terça-feira, 14 de abril de 2015

14 ESTAÇÕES DE MARIA




KREUZWEG DE DIETRICH BRÜGGEMANN, ALEMANHA, 2014, 107 MIN. DRAMA.
ELENCO:
LEA VAN ACKEN – MARIA
MICHAEL KAMP – JOVEM PADRE
Ganhador do Urso de Prata na Berlinale de 2014, esse ótimo filme dirigido firme e friamente por Dietrich Brüggemann discorre sobre uma adolescente de 14 anos, seguidora de um catolicismo fundamentalista do Sul da Alemanha, que nega a religião católica moderna. Seus fiéis deveriam rezar a missa em latim e apresentar provas de iluminação pessoal e ajudar a salvar quem não a possuísse. O filme faz um paralelo com a via-crúcis de Jesus, quando foi crucificado. A vida da jovem Maria (Lea van Acken) será estruturada nessas 14 estações. O filme começa com um padre argumentando com seus alunos sobre o rito da crisma, quando se tornariam adultos e responsáveis pelas próprias almas e pela salvação de outras pessoas. Para Maria, beata que é, isso se tornaria um desafio e tanto, pois gostaria de ser Santa, sacrificando a vida para a recuperação do irmão caçula que é autista. Por outro lado, o jovem padre pode ter sido o causador de uma severa anorexia que se apoderará de Maria, insinuando que se ela não comesse um pedaço de pão que tocara com as mãos, seria o princípio de uma vida cheia de luz e abnegação. Sua família extremista e severa, apesar de se vestir com roupas atuais, preserva os costumes do tempo de Cristo. Maria estuda em uma escola onde sofre bullying por sua religiosidade e por sequer querer compartilhar das aulas de educação física, pois o fundo musical seria satânico de acordo com sua igreja. Tudo corria normalmente e ela era uma das melhores alunas até conhecer um garoto de sua idade e de outra classe, o qual se interessa por ela e esse sentimento é recíproco. Sua desumana mãe descobre a nova amizade e aí começa seu calvário. Muito introspectiva e controlada ao máximo pela mãe, confessa-se para a crisma e, quando o padre a questiona mais, admite ter mentido para os pais.  A cada novo movimento de sua vida temos uma pausa com a devida nomeação da via-crúcis. Desesperada para não ter pecados e assim salvar seu irmãozinho, abre mão da companhia do garoto e passa a jejuar e expressar outros atos de auto sacrifício que não são percebidos pela família. No dia da crisma, já bastante desgastada e tensa, antes de receber a hóstia desmaia e é levada para o médico. Esse homem revela-se bastante preocupado com seu estado geral, entretanto a mãe não concorda com ele, o que força sua ida para a UTI. As duas estações finais, a crucificação e a volta ao colo da mãe, são as mais comoventes. Lea van Acken tem uma interpretação tão impressionante que chega a causar frisson. O final, apesar de já prenunciado desde o início, é quase patético, de tão verdadeiro e arrebatador.  O diretor lança com o filme um tremendo ataque ao atual extremismo religioso e político que se espalha pela Europa, Oriente e outros continentes. Dietrich teve a oportunidade de conhecer a real seita religiosa e muita competência ao expor sua opinião de maneira tão criativa e clara. Sua irmã caçula ajudou na direção. Ótimo.

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