domingo, 8 de fevereiro de 2009

O LEITOR de Stephen Daldry



















Esse ótimo filme, baseado no livro do escritor e filósofo alemão Bernhard Schlink, ambienta-se no pós-guerra alemão dos anos 50. Como na película Dúvida o romance resvala no problema de consciência e culpa – a “culpa alemã” que acometeu muitas pessoas após o desfecho da segunda guerra mundial. A primeira cena, em 1995, nos mostra mãos que seguram um porta-óvos e uma xícara de café. Então... o maravilhoso Ralph Fiennes, como o advogado Michael, que deverá buscar sua filha, jovem adulta, que virá visitá-lo. Vamos para 1958, em uma cidade da Alemanha, Neustadt, onde mora Michael (expressivo David Kross) aos 15 anos. Ele passa mal em um bonde, mas é socorrido por uma mulher bela e misteriosa, Hanna (ótima Kate Winslet), mais velha do que ele. Após se recuperar da escarlatina que o contagiara, leva-lhe flores em agradecimento por seu gesto. A verdade é que Michael estava atraído por ela e assim começam uma relação amorosa única. Hanna, apesar de fria e rude por suas dificuldades, ensina-lhe os segredos do sexo, paixão, realidade e objetividade; em troca o garoto lhe oferece sensibilidade, juventude e cultura. Esse jovem está muito interessado em literatura e questionado pela amante sobre suas aulas, começa a levar-lhe ótimos livros que vão de Homero a Anton Tchekov, como o conto A Mulher e o Cachorro. Ocorre que ela não quer lê-los pedindo para que ele o faça, pois sua interpretação é muito convincente. Entre o casal se estabelece uma rotina de sexo e leitura, que a excita, levando-a as lágrimas de prazer e encantamento. Esse romance dura todo o verão, quando passam um fim de semana juntos, pedalando pelas maravilhosas paisagens dos campos alemãos. Lá, em uma pequena igreja Hanna se familiariza, pela primeira vez, com o couro de crianças, que cantam uma peça clássica. Ele não sabe nada sobre ela, a não ser seu nome e que trabalha como cobradora de bonde. Dedicada em seu serviço, lhe é oferecida uma promoção para o escritório. Nesse ponto do filme, o espectador atento desconfia que ela tenha um grave segredo pelo qual sente uma profunda vergonha, pois ela some, abandonado o adolescente desesperado. Pulamos para 1966, quando Michael já é um estudante de direito e participa de um seminário sobre o julgamento de seis mulheres, acusadas de matar outras 300 em Auschwitz. Durante o julgamento ele a revê, pois era uma das guardas da SS, acusadas de homicídio. No decorrer do processo ele tem a oportunidade de escutá-la e tomar conhecimento do segredo que ela tenta esconder a todo custo, causando-lhe a pena máxima de prisão perpétua. Hanna era a típica alemã simples, que acredita na execução perfeita da função que lhe fosse dada, sem ter maiores níveis de consciência e sabedoria. Constrangido, revoltado e também portador da “culpa alemã”, Michael vê-se agoniado com sua atitude que o perseguirá até o final da história. Sua vida como jovem estudante nos é revelada, assim como suas dúvidas e relacionamentos com a família e com um casamento que dura muito pouco. Adulto resolve saber sobre sua amada, e certo de saber a razão de sua pena máxima, envia-lhe um gravador e fitas gravadas sobre os livros que lia para ela. A expressão de alegria e alívio de Kate talvez valha sua indicação como melhor atriz. Passa a ser outra pessoa, mais centrada em seu processo de maturidade e humanidade. Esse tempo consumido por Michael em suas gravações será parte de sua remissão. Com a absolvição de Hanna, após vinte anos de bom comportamento, o tom do filme sobe e nosso interesse também, pois é quase uma estrada sem saída. O final mostra-se didático, pois estar em sua pele ninguém gostaria.

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