quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Das Leben der Anderen idealizações



De Florian Henkel Von Donnersmark

Adoro cinema. Por duas vezes seguidas, assisti a filmes que se referem às idealizações pessoais, embora muito diferentes. Um é o do título e o outro O Assassinato de Jesse James... As convicções do ser humano que mudam sob determinadas circunstâncias são, quase sempre, muito saudáveis O Assassinato de Jesse James é um filme de expressões fortes, este é um filme mais difícil, pois o protagonista, um espião comunista (Ulrich Muhe) consegue interpretar, magnificamente, com pouquíssimos movimentos faciais um insensível agente comunista. O cenário é a Berlim oriental de 1984. Em pleno regime comunista, com a polícia política Stasi e seus homens que controlavam e espionavam tudo e todos. Gerd Wieler (Ulrich) ministra aulas para jovens espiões. Suas regras são duras e desumanas, como observa um de seus alunos, mas o que importa para ele é um comportamento rígido e “patriótico”. Designado para vigiar um grande dramaturgo alemão, que é lido pelas duas Alemanhas, oriental e ocidental, e sua namorada, a maior atriz de teatro do momento (Christa), mostra-se duro e pragmático. Esse caso é uma questão pessoal. Após ver uma peça do escritor, Georg, e, furtivamente, o relacionamento amoroso e gentil com sua namorada, deduz, talvez por inveja, que há alguma coisa reacionária no ambiente dessas pessoas envolvidas com a arte. As cenas que se sucedem, mostrando uma Alemanha cinzenta e empobrecida, tanto intelectualmente como financeiramente pela falta de liberdade de expressão. Esses fatos fazem-nos refletir e emocionar. Os olhos de Wieler são o principal elemento condutor do filme. Sempre de um azul frio e insensível. Durante as escutas e gravações da vida do casal e seus amigos, alguma coisa muda na sua essência. Ao tomar contato com um mundo mais humano e sensível ele, um homem fiel à sua honestidade e inteligência, passa a moldar inconscientemente seu comportamento, influenciado pelos vigiados. Torna-se tão próximo a eles que chega a pegar, fortuitamente, um livro de Brecht do estúdio de Georg Dreyman, o lendo com intensidade e prazer. Outra bela cena do filme é quando desesperançado o dramaturgo toca de maneira apaixonada a Sonata Para Um Homem Bom de Beethoven e Wieler, na escuta, emocionado fica com os olhos marejados de lágrimas. A partir desse momento ele não pode mais se situar numa posição de puro opressor. Outros fatos, como corrupção e achaques dos poderosos do governo, colaboram com sua nova atitude. Gerd finalmente opta pela arte e pela liberdade, auxiliando, anonimamente, seus oprimidos. Isso lhe custa seu cargo e sua vida, indo trabalhar no mais baixo escalão do partido. Cinco anos depois cai o muro de Berlim. Georg consegue examinar os documentos sobre seu caso e descobre que foi salvo por seu espião. Comovido, sai à sua procura. Ao encontrar seu benfeitor em situação tão precária não o aborda. Algum tempo depois, Gerd, ainda como um trabalhador muito simples, passa por uma grande livraria e vê um cartaz do mais novo livro de Georg intitulado “Sonata para um Homem Bom”. Ao comprar o livro, Wieler folheando-o, encontra uma dedicatória que o comove profundamente, fazendo valer a pena o fato de ter vivido em consonância com sua consciência. Era “Em homenagem a GW”. Tributo maior seria difícil.
Ganhador do Oscar de produção estrangeira de 2007 é dirigido, magistralmente por Florian Henkel Von Donnersmark.

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