segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

DÚVIDA de Patrick Shanley
























Esse filme forte e econômico, dirigido pelo próprio escritor da peça, fala sobre assuntos complexos dos anos sessenta. O preconceito racial, combatido por Martin Luther King e pelo presidente John Kennedy, o início da abertura da igreja católica, o falso testemunho e o poder, assuntos muito relevantes até hoje. Os atores Philip S. Hoffman, Meryl Streep, Amy Adams e Viola Davis concorrem ao Oscar de 2009 com esta película. Iniciamos no bairro nova-iorquino do Bronx, em 1964, quando o padre Flynn (ótimo P. Hoffman) faz mais um dos seus claros e famosos sermões. Sua paróquia é pobre e composta por irlandeses, italianos e negros. O colégio St. Nicholas, onde trabalha, recebe seu primeiro aluno negro, Donald Muller, por quem ele nutre um cuidado especial devido à sua fragilidade e cor de pele. Daniel é o coroinha dessa missa, juntamente com um menino branco, sendo que os dois garotos se dão muito bem. O sermão fala do assassinato de Kennedy e do sofrimento que isso provocara, formando uma corrente de dor pública, que com seus elos interligados facilitaria a superação dela. Fala também do sofrimento privado, quando não temos ninguém para nos consolar mas que isso, em si, já significava que não estávamos sozinhos, pois todos têm seus problemas pessoais. Os fiéis presentes assimilam muito bem esses esclarecimentos, mas dentre um grupo de freiras, a diretora Aloysius (fabulosa Meryl Streep em sua 15ª indicação para o Oscar) não concorda com esse raciocínio e sai em busca de alguma falha de caráter desse jovem padre carismático e moderno. Incumbe uma das irmãs, a noviça Jones (Amy Adams) para vigiar o garoto negro. Donald Muller é chamado à sacristia por Flynn, durante uma de suas aulas e volta desconcertado, com hálito de álcool. A inexperiente professora relata o caso à sua superiora, que exige uma confrontação entre os dois professores. Inicia-se aí um dos momentos mais constrangedores do filme, quando Flynn, apesar de ter prometido segredo ao garoto e ser superior hierárquico a Aloysius, é coagido a relatar o que acontecera: ele bebera o vinho da missa e tem testemunhas para comprová-lo. Não ocorrera um abuso sexual como insinuado pela diretora. Jones aceita a desculpa, mas Aloysius, com sua mente medieval, inquisitória e sua ambição pelo poder e verdade, a seu modo, fez com que Flynn cometesse uma indiscrição, um pecado que será discutido no próximo sermão. Flynn fala sobre a dúvida que pode pairar sobre qualquer pessoa e as implicações e direções que podem tomar, quando se está certo de que algo aconteceu e queremos prová-lo a qualquer preço. Aloysius escuta petrificada. Sua face é uma máscara e seu olhar desafiador um instrumento de tortura para qualquer aluno, freira ou pessoa que se coloque diante de suas ambições e métodos. Duas cenas são exemplares, a sala dos padres muito alegre e descontraída e a sala das freiras, onde a superiora intimida as idosas e doentes, assim como as jovens. O local é gélido e sem vida. Em sua busca pela “verdade” e poder ela não só persegue Flynn e Donald, como tenta aliciar a senhora Muller (magnífica Viola Davis) para essa sórdida história. Intimando-a a comparecer ao colégio para falar sobre seu filho, essa mulher pobre, forte e pragmática, não se deixa intimidar e protege seu filho, a fim de que possa terminar o ano em uma boa escola, para ter um futuro melhor e sair do jugo de seu pai que o espancava. O abuso sexual de Flynn contra o menino é uma questão fechada para ela. Para expulsá-lo da escola cometeria qualquer falta que lhe desse sustentação, e assim, em um duelo de Titãs (a melhor cena do filme), ela subjuga Flynn e sai vitoriosa! O espectador fica incomodado com a controvérsia e mais atento ao desenrolar da trama. Em seu último sermão, expulso mas não derrotado, Flynn despede-se de seus párocos, aludindo mais uma vez sobre a dúvida. Comunicativo, desce do púlpito e aperta a mão de cada um deles. Nesse final de filme, Irmã Jones chega da viagem que fizera à sua família e vendo Aloysius solitária sentada em um banco, sob a neve, questiona sobre a decisão sobre o caso Flynn. Ela saíra vitoriosa. Ocorre que para alcançar a “verdade” distanciara-se de Deus, mentindo para Flynn, a fim de obter uma nova visão sobre o jovem padre. Seria desnecessário, pois por trás de todo déspota e inquisidor[1] existe sempre um mau-caráter.
[1] Juiz da Inquisição. Antigo tribunal eclesiástico com o fim de punir crimes contra a igreja católica.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei!!!! Não estou indo ao cinema(infelizmente).Com esse blog posso até escolher com mais cuidado os filmes!!!! Obbrigada!Assim q puder irei ver sem falta"A duvida"