quinta-feira, 24 de julho de 2008

Luz Silenciosa de Carlos Reygadas





- Dirigido por Carlos Reygadas

Este é um filme com ritmo e tempo próprios. É um belíssimo filme com enormes imagens, pouco movimento e quase nenhum diálogo – contudo o som é determinante.
A primeira cena do filme é representada por um céu muito escuro pontilhado de estrelas e, à medida que o tempo passa, podemos vislumbrar, primeiro vagamente, depois mais claramente duas árvores frondosas, porém retorcidas. O amanhecer chega devagar com a luz do sol e o azul mais claro, em embate, culminando com um céu claro e ensolarado. Vemos também uma terra árida, o som dos bichos acordando e ao longe os telhados de algumas casas. Um relógio antigo marca seis e meia. Dentro da sala temos um homem sério, de olhos fechados, orando em silêncio. Logo a câmera nos mostra sua mulher e seus sete filhos, à mesa, rezando introspectivamente. Os filhos são desde adolescentes até uma criança de um ano e pouco. O café é tomado com seriedade, todavia o sentido de amor e carinho está presente. A filha mais velha e os outros filhos dirigem-se para a escola. Ester fica com Johan (Cornelio Wall Feher), pedindo-lhe que fique mais um pouco em casa antes de sair. Os gestos e os rostos dos personagens, incluindo os filhos maiores, são contidos e cheios de rigidez e obediência. Johan acaba chorando, mas é um choro de angústia, pelo seu semblante, não um choro de ódio. Trata-se de uma comunidade religiosa menonita, radicada no México, mas de origem alemã. Dedicam-se ao trabalho e aos princípios morais, excluindo qualquer prazer ou desejo. Johan encontra-se com um amigo, passando por enormes campos de milho, em uma oficina. Reprimido, conta-lhe que está se sentindo mal por continuar a amar outra mulher, Mariane, que é a pessoa perfeita e adequada para ele, e não Ester que tanto amou e ainda respeita. Fora um erro de escolha e se sente culpado por trair sua mulher e seus filhos. O amigo argumenta que tal escolha pode ter sido o desejo de Deus. Mais motivado encontra-se com Mariane e o casal se beija prolongadamente, mas refreadamente. Essa será a tônica dos sentimentos de todos os personagens apresentados no filme. Não conseguindo acabar o relacionamento, já no inverno, com o horizonte coberto de neve, aconselha-se com seu pai, que também é o pastor da igreja, como deveria proceder. Sua pergunta o faz lembrar-se de sua própria juventude, quando também se apaixonou por outra mulher, mas sublimou o desejo e afastou-se dela, sentindo um grande alívio e com o passar do tempo a dor fora completamente curada. Johan afirma que sua mulher, a bela e loira Ester, sabe do seu sentimento, desde o início, mas se comporta de maneira resignada e carinhosa. Mariane é alta, magérrima e tem um rosto de águia, é uma beleza estranha, quase feia, mas atraente pelos lindos olhos oblíquos. Ela também está consciente do seu comportamento mas, como seu amante, não consegue afastar-se dele. As cenas e decisões evoluem em tempo lento e pausado. O carinho de Johan e sua mulher pelos filhos é muito grande e uma cena em especial demonstra esse sentimento. Encontram-se dentro de uma represa de água doce rodeada por capim alto. Aí eles nadam e banham seus filhos com alegria. É o único momento em que todos sorriem e se soltam. Resolvido a escolher uma das duas, procura Mariane e fazem amor de um modo delicado, um desabotoando a roupa do outro, com timidez e amor. Ela anuncia que esta será a última vez, pois a liberdade é bem maior do que a paixão. Voltando ao cotidiano de suas vidas, agora verão novamente, o céu está escuro, prenunciando uma tempestade. Ester e Johan partem de carro, apesar do temporal. Durante a viagem, calados, Ester lembra-se de quando adoravam viajar e cantavam o tempo todo e eram tão felizes. Seu marido diz que apesar de se esforçar para deixar Mariane, tinha encontrado com ela mais uma vez, pois seu desejo tinha sido mais forte do que sua promessa. Foi sem dúvida uma afirmação muito dolorosa para qualquer mulher, talvez para aliviar sua culpa , tenha dito uma verdade tão pesada.Ester desolada passa a se sentir mal e pede para que ele pare o carro, pois precisa sair. A chuva não a impede de caminhar até uma árvore e lá se recostar e chorar de maneira intensa e muito sofrida, acabando por dobrar-se de dor no chão encharcado. Johan, depois de longo tempo, a procura e a encontra desmaiada. Levando-a até seu carro, paralisado é socorrido por dois mexicanos. No hospital, recebe a notícia de que ela morrera, em conseqüência de um enfarte coronariano. Seu corpo é levado para casa. Ele é banhado, acariciado por sua mãe, sogra e filha mais velha. Seus cabelos são penteados, as unhas cortadas e a pele massageada com finos óleos. Pronta é levada por seu marido à uma sala completamente branca, sendo o único elemento de cor um tapete persa vermelho sob o esquife, ladeado por dois castiçais altos de prata. Sua roupa é branca, assim como o lençol que a reveste. A família toda, inclusive os primos do norte e a comunidade encontram-se presentes. A culpa e o desespero de Johan são autênticos e sinceros. Sua filhinha de 7 anos pergunta-lhe se morrer é como dormir sem acordar, como sua avó cantara-lhe. Respondendo que sim, afasta-se do local, deparando-se com Mariane, que quer ver o corpo de Ester. A sós com a outra mulher falecida, fita-a longamente, terminando por beijá-la na boca. Temos a impressão que algo brilha em seu rosto inerte e morto como uma lágrima. Depois ouvimos uma respiração e finalmente Ester abre os olhos e fita Mariane, no momento em que suas duas filhas pequenas entram na sala. As crianças recebem o milagre como algo natural e começam a conversar com ela sobre os preparativos do enterro. Mariane, feliz e livre, já havia saído. O mesmo velho relógio, que estava parado, é dado corda e recomeça seu tique taque, como um símbolo do início de uma vida nova. As meninas chamam o pai desolado para falar com mamãe que já havia acordado! Sim, acaba com essa cena, o que preserva a beleza do filme. Você imagina o que ocorrerá em seguida. O filme termina com o mesmo céu azul ficando cada vez mais escuro, as mesmas árvores frondosas e retorcidas, os sons dos bichos se recolhendo e finalmente aquelas maravilhosas estrelas cintilando. Os artistas desse filme não são profissionais, retratando fielmente os costumes do lugar e falando correntemente o idioma. Isso só acrescenta fidelidade e credibilidade à obra. Imperdível para quem aprecia temas intimistas e acredita na força da liberdade. Será? Foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro.






