê-lo!

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