quinta-feira, 24 de julho de 2008

As Aventuras de Molière




Esse delicioso filme trata de um episódio fictício da vida deste conhecido dramaturgo francês, Molière, cujo nome verdadeiro era Jean-Baptiste Poquelin.
O elenco, pouco conhecido do público brasileiro, é estrelado por Romain Duris, que interpreta o escritor, Laura Morante, dama casada com o rico mercenário Jourdain, interpretado por Fabrici Luchini. A película utiliza-se de trechos de suas obras para adaptá-los ao filme, no intuito de revelar a vida desse mestre do humor satírico e sua crítica à sociedade burguesa renascentista. Seu estilo é ácido e inteligente.
Um grupo de carroções, puxados a fortes e belos cavalos, chega a Paris e dirigi-se diretamente a um requintado teatro. Esses são Molière e sua trupe de artistas que, depois de 13 anos de viagens através das aldeias e cidades da França, chegam à capital, a fim de encenarem uma peça a pedido do rei. Molière insiste em escrever uma tragédia, que não é seu estilo e não fora o encomendado pela alteza, mas acaba cedendo para redigir uma comédia. Seu ponto forte eram as farsas, que agora ele desprezava por não atingirem a alma humana. Debruçando para escrevê-la recebe um recado que uma senhora estaria esperando-o, vendo de quem se trata, precipita-se para visitá-la. Então a história retrocede por 13 anos. O jovem Molière encontra-se falido com sua trupe e, numa taverna enquanto atua, é admoestado por dois fiscais que cobram uma dívida, pela qual é preso. Salvo por um tabelião, deixa seus amigos e se dirige para a rica mansão do Sr. Jourdain, que apesar de casado com uma linda mulher e pai de duas filhas, está apaixonado por uma viúva de vinte anos, com uma vida bastante agitada e aberta a conhecer outras pessoas divertidas. Esse bufão quer se servir do talento do jovem para encenar uma pequena peça escrita por ele mesmo. Para isso Molière se passa por um religioso. Todavia tenta fugir algumas vezes, analisando a péssima qualidade do texto e a personalidade do rico homem. Numa última tentativa, vendo a figura nua da bela senhora Jourdain, resolve ficar e tentar fazer alguma coisa com seu destino. A esposa do rico homem e Molière, depois dos primeiros atritos, passam a se admirar, tornando-se amantes. Ela é madura, linda, conhecedora da dramaturgia e muito mais preparada do que outras mulheres do seu tempo. Sra. Jourdain foi responsável por sua estada, pois seu marido havia avaliado mal a peça escrita pelo jovem. O nosso “fanfarrão” escreve bilhetes apaixonados e envia jóias para sua amada viúva, através de um nobre falido, que jamais os entrega. O filme usa trechos verdadeiros de Molière e os insere nessa comédia de duplo sentido, como se falassem de uma terceira pessoa, que na realidade são elas mesmas, resultando no resgate da atenção de quem a vê. Sr. Dorante é desmascarado por Molière, quando rasga um dos bilhetes, vendo-se abrigado a apresentá-lo a jovem Célimène (Ludvine Sagnier). São seqüências de cenas rápidas e hilariantes, que culminam com a recusa da viúva. Enquanto o Sr. Jourdain está focado somente em sua meta, os novos amantes têm oportunidades únicas de se desejarem e discutirem a arte da dramaturgia. Ele quer que sua adorada abandone tudo e o siga em sua turnê artística, mas o plano é recusado por ela, pois seu lugar é outro, como também seu mundo. Isso fere nosso ainda imaturo e ingênuo artista. Há uma cena especial com dois espelhos. Um para Molière e outro para a Sra. Jourdain. Eles iriam se encontrar à noite, mas resolvem ensaiar o que seria dito e respondido pelo outro, diante de suas imagens. Esse diálogo é travado através dos corpos refletidos no espelho, resultando em cenas bem divertidas. Molière resolve ajudar também a filha e a esposa do Sr. Joudain, pois apaixonado, não quer partir e deixá-las em dificuldades emocionais. Sua filha está grávida e amando um jovem sem título ou dinheiro. Seu pai arranja um casamento com o filho de seu nobre e pobre amigo Durante o que transtorna a filha. Irredutível, Molière constrói uma pequena farsa, com a ajuda da mãe da garota, em que a menina teria sido seqüestrada, no porto, por homens que exigem 30.000 liras. A Sra. Jourdain a interpreta à perfeição, mas aumenta a soma para 50.000 liras, para poder ficar com o restante e ajudar o amante. Essa farsa é desmascarada, casualmente, pela própria filha. Desesperada vê-se, do dia para a noite, em frente de um juiz que oficiará a cerimônia. No momento fatal aparece o mesmo tabelião do início do filme, com uma carta atestando que o Sr. Jourdain perdeu todos os bens em um incêndio. Agora quem não quer o casamento é o ambicioso nobre Durante, que sai com o filho às pressas. Aproveitando o juiz que já fora pago, o pai exige outro noivo, surgindo, para surpresa de todos, o seu amado. O casamento é realizado para que a felicidade seja total, pois a bela senhora só poderia sê-lo ao lado das filhas que adora. Outra farsa também é encenada para que o bufão se saia bem diante da recusa da jovem marquesa. Todos satisfeitos, o filme volta ao início, treze anos depois. A cena é Molière, entrando na casa da senhora que clamara por sua presença. Não é outra senão madame Jourdain, que tuberculosa e no final de sua vida, quer vê-lo uma última vez. Ele se emociona as lágrimas e pede perdão pelo longo desaparecimento. Não há o que ser perdoado, pois ele lhes proporcionou anos de felicidade, com netos, as filhas e o marido, agora redimido. Molière já um artista consagrado e admirado pelo poderoso Luís XIV, volta ao teatro e vê sua peça sendo encenada, através de um fino véu, atrás do qual aparecem somente as sombras dos atores, não numa farsa, mas em uma comédia que toca a alma. Finalmente ele conseguiu inventá-la.

Considerações sobre o filme

Venho gostando muito dos mais recentes filmes franceses. São inteligentes, com ótimas atuações e temas muito interessantes. Molière nasceu em Paris, no ano de 1633 e morreu em 1673, aos 51 anos. Foi Tapissier du Roi, aos 18 anos, cargo associado a valet de chambre, tendo convivido com a realeza. Depois de Luís XIII o teatro entrou em voga. Completou sua formação acadêmica na escola de jesuítas, College de Clermont. Fundou a troupe de teatro L’Illustre Théâtre, que acaba falindo. Assume o pseudônimo de Molière. Em decorrência da falência é preso. Ajudado pelo pai sai da prisão e parte em turnée pelas cidades e aldeias francesas, durante 14 anos. Apesar da preferência pela tragédia, é na comédia que encontra seu sucesso. Aconselhado por Richelieu honrou sua profissão como comediante Tinha o lema “ridendo castigat mores”, ou seja, “rindo se corrigem os costumes” Luís XIV foi amigo e admirador do seu trabalho como o Mestre do Duplo Sentido.

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