quinta-feira, 17 de julho de 2008

LadyChatterley




de Pascale फेर्रण


Lady Chatterley, filme dirigido por Pascale Ferran e baseado no romance de D.H.Lawrence, escrito em 1928, nos “seduz”. Com uma fotografia belíssima dos campos ingleses com suas casas peculiares, suas flores silvestres multicoloridas, seus lagos e riachos de água cristalina e seus habitantes típicos de todas as classes sociais, desde os aristocratas até serviçais e trabalhadores enegrecidos das minas de carvão, muito exploradas na época devido à revolução industrial do século XX. As greves grassavam em virtude do péssimo ambiente de trabalho e às reinvidicações trabalhistas. O socialismo parece ser uma saída para aquele tempo.
Nas primeiras cenas, nos deslumbramos com a paisagem do bosque e com a beleza da construção da mansão senhorial do campo mobiliada com ricos tecidos e ornada com pratas de lei e louças caríssimas. Seus proprietários são Mr. Chatterley, que se encontra numa cadeira de rodas devido a graves ferimentos ocasionados pela primeira guerra mundial e sua belíssima esposa de vinte e três anos. Ele depende dela para as mais ínfimas necessidades, desde tomar banho, barbear-se a ser transportado para qualquer lugar. Poderia ter uma enfermeira, mas acha que Constance (ótima Marina Hands) é quem deve ajudá-lo, esse seria seu dever. Realmente ela se desempenha com perfeição, mas a monotonia do serviço doméstico, que ela faz questão de dividir com os serviçais, não é suficientes para uma mulher jovem, sadia e cheia de vida como ela. Em decorrência dessa situação, aparentemente sem saída, adoece gravemente e é levada a um médico em Londres que, após examiná-la acuradamente, conclui que ela está bem, mas precisa mudar totalmente sua rotina de vida, pois esse desgaste pode levá-la a um câncer, como ocorreu com sua mãe. Retornando, aconselhado por sua cunhada, Lord Chatterley cede quanto à enfermeira, uma viúva de quarenta anos, e se adapta muito bem ao novo estilo de vida. As duas mulheres se tornam amigas e a nova ajudante aconselha-a a fazer um passeio até a casa do guarda-caças, pois o local encontra-se repleto de narcisos. O dia está lindo e os pássaros trinando, Constance sai e se emociona, pois faz muito tempo que está encerrada dentro de casa. Ao se aproximar da casa do guarda-caças, se surpreende ao vê-lo lavando-se em um balde, com o torso nu. Cora diante da cena, mas não desvia o olhar nem por um instante, pois se sente curiosa ao ver um físico forte e sadio de um camponês. Quando termina sua toalete, ela bate na porta de sua casa e é mal recebida. Gostaria de voltar mais vezes, pois é um lindo local com paisagem verde ao fundo e diversas aves, como faisões, encomendados pelo marido para o dia seguinte e galinhas de todo porte. O passeio lhe dá outro semblante, agora ela se sente mais revigorada pela proximidade com a natureza, os animais e as flores. Depois de diversas caminhadas para o mesmo local, se sente tão em paz, que resolve ler na porta da pequena cabana de madeira, onde ficam as ferramentas e a ajudar a cuidar das pequenas aves. Pede, então outra chave, para poder vir sozinha e desfrutar daquele maravilhoso sossego. Parkin (excelente Jean-Louis Coull’ch), todavia coloca diversos impedimentos para isso. Ela não desiste e comenta com o marido sobre o fato e ele, sorrindo, acha natural, pois ele é um simples camponês, muito introspectivo, e aquele é seu território, mas se ela fizer questão é só pedir-lhe outra chave. Assim Constance e Jean-Louis começam a ficar mais acostumados com a companhia um do outro e até acham falta desse contato empregado-proprietária, que surge tão espontaneamente, pois ambos gostam da natureza e dos animais. Ele a observa, cautelosamente, enquanto a jovem lê ou trabalha no jardim. Ela mais confiante por sua posição social também retribui a amizade. Certa feita, aproxima-se dele e a atração entre os dois é inevitável, ele um típico trabalhador, forte, sério e sensual, ela uma lindíssima dama, alta, porte esbelto e desprentesiosa. Acariciando seu seio, ele a abraça e ela corresponde suavemente. Fazem amor na pequena cabana pela primeira vez. Os dois vestidos, ela sobre um cobertor e lã e ele, contido, se realiza, enquanto ela sorri e quase o acaricia. “É um fato que estava fadado a acontecer” diz ele muito circunspecto. Concordando Constance parte prometendo voltar. Passam-se dias e ela não aparece. Contudo, algum tempo depois, eles se revêem e a atração dele por ela e seu grande embaraço, por ser uma pessoa de classe social baixa, é evidente sendo esse um tabu na Inglaterra até os dias de hoje. O amor é feito como da primeira vez, num misto de cerimônia e desejo. Um terceiro encontro se dá e agora não na cabana, mas sob uma árvore frondosa do bosque, quando ele se senta em cima de seu casaco e ela no seu colo, trajando um elegante tailleur de veludo encarnado, sente prazer pela primeira vez em sua vida. Agora não apenas sorri timidamente, mas o ama de verdade. Essa situação continua e os dois encontram-se felizes. Ele, porque a venera e ela porque gosta dele, mas ainda não sabemos se o ama, realmente.
Nessa época, na Inglaterra, havia um princípio vitoriano que dizia “ladies do not move”, ou melhor, elas estão sempre subalternas aos mandos dos maridos, não tendo liberdade física ou cívica para fazer qualquer coisa, como estudar, trabalhar ou exercitar-se. São aprisionadas em seus sonhos. Ela pede ao seu marido permissão para ir à Natividad, uma região na Reviera Francesa, com seu pai e irmã por cinco semanas. Depois de trocas de pequenas ironias, Lord Chatterley insinua que todos dizem que ela está à procura de um herdeiro para seu título e que ele consente que ela se relacione, durante esse período com algum homem de origem inglesa e de alta estirpe, pois ele aceitará a paternidade da criança. Ela se sente magoada com tal proposição, mas se lembra de Parkins e que é com ele, um plebeu, que quer ter um filho!
Durante um de seus encontros com o guarda-caças, um forte temporal desaba e ela uma naturalista, que não se envergonha de seu corpo, despe-se e vai correr sob a forte chuva de verão, como uma criança. Parkins abserva-a, com amor e deslumbramento por tanta naturalidade e espontaneidade, e se junta a ela, também nu, e os dois têm momentos de alegria e realização. Sabendo que ela vai viajar, fica amuado e inseguro e nessa noite se posta em frente ao casarão para olhar o quarto de sua amada, que dormia separada do marido.
Constance tem um imenso desejo de ser mãe, de ter um marido que ame e admire e um lar, onde seja a verdadeira dona. Obstinada segue em viagem, depois de passar uma noite toda na casa de Parkin, em sua cama, como sua esposa. É um relacionamento diferente dos outros, pois os dois se tocam e se olham, com seus corpos nus. Essas cenas são de extrema delicadeza e “cerimônia”, pois nos dias de hoje a sociedade é bem permissiva em questões de amor, sexo e nudez. Tudo é descerrado muito cedo e você perde a beleza da conquista e do reconhecimento mútuos, o que nos faz, sem dúvida, mais cínicos! Antes da viagem, o marido de Constance resolve sair em um triciclo motorizado, feito especialmente para ele, para que tenha mais mobilidade e independência. As cenas que se seguem são tristes e patéticas, pois ele, com a determinação que lhe é peculiar, não aceita que o veículo não possa ir aonde ele determinar e depois de inúmeras tentativas de subir em um local íngreme, é empurrado por sua mulher e Parkin. Para seu ego é uma terrível derrota, pois sempre dependerá de alguém. Após esse momento é chegada a data da viagem. Constance mostra-se muito feliz ao embarcar no carro de sua irmã, mas passando em frente ao local onde se tornara, realmente, mulher, agoniada, implora que o carro pare e vai até a querida árvore e, com surpresa, vê que Parkin também se dirigiu para lá. Beijando-o e prometendo voltar e dar-lhe uma pequena fazenda para que possam, quem sabe um dia viverem juntos, a viagem até a Reviera prossegue. Pai e filhas, juntos, fazem com que se fortaleçam os laços de união familiar, ensinados há muito tempo. Constance torna-se, repentinamente, melancólica por saudades de seu amado. Nesse período de férias, recebe muitas cartas de Lord Chatterley, dando notícias sobre sua saúde, seus livros e fofocas locais. Numa delas menciona que o guarda-caças está aturdido, pois sua ex-mulher voltou a morar com ele, tendo sido abandonada por seu atual companheiro. Desesperançada Constance piora, mas recebe uma correspondência da enfermeira de seu marido, dizendo que Parkin está morando com a mãe, pois após o divorcio sofreu uma agressão de bêbados, tendo ferido seriamente a cabeça.
Voltando antes do combinado, encontra seu marido fora da cadeira de roda, com muletas, movendo-se e em ótima saúde e humor! Alegra-se por isso, dando-lhe mais liberdade para resolver seu futuro. Encontrando-se com seu amado, que está dando as chaves de sua casa para o novo funcionário, abraçam-se com certo constrangimento para ele. Ela lhe revela que terá um filho dele e que seu marido vai assumir a paternidade do bebê. Implora para que ele não vá embora e que aceite sua oferta. Depois de refletirem sobre suas condições sociais e emocionais, pois ele é muito sensível e solitário e ela muito segura como mulher, Parkin concorda em aceitar a pequena propriedade e promete esperá-la com fidelidade e paixão, até que ela resolva se quer ou não ir morar com ele. Constance diz que o ama perdidamente e chora quando ele lhe confidencia que ela lhe abriu as portas do mundo, pois antes ele vivia aprisionado e com medo dentro de si mesmo. Ela simbolizava sua CASA, o lugar onde gostaria de estar por toda a sua vida.
Esse filme aborda várias coisas além das comentadas no primeiro parágrafo. A nudez é mostrada pela diretora com pureza e naturalidade assim como as cenas de sexo, que são muito bonitas e discretas. A paixão pela natureza e pela liberdade das mulheres da época é interpretada divinamente por Marina Hands. Sua altivez e postura fazem dela a verdadeira heroína do livro - inteligente e madura. Jean-Louis tem o típico físico dos ingleses atléticos, estatura normal e suas feições são muito definidas e desconfiadas. Ele não baixa a sua guarda e comparta-se com discrição. O filme é contemplativo, as belíssimas cenas são apresentadas sem pressa. Os céus são filmados desde o seu azul ensolarado até, progressivamente, tornarem-se nublados e negros, desabando em tempestades. A representação dos empregados é impecável, enfim você se vê dentro da história e isso é ótimo!

Um comentário:

Anônimo disse...

Não tenho palavras para descrever este trabalho, resumidamente achei maravilhoso. Este texto foi escrito com tanto cuidado e perfeição, que parecia que eu estava vendo cada cena descrita.

Simplesmente adorei.