Os Menonitas (ou Mennonitas) são um ramo dos
Anabatistas, movimento religioso surgido na Europa na época da Reforma.
O testemunho pessoal e a
perseguição religiosa levaram os anabatistas e a nova doutrina a diferentes países da Europa, surgindo inúmeras igrejas inicialmente na Suíça, Prússia (atual Alemanha), Áustria e Países Baixos. Neste último, um dos grandes líderes anabatistas foi Menno Simons (1496-1561), cuja influência sobre o grupo foi tão profunda (moderada para alguns) que seus adversários passaram a chamar aos anabatistas de "menonitas".
O principal ponto de discórdia entre os menonitas e seus perseguidores era o
batismo infantil. Os menonitas acreditam que a igreja deve ser formada a partir de membros batizados voluntariamente. Isso não era tolerado pelo Estado, nem pela igreja católica nem pela igreja protestante oficial da época.
Os menonitas tiveram durante a sua história diversos pontos de discórdia entre si o que sempre acabou levando a divisões e novas denominações entre eles, como por exemplo os
Amish.
Durante o
século XVI os menonitas e outros anabatistas foram duramente perseguidos, torturados e martirizados. Por isso muitos deles emigraram para os Estados Unidos, onde ainda hoje vive a maior parte dos menonitas. Eles estão entre os primeiros alemães a imigrarem para os Estados Unidos.
Em 1788, a convite de
Catarina, a Grande, imperatriz da Rússia, agricultores menonitas da Prússia (atualmente Alemanha e Polónia) emigraram para Chortitza (em 1789) e Molotschna (em 1804) no sul da Rússia (atualmente Ucrânia). Com o passar do tempo, por escassez de terra e outros motivos, surgiram muitas outras colonizações menonitas que lutaram pelo seu bem-estar espiritual, cultural e material em diversas regiões da Rússia Europeia e asiática.Outros imigraram para as Américas.

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