KREUZWEG DE DIETRICH BRÜGGEMANN, ALEMANHA, 2014, 107 MIN. DRAMA.
ELENCO:
LEA VAN ACKEN – MARIA
MICHAEL KAMP – JOVEM PADRE
Ganhador do Urso de Prata na
Berlinale de 2014, esse ótimo filme dirigido firme e friamente por Dietrich Brüggemann
discorre sobre uma adolescente de 14 anos, seguidora de um catolicismo
fundamentalista do Sul da Alemanha, que nega a religião católica moderna. Seus
fiéis deveriam rezar a missa em latim e apresentar provas de iluminação pessoal
e ajudar a salvar quem não a possuísse. O filme faz um paralelo com a
via-crúcis de Jesus, quando foi crucificado. A vida da jovem Maria (Lea van
Acken) será estruturada nessas 14 estações. O filme começa com um padre
argumentando com seus alunos sobre o rito da crisma, quando se tornariam
adultos e responsáveis pelas próprias almas e pela salvação de outras pessoas.
Para Maria, beata que é, isso se tornaria um desafio e tanto, pois gostaria de
ser Santa, sacrificando a vida para a recuperação do irmão caçula que é autista.
Por outro lado, o jovem padre pode ter sido o causador de uma severa anorexia
que se apoderará de Maria, insinuando que se ela não comesse um pedaço de pão que
tocara com as mãos, seria o princípio de uma vida cheia de luz e abnegação. Sua
família extremista e severa, apesar de se vestir com roupas atuais, preserva os
costumes do tempo de Cristo. Maria estuda em uma escola onde sofre bullying por
sua religiosidade e por sequer querer compartilhar das aulas de educação
física, pois o fundo musical seria satânico de acordo com sua igreja. Tudo
corria normalmente e ela era uma das melhores alunas até conhecer um garoto de
sua idade e de outra classe, o qual se interessa por ela e esse sentimento é recíproco.
Sua desumana mãe descobre a nova amizade e aí começa seu calvário. Muito introspectiva
e controlada ao máximo pela mãe, confessa-se para a crisma e, quando o padre a
questiona mais, admite ter mentido para os pais. A cada novo movimento de sua vida temos uma
pausa com a devida nomeação da via-crúcis. Desesperada para não ter pecados e
assim salvar seu irmãozinho, abre mão da companhia do garoto e passa a jejuar e
expressar outros atos de auto sacrifício que não são percebidos pela família.
No dia da crisma, já bastante desgastada e tensa, antes de receber a hóstia desmaia
e é levada para o médico. Esse homem revela-se bastante preocupado com seu
estado geral, entretanto a mãe não concorda com ele, o que força sua ida para a
UTI. As duas estações finais, a crucificação e a volta ao colo da mãe, são as mais
comoventes. Lea van Acken tem uma interpretação tão impressionante que chega a
causar frisson. O final, apesar de já prenunciado desde o início, é quase
patético, de tão verdadeiro e arrebatador. O diretor lança com o filme um tremendo ataque
ao atual extremismo religioso e político que se espalha pela Europa, Oriente e
outros continentes. Dietrich teve a oportunidade de conhecer a real seita
religiosa e muita competência ao expor sua opinião de maneira tão criativa e
clara. Sua irmã caçula ajudou na direção. Ótimo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário