segunda-feira, 6 de abril de 2015

O ÚLTIMO ATO DE BARRY LEVINSON





THE HUMBLING, EUA, ITÁLIA, 2014, 112 MIN., DRAMA.
ELENCO:
AL PACINO – SIMON AXLER
GRETA GERWIG – PEGEEN
KYRA SEDGWICK 
DIANNE WIEST
Barry Levinson inspirou-se no melhor autor da literatura judaico-americana, Philip Roth, e seu trabalho The Humbling, para fazer um filme de alta qualidade. Também a opção pelo grande ator Al Pacino foi perfeita pois, tanto na ficção como na realidade, ambos estão com mais de setenta anos. O tema é pesadíssimo e lembra por vezes Birdman. Como é do estilo de Roth seus livros baseiam-se em sua vida privada, por vezes, e por conta de sua idade, cada vez mais fala sobre a velhice e a solidão. Simon Axler é um ator conhecido e respeitado, contudo em seu último trabalho, já em declínio físico e mental, na última cena cai do palco e não lembra direito de suas falas. Depois de tentar suicídio à la Ernest Hemingway é internado em uma clínica psiquiátrica. Ele acredita que o mundo é um palco e as pessoas meros atores. A vida é uma peça de 7 atos e cada um deles representa uma idade. No hospital, conhece uma jovem que quase perdera a razão por ter visto seu marido molestar sua filha. Confusa, pede para que ele mate seu esposo, pois ele fizera isso muito bem em um filme. Apesar de suas explicações, ela não aceita o fato e irá atrás dele até o fim. Quando volta para casa, continua fazendo terapia via Skype. Al Pacino se incorpora completamente em seu papel. Morando em uma casa belíssima no meio de um bosque tem como companheira somente uma diarista que o visita semanalmente. Um belo dia aparece em sua casa, com toda a familiaridade, uma jovem despojada que traz várias coisas para ele, a pedido de seus pais, ex-atores e amigos de juventude de Simon. Ela é lésbica e aos oito anos fora completamente apaixonada por ele com 40, sentimento do qual ainda não se descartou por completo. Simon absorve com alegria essa jovem e chega a comprar roupas mais femininas para ela e começam um desastroso romance. O filme é mesclado com as sessões de terapia para termos um norte sobre sua recuperação. Pegeen é professora de teatro em uma universidade e abandona a ex-namorada (uma jovem negra travesti) para morar com o ídolo. A princípio funciona, apesar da diferença de idade e da decrepitude precoce do protagonista, que não quer voltar ao teatro de modo algum, pois apesar de ter certeza que não se trata de Alzheimer, está tomado por uma inércia desconcertante. Na verdade Pegeen está procurando sua força e talento que já não são como antes. Simon chega a receber a visita dos pais e da mãe, sozinha, que levanta a possibilidade dela ser sua filha. Quando sua situação financeira chega ao mínimo, aceitaria até fazer publicidade, mas seu agente descola para ele representar o Rei Lear de Shakespeare. Uma das melhores coisas desse filme são as várias falas entre os protagonistas que relembram as belíssimas peças do bardo inglês. Com ausências e devaneios ele leva sua vida em frente, mas está absolutamente atemorizado com sua volta artística. O espetáculo acontece com sucesso, mas depois da morte de Cordélia, ele surpreende a plateia com algo muito acima do esperado.
 Ótimo filme que, como todos os últimos trabalhos de Roth, mostra o lado dantesco da velhice que se aproxima, sempre pincelada com episódios doloridos de doenças próprias da idade. Al Pacino está à altura do grande escritor, como o excelente ator que sempre foi. Imperdível.

Nenhum comentário: