quinta-feira, 24 de julho de 2008

Do outro Lado


de Fatih Akin (Auf der Anderen Seite)



Este é um filme de procuras e perdas. Perdas de vidas humanas, mortes. Procuras de pais e filhos.
A primeira cena mostra-nos um lugarejo ensolarado e um pouco decadente, um posto de gasolina e um jovem colocando combustível em seu carro. Pagando cento e trinta liras, sai pela estrada. Aqui é a Turquia. Depois o vemos em um trem, continuando seu destino. Na Alemanha, Bremen, um velho baixo e muito forte anda pelas ruas das prostitutas, parando para conversar com uma que lhe agrada. Fazem amor e ele se apaixona por ela. Ali é turco e ela também. O tempo passa e eles se dão muito bem. Um dia pede que ela vá morar com ele, pois é viúvo desde que seu filho tinha seis meses, e solitário. Pagaria o mesmo que recebe em seu trabalho, mas seria só dele. Essa mulher madura, bela, e forte aquiesce e vão viver juntos. O jovem turco é Nejat e filho de Ali. Ele aceita bem a escolha do pai, apesar de ser um professor universitário, dando aulas de alemão, focado em Goette, em uma faculdade alemã. É culto e ganha bem, sendo isso um feito raro para um filho de imigrante. Ali é aposentado, mas um homem ainda cheio de vida e desejos sexuais. Após um jantar com os três personagens, Ali se embebeda e tem um infarto, ficando preso ao leito de uma UTI. A mulher escolhida não o abandona, tornando-se amiga de seu filho. Ela confidencia que tem uma filha de 27 anos, na Turquia, e não a vê por muito tempo, desmanchando-se em lágrimas de saudades. Quando curado, Ali volta a seu lado. Contudo, seu ciúme com relação ao filho faz com que, numa discussão, ele a esbofeteie, matando-a! Ele é preso por assassinato e o corpo da bela amante é levado de volta para a Turquia, para ser enterrado. É uma cena e tanto, vemos seu caixão ser transportado para o bagageiro do avião. Nejat participa do enterro e conhece a família, levando consigo um retrato dela, decidido a encontrar o paradeiro de sua filha e custear-lhe os estudos. Compra uma livraria alemã em Istambul e passa a morar nesta cidade, sentindo-se bem e feliz. Ayten, filha da recém-falecida, é uma jovem ativista política, militando pelos direitos dos mais pobres de trabalhar, estudar e viver como cidadãos, pois isso lhes é negado pelo governo turco. Após uma passeata que termina em tiros, ela se refugia em um prédio e na laje dele, esconde a arma que trazia consigo. Perseguida refugia-se na Alemanha, a fim de encontrar sua mãe, que ela acredita trabalhar em uma sapataria. Aí, acidentalmente, conhece a loiríssima Lotte, moça livre e estudante de inglês e espanhol. Amantes, passam a viver na casa da mãe, Sra. Staub (magnífica atuação) que gostava de viajar sem destino como a filha, tendo ambas morado na Índia. Nejat procura Ayten em Istambul e Ayeten procura sua mãe na Alemanha. Os destinos estão trocados. Ayten mora por um ano no novo país, mas é presa por estar vivendo lá ilegalmente. O asilo lhe é negado, visto que a Turquia pretende entrar para a União Européia, e ela, supostamente não seria maltratada em seu próprio país. Deportada para a Turquia fica presa do outro lado de Istambul. Lotte, inconformada, vai atrás dela, indo morar em um dormitório na casa de Nejat, pois o conhecera em sua livraria alemã. Conseguindo visitar Ayten no presídio, assume o compromisso de pegar o revolver e dá-lo a um dos integrantes da facção. Isso feito ela é assaltada por garotos que roubam sua bolsa e seu revolver, sendo assassinada por um deles. Seu caixão é levado para a Alemanha. Temos agora duas mortes que definem o ritmo do filme. A primeira de uma turca na Alemanha, a segunda de uma alemã na Turquia, sendo que ambas eram pessoas boas e admiráveis em seu modo. O cenário é o mesmo do caixão sendo transportado para o avião do início do filme. Nejat mantém o retrato de sua ex-madrasta, afixado no painel da livraria, mas ninguém nunca soube dizer quem ela era, nem mesmo Lotte, amante de sua filha, mas que não a conhecia. Com a morte da jovem, sua mãe vem para Istambul saber como ela vivia. Sozinha no quarto do hotel tem uma crise existencial por remorso e saudade da jovem Lotte que, como ela, gostava de viver livremente. Fica hospedada no mesmo local onde a garota morava, na casa de Nejat, passando a morar em Istambul, onde se sente bem. Querendo realizar o sonho da filha, procura Ayten a fim de tirá-la da prisão. Ayten ao vê-la, pede perdão, sentindo grande culpa pela morte de sua querida amante. Finalmente livre volta à vida normal, mas com outra concepção. Nesse ínterim, Ali já saiu da prisão e é deportado para a Turquia, indo morar no lugarejo que vemos no início do filme, um local paradisíaco, à beira mar. Nejat torna-se amigo da Sra. Staub e ambos rememoram a história bíblica do homem que, para provar sua obediência a Deus, oferece seu filho em sacrifício. Mas Deus faz com que a faca fique cega e no lugar do menino manda sacrificar um carneiro. Apesar das diferentes religiões que professam a história é a mesma. Então a senhora alemã pergunta se seu pai o ofereceria em sacrifício, a que ele responde que essa é uma parábola que sempre o assustou, desde a infância e que perguntando ao seu pai se o faria a resposta foi: “Eu ficaria inimigo de Deus, mas não o ofereceria a ele”. Diante desse fato sobre o qual nunca havia refletido, resolve procurar seu pai, o qual ainda não havia perdoado pelo assassinato. Novamente, a primeira cena nos é mostrada. Em seguida vemos Nejat em busca de Ali que se encontrava pescando em seu barco. Sob o sol quente e o céu azul, sentado na macia areia da praia do mar Negro, diante do oceano de águas calmas e límpidas, Nejat espera pela chegada e reconciliação com seu amado pai.

O diretor é de origem turca, porém nascido na Alemanha. Com este belo filme expõe os estigmas dos dois países e as dificuldades dos turcos que imigram para a Alemanha, se sentindo afinal sem pátria. Os atores são ótimos apesar de não serem conhecidos no Brasil. São eles: Baki Davrak, Hanna Schyguila, Tuncel Kurtiz. As paisagens são compensadoras. Vale a pena ser visto.

